Bitcoin: estagnação de preço e mudanças estruturais no mercado

Bitcoin: falta de direção e efeitos nas opções de longo prazo
A estagnação do Bitcoin está corroendo a demanda altista.
O preço do bitcoin, a maior criptomoeda do mercado, permanece praticamente imóvel há mais de 50 dias, mantendo-se acima dos US$ 100.000 sem uma direção clara. Esse comportamento tem frustrado os investidores otimistas, que esperavam uma valorização mais agressiva no curto prazo.
De maneira incomum, essa estagnação prolongada causou um enfraquecimento do viés de alta nas opções de longo prazo. Os dados da Deribit mostram que as reversões de risco em contratos com vencimento em junho do próximo ano estão praticamente neutras. Em outras palavras, o mercado está precificando calls (opções de compra) e puts (opções de venda protetivas) em níveis muito próximos. Historicamente, o comportamento típico seria uma leve vantagem para as calls, refletindo uma expectativa de valorização futura.
Greg Magadini, diretor de derivativos da Amberdata, comentou por e-mail que a reversão de risco pode facilmente entrar em território negativo. Segundo ele, a persistência de uma volatilidade baixa e a aversão ao risco podem intensificar essa tendência. Além disso, fluxos estruturais institucionais — como a venda contínua de calls e a compra de puts protetivas — reforçam essa pressão negativa nas opções.
As compras recorrentes da empresa MicroStrategy (MSTR) e de outras corporações, apesar de significativas, não têm conseguido equilibrar a queda na demanda à vista por bitcoin. Indicadores de blockchain apontam que carteiras de longo prazo, conhecidas por sua resiliência, estão aproveitando o momento para realizar lucros, o que agrava a pressão sobre o preço.
Eventos Macroeconômicos e Crescimento da Influência Cultural
Parte do mercado agora volta sua atenção para os dados de inflação ao consumidor dos Estados Unidos, que serão divulgados na próxima terça-feira. Essa expectativa ganhou força após a divulgação, na última sexta-feira, de um relatório de empregos melhor do que o previsto, o que reduziu a probabilidade de um corte de juros pelo Federal Reserve já em julho.
Ao mesmo tempo, a cultura pop e a política estão interagindo com o universo das criptomoedas de forma cada vez mais explícita. O rapper Drake mencionou o bitcoin em sua música mais recente, enquanto Elon Musk anunciou a criação do “Partido América”, uma iniciativa política que, segundo ele, apoiará o uso do BTC. Esses episódios, embora pareçam anedóticos, indicam uma mudança no discurso público em torno das criptomoedas.
Para Mena Theodorou, cofundadora da corretora Coinstash, esse tipo de manifestação cultural ajuda a expandir a aceitação popular do bitcoin. Em suas palavras: “Não se trata apenas de endossos de celebridades. São indicadores do deslocamento da janela de Overton. Quando artistas e empreendedores mencionam o BTC, isso molda a confiança dos investidores ao longo do tempo.”
Iniciativas Regulatórias e Técnicas Reforçam o Cenário Global
Em paralelo, desenvolvedores da rede Ethereum propuseram a EIP-7983, uma nova proposta técnica para limitar o consumo de gás em transações. A iniciativa, liderada por Vitalik Buterin e pelo pesquisador Toni Wahrstätter, visa tornar a rede mais resistente a ataques de negação de serviço (DoS), além de oferecer mais previsibilidade nos custos de transação, algo essencial para usuários e empresas que dependem da blockchain diariamente.
Na esfera regulatória, a Rússia deu um passo importante ao implementar um registro nacional para equipamentos de mineração de criptomoedas. A medida, que entra em vigor oficialmente hoje, busca padronizar o uso de máquinas de mineração de Bitcoin e Ethereum, aumentando a conformidade com regras locais e promovendo maior transparência no setor.
Já nos mercados tradicionais, o início da semana foi marcado por queda nos preços do petróleo. O aumento recente da produção da OPEP contribuiu para essa baixa, embora o mercado físico aquecido tenha limitado as perdas. Esse comportamento reflete o momento de ajustes em diferentes setores da economia, que seguem atentos ao impacto das decisões políticas e dos eventos globais sobre os ativos de risco.