Criptomoedas estiveram envolvidas em 66% de todas as fraudes de investimento no Reino Unido em 2024

A fraude com criptomoedas representou 66% de todas as fraudes de investimento relatadas no Reino Unido no ano passado, segundo a Polícia da Cidade de Londres e o centro nacional de denúncias Action Fraud.
Esse percentual representa um aumento de 16% em relação a 2023, com vítimas perdendo coletivamente um total de US$ 830,4 milhões (£649 milhões), o que significa que a fraude com criptoativos custou aos residentes do Reino Unido cerca de US$ 549 milhões (£428 milhões).
Embora o número total de denúncias ao Action Fraud tenha caído 7% em 2024, a perda financeira total representou um aumento de 13%.
Os dados também destacam o papel central crescente das redes sociais para os golpistas, já que 36% de todos os relatos mencionaram uma rede social.
WhatsApp, Facebook e Instagram foram as redes mais utilizadas pelos fraudadores, representando, respectivamente, 40%, 18% e 14% de todos os relatos relacionados às mídias sociais.
Também chama atenção o fato de que 2% de todas as fraudes relatadas envolveram a personificação de celebridades conhecidas, com os golpistas utilizando vídeos gerados por IA para enganar as vítimas.
A celebridade mais comumente usada foi o popular consultor financeiro britânico Martin Lewis (44%), seguido por Elon Musk (40%) e o apresentador de TV britânico Jeremy Clarkson (8%).
De acordo com a Polícia da Cidade de Londres, os golpistas estão cada vez mais sofisticados no uso de plataformas digitais e redes sociais.
“Fraudadores de investimento geralmente são extremamente habilidosos no que fazem e apresentam argumentos atraentes e convincentes sobre quanto dinheiro você pode ganhar, geralmente em pouco tempo”, disse o detetive superintendente Oliver Little. “Não se deixe seduzir pela promessa de dinheiro fácil, pois o mundo dos investimentos está longe de ser simples.”
Os dados do Action Fraud sobre o crescimento da fraude com criptomoedas também são respaldados por escritórios de advocacia no Reino Unido. James Pritchard, chefe de acusações privadas do escritório Watson Woodhouse, disse ao Decrypt que sua experiência profissional confirma o aumento de golpes relacionados a criptoativos.
“Sim, acredito que a fraude com criptomoedas está aumentando em frequência”, disse ele. E o que é particularmente interessante no relato de Pritchard sobre criptomoedas, e o motivo pelo qual elas vêm sendo cada vez mais usadas em fraudes, é que o cripto pode borrar a linha entre ficção e realidade.
“Quando comecei minha carreira como advogado, na era pré-cripto, lembro de uma cliente vindo até mim com uma carta que dizia ser de um príncipe africano que precisava da ajuda dela para transferir milhões para o Reino Unido”, contou ele.
Segundo Pritchard, a cliente “estava desesperada” para acreditar que aquilo era verdade, mas era “claramente” um golpe.
“Mas com cripto é diferente”, acrescentou. “Coisas que parecem boas demais para ser verdade já aconteceram.”
Como exemplos, Pritchard cita o caso de Laszlo Hanyecz, que pagou 10.000 BTC por duas pizzas em maio de 2010 (quantia que hoje valeria mais de US$ 770 milhões), e como alguns traders conseguiram lucros “astronômicos”.
“E os golpistas se aproveitam disso”, disse ele. “Eles prometem retornos extraordinários, mas por causa da natureza da cripto, suspeito que as pessoas estejam mais inclinadas a acreditar nessas promessas, ao contrário do que fariam se essas promessas viessem, por exemplo, na forma de uma carta de um príncipe africano.”
Da mesma forma, muitas coisas que seriam consideradas sinais de alerta em investimentos tradicionais — como enviar dinheiro para entidades offshore — são “comuns” no mundo cripto, o que pode enfraquecer ainda mais as defesas contra golpes.
E para os próprios golpistas, a cripto atrai por conta do anonimato e da facilidade de transferências globais, sendo que, segundo Pritchard, a transparência do blockchain nem sempre facilita o rastreamento.
Ele explicou: “Existem especialistas que conseguem rastrear essas transações, mas não é fácil, e mesmo que a carteira seja rastreada até a origem, dependendo de onde o titular final estiver localizado, um processo legal ou ação judicial pode ser extremamente difícil — ou até impossível — de ser conduzido.”
Essa análise sugere que os números do Action Fraud para 2025 podem revelar um aumento ainda maior na fraude com criptomoedas, mesmo com as autoridades do Reino Unido e de outros países se tornando mais capazes de recuperar ativos roubados.
Isso se alinha aos dados globais da Chainalysis, que em seu último relatório sobre crimes com cripto sugeriu que os rendimentos de golpes com criptomoedas podem ter atingido um recorde mundial de US$ 12,4 bilhões no ano passado.
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