Deezer afirma que 70% dos streams de músicas geradas por IA em sua plataforma são falsos

O problema de músicas geradas por inteligência artificial sendo “ouvidas” por outras IAs é tão grave na Deezer que, segundo a própria empresa, até sete em cada dez streams dessas faixas são fraudulentos. A prática pode ser lucrativa: em 2024, um homem foi preso sob a acusação de ter enganado serviços de música em $12 milhões usando esse método.

A gigante francesa do streaming afirmou que músicas geradas por IA representam apenas 0,5% das reproduções em sua plataforma. No entanto, sua própria análise indica que 70% dessas reproduções são fraudulentas.

O surgimento da IA generativa e seu uso generalizado causaram mais do que apenas problemas de violação de direitos autorais para a indústria musical.

Fraudadores perceberam que podiam usar ferramentas de IA para gerar rapidamente dezenas de milhares de faixas musicais. Em seguida, utilizam outras IAs, às vezes em conjunto com humanos reais, para escutar essas músicas e, assim, receber royalties.

Com tantas faixas sendo publicadas, basta um número pequeno de ouvintes constantes por música para que o dinheiro se acumule rapidamente. Isso também ajuda a evitar sistemas de detecção que procuram por números anormalmente altos de ouvintes em faixas desconhecidas.

Thibault Roucou, diretor de royalties e relatórios da Deezer, disse (via The Guardian) que a manipulação de músicas geradas por IA é uma tentativa de “ganhar dinheiro com royalties”.

“Enquanto houver dinheiro [no streaming fraudulento], infelizmente, haverá esforços para lucrar com isso”, afirmou. “É por isso que estamos investindo no combate, porque sabemos que isso não vai desaparecer e precisamos estar sempre um passo à frente.”

A Deezer afirmou que utiliza uma ferramenta capaz de detectar 100% do conteúdo criado por geradores de música por IA como Suno e Udio. Ambas as empresas foram alvo de processos separados por violação de direitos autorais movidos pelas gravadoras Universal Music Group, Warner Music Group e Sony Music Group no ano passado, por coletarem conteúdo protegido da internet sem compensação ou crédito. A defesa das empresas alegou que, embora tenham feito isso, o uso estaria protegido por “uso justo”.

A Deezer afirmou ainda que 18% de todos os envios diários para sua plataforma, cerca de 20.000 faixas, são gerados por IA. A empresa acrescentou que está removendo todo conteúdo totalmente gerado por IA de suas recomendações algorítmicas.

O streaming fraudulento sempre foi um problema nas plataformas de música, mas a IA amplificou o problema de forma gigantesca.

Segundo as autoridades, entre 2017 e 2024, Michael Smith, de 52 anos, morador de Cornelius, na Carolina do Norte, e seus cúmplices inflaram fraudulentamente o número de reproduções de suas faixas geradas por IA em plataformas como Spotify, Amazon Music, Apple Music e YouTube.

A operação de Smith consistia em 52 contas de serviços em nuvem, cada uma com 20 contas controladas por bots, totalizando 1.040 bots. Estima-se que cada conta poderia reproduzir cerca de 636 músicas por dia, acessando as plataformas por meio de VPNs, resultando em 661.440 streams diários. Com uma taxa de royalty de meio centavo por reprodução, os ganhos foram estimados em $3.307 por dia, $99.216 por mês e mais de $1,2 milhão por ano.

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Foto de Marcelo Roncate O autor:

Redator desde 2019. Entusiasta de tecnologia e criptomoedas.