John McAfee: “Nós vamos ferrar com o futuro, mas ainda será melhor do que o que temos hoje.”

John McAfee, apesar de ser uma figura controversa, vem chamando atenção no mundo da criptomoeda. Mundo este que parece fasciná-lo, provavelmente por conta de seu gabarito em programação e segurança cibernética, que lhe dão um olhar único sobre a tecnologia descentralizada e o que ela representa para o mundo.

O Cointelegraph entrevistou o guru da cibersegurança durante o Cruise Asia, onde o mesmo falou sobre como busca as moedas para promovê-las, se há algum arrependimento em relação a elas e, segundo ele, porque o Blockchain é a melhor coisa que já aconteceu à humanidade. Você confere abaixo a entrevista na íntegra.

Cointelegraph: Você já tem 700 mil seguidores no Twitter. Você percebe o quão grande é a sua influência no mercado da criptomoeda? Acha isso positivo?

John McAfee: É claro! Quero dizer, para a comunidade da criptomoeda, este é um número bastante grande de seguidores. Mas não é só isso. Eu também falo de todas as grandes conferências, sou amigo íntimo do Jihan Wu da BITMAIN, o principal fabricante de, praticamente, todos os mineradores de Bitcoin. Sou amigo também do Roger Ver e do Brock Pierce, que é meu camarada de balada. Me sentar com Roger Ver ou Jihan Wu e ainda falar sobre Bitcoin Cash é ser muito, mas muito mais influente do que tuitar para 700 mil pessoas.

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Cointelegraph: Como você decide as moedas que serão promovidas por você? Como você faz suas pesquisas?

John McAfee: Em primeiro lugar, vejo se possuem a capacidade de realmente produzir o que elas dizem. Você pode desenvolver o produto em tempo hábil? Você tem uma equipe especializada que entende de Blockchain, o software e o mercado? Mas, o mais importante, é ser algo que eu realmente gostaria de usar. “Eu amaria usar esse programa!”. Ok, então vou pagar um dólar para obter as informações do aplicativo.

O mesmo vale para as moedas. Quero dizer, eu tive muitas casas que não usavam eletricidade. Não há um pesadelo maior do que ter mais eletricidade do que você pode usar e isso vai para o lixo; ou não ter o suficiente. Então, e se eu pudesse transferir de volta para a empresa de eletricidade através de tokens? Ou alguém, em algum lugar, tenha acesso para me permitir comprar também? Quem não gostaria dessa facilidade? Então, já que é algo que eu quero e alguém consegue fazer, é uma ótima ideia! É útil para a sociedade, é algo que eu gostaria de transmitir aos meus filhos. Então, sim! Eu falaria sobre isso. Porque se eu não falar sobre isso, então, quem mais? Ninguém está lendo esses “white papers”.

Cointelegraph: Você avalia as moedas diferentemente com o passar do tempo?

John McAfee: É claro! Todo mundo comete erros. Por exemplo, é possível que digam que uma moeda é uma ótima ideia em seu lançamento e, mais tarde, eles não cumpram a ideia inicial.

Cointelegraph: Já te ofereceram dinheiro para falar de um determinado projeto? Se sim, de qual projeto se tratava?

John McAfee: Sim, já tentaram me pagar, embora eu não vá falar sobre minhas finanças, sobre quem me paga. Eu ajo como se eu mesmo estivesse falando aquelas palavras sobre o projeto e as pessoas ouvem. Aliás, sem querer ofender, eu acho que perguntar coisas como essa para as pessoas é um pouco rude.

Cointelegraph: Você se sente responsável pelo peso das suas palavras e pelo sobe-e-desce das criptomoedas que as seguem?

John McAfee: Definitivamente, não. Vamos imaginar: se eu vejo algo que eu acredito que deveria ser de conhecimento público, eu vou falar sobre isso. Não faz sentido eu ser o único a saber. Eu não quero sussurrar essa informação para os meus amigos, não seria muito pior? O fato das pessoas aumentarem ou diminuírem o valor das criptomoedas com isso é problema delas, não meu. Digo, dê uma olhada na token da Verge (XVG). Eu disse que ela dobraria seu valor nos próximos meses e, bem, ela aumentou seu valor em 1500%.

Não é minha culpa que as pessoas vão e compram essas moedas por 20 centavos.  Eu achei essa quantia altíssima! Não é problema meu, eu só estou recomendando, porque a companhia tem algumas políticas de privacidade para com a moeda e há a possibilidade de que o Protocolo RACE (do inglês, RACE Protocol) seja um marco na área de privacidade. Quando isso vai acontecer eu já não sei, mas com certeza essa moeda não vale o valor que tem neste momento.

Um aviso para outras pessoas: se vocês querem ser gananciosas e desejam olhar para isso tudo como apenas uma forma de ganhar dinheiro, vocês merecem o que venha a acontecer de ruim. Eles poderiam olhar por baixo disso tudo e pensar: “isso é uma revolução!”, diferente de qualquer coisa que o mundo já tenha visto, e então elas esqueceriam do dinheiro. Por que não olhar para a utilidade? Olhar para o poder de uma determinada criptomoeda e imaginar como ela poderia afetar a sua vida e os seus amigos, seus entes queridos, seus filhos. Eu não vou parar de fazer isso. Vocês podem me jogar quantos tomates podres quiserem, me chamar dos nomes que quiserem. Você acha que eu vou me importar do que as pessoas me chamam? Me importar com o que elas dizem sobre mim? Eu não poderia me importar menos.

Cointelegraph: Entendo. Você tem algum arrependimento ou desapontamento em relação às moedas das quais você já falou?

John McAfee: Sim, claro. Eu tenho arrependimentos sobre a moeda FINA. Descobri algum tempo depois que um dos fundadores é membro de uma organização criminosa nigeriana. É difícil saber de tudo até alguém chegar e dizer: “olha, fizemos algumas pesquisas e descobrimos isso”. Imediatamente eu twittei pedindo desculpas e retirando minha recomendação.

Mas isso faz parte dos negócios. Se estamos em uma nova economia, enfrentando novos paradigmas, se eu não escorregar na lama é sinal de que não estou fazendo meu trabalho direito.

Cointelegraph: Qual é o seu conselho mais importante para os investidores de criptomoeda?

John McAfee: Eu não tenho um, porque tudo que eu disser hoje, vai mudar amanhã. Vai ter alguma coisa que substituirá o que eu disse. Eu acredito que o futuro das criptomoedas está nas novas tecnologias das moedas emergentes e nas ideias criativas que estão saindo através de ICOs, e tudo isso está passando batido. As pessoas parecem preocupadas somente em fazer dinheiro: “O Bitcoin vai valorizar ou desvalorizar? Ethereum vai valorizar ou desvalorizar?”. Dane-se isso, essas perguntas não têm nada a ver com a coisa. A coisa tem a ver com o que vem por trás, com o emerge do chão e vai mudar nosso futuro.

Estamos nos esquecendo que esses eventos, essas atitudes, esses produtos e essas criações mudarão nossa vida, nos alterarão culturalmente, e nós precisamos ficar de olho nessas coisas. Se não fizermos isso, as coisas boas passarão desapercebidas e afundarão na lama, junto com o lixo. Esse é o resumo do mar de ICOs.

Nós já sabemos o que é Bitcoin, já sabemos o que é Ethereum. Tudo bem, faça o que você quiser com isso, procure por novas tecnologias dentro dessas áreas. Vai haver um Henry Ford, vai haver um conceito equivalente às ferrovias, vai haver algo que mudará nossas vidas de uma forma tão bela que, se nós deixarmos passar, vamos nos arrepender pra sempre.

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Cointelegraph: A recente queda nos valores do Bitcoin te preocupa, tendo em vista a promessa que você fez caso eles caíssem?

John McAfee: De forma alguma. Quando Jamie Dimon afirmou que Bitcoin era uma fraude, seu valor caiu em torno de 40% em questão de horas. Não me preocupei na época e não estou preocupado agora, já que Bitcoin tem vida própria.

Cointelegraph: O que te levou a fazer esta promessa? (O repórter se refere à promessa que McAfee fez sobre comer o próprio pênis, caso o Bitcoin não chegue a valer 1 milhão de dólares em 2020, que você pode conferir no tweet original)

John McAfee: Eu estava na TV e simplesmente saiu. Eles me perguntaram: “O Bitcoin vai entrar em declínio?”, e eu respondi “eu vou comer minha genitália caso não chegue a 500 mil dólares”, e isso foi quando o Bitcoin valia 4 mil dólares. Desde então a coisa toda foi mais longe do que eu pensei que iria. Como eu vi o aumento no valor, eu reprojetei para 1 milhão de dólares. Vocês vão ver, vai acontecer.

Cointelegraph: Na sua opinião, o que levou o mercado a cair e o que devemos esperar à seguir?

John McAfee: A mesma coisa que levou o Bitcoin a cair da primeira vez, que foi a JPMorgan, um dos maiores bancos do mundo e certamente o maior dos Estados Unidos. Todos os bancos estão apavorados. A carteira de todo mundo é um banco agora e nós não precisaremos mais deles. Todos eles desaparecerão se não fizerem algo.

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Cointelegraph: A sua conta no Twitter parece ser um algo constante de hackers. Como isso acontece?

John McAfee: Minha conta só foi hackeada uma vez. Eu sei exatamente como aconteceu, já que as pessoas responsáveis pelo ataque me contataram. Eles utilizaram uma nova técnica chamada SIM Swapping e, a princípio, eu não achava que eles tinham me hackeado, provavelmente hackearam o Twitter. Mas, na verdade, eles hackearam meu celular e, usando engenharia social, ligaram para vários locais passando-se por mim e pedindo para trocar minha conta da AT&T para algo criado por eles, afirmando que eu teria comprado um novo chip.

Com a minha conta da AT&T eles entraram no Twitter e, ainda se passando por mim, disseram que esqueceram a senha e pediram que ela fosse enviada ao meu telefone, que na verdade era um dispositivo deles. Eles mudaram minha senha e ficaram logados no meu Twitter por cerca de duas horas e meia enquanto eu tentava recuperar minha conta, foi quando eu finalmente consegui hackear meu caminho de volta pelo meu e-mail. Eu nunca tinha ouvido falar dessa técnica antes, foi quando eu descobri que não era o Twitter, mas a AT&T. Eu fiz uma reclamação e eles não se importaram, então eu tirei a autenticação em dois passos.

Sem ela, eles nunca teriam me hackeado. O que costumava ser a melhor forma de proteção, tornou-se a pior, pois se o seu número aparece lá, eles consegue pega-lo. Se eles não têm o seu número, eles não podem enviar o código a lugar algum, e eles precisarão descobrir minha senha, o que é impossível.

Cointelegraph: Como você entende o cerne da filosofia por trás das criptomoedas?

John McAfee: Bom, o cerne da filosofia é um dos maiores do mundo: vamos tirar o poder centralizado das agências! Quando o poder coalesce, quando ele é comprimido em uma grande entidade, ele sempre se torna um agente corruptor. E o poder sempre corrompe, seja você uma pessoa ou uma corporação. Então, o que o blockchain faz é tirar o poder das mãos destas agências e distribuir entre nós. Isso quer dizer que toda a estrutura da civilização sofrerá um processo de rebobinamento e será remontada sob a forma que deveria ter tomado desde o início: nós, como pessoas, tendo nossa liberdade, nosso poder.

Não ter que pedir sua permissão ou a permissão do governo para fazer algo, como mandar ou receber dinheiro de alguém, ou comprar algo que não machuque você ou minha vizinhança. Por que diabos eu teria que pedir permissão a alguém para fazer algo? É isso que está acontecendo, estamos entrando em um mundo onde não serão necessárias permissões, quando você atingir a maturidade, independente do lugar, você se tornará um adulto, você se tornará seu próprio mestre.

Você não precisa pedir a permissão de ninguém. Essa é a mudança e é isso o que vai acontecer com este mundo, dando-nos a chance de criar o Éden, de criar a perfeição. Nós vamos ferrar com isso, nós sempre ferramos, mas mesmo ferrando tudo será melhor do que o que temos hoje.

Cointelegraph: Como você vê o futuro da criptoindústria?

John McAfee: Vai explodir. Digo, nós estamos vivendo sua infância agora. Como eu disse, todo aspecto da vida está recebendo sua própria moeda e deve ter sua própria moeda, precisa ter sua própria moeda. Toda moeda tem uma função diferente, ou deveria ter, então vai parecer com a internet quando tudo começou. A diferença é que este processo será cem vezes mais profundo, e terá um impacto que não será possível ignorar, você conseguirá prevê-lo até cinco anos antes.

Fonte: The Cointelegraph

Edição: Webitcoin