Ativos Digitais, Blockchain e IA no BRICS 2025

BRICS 2025: Ativos digitais, blockchain e IA redesenham a ordem global
A cúpula do BRICS, realizada de 5 a 7 de julho de 2025, no Rio de Janeiro, reforçou a urgência de estratégias tecnológicas que garantam soberania digital. O bloco reuniu seus líderes para discutir ativos digitais, blockchain e inteligência artificial (IA), com foco em segurança, inclusão e independência financeira.
Com a crescente tensão global, os países do BRICS demonstraram alinhamento em relação à criação de alternativas tecnológicas e monetárias. Embora nem todas as medidas tenham consenso, o evento revelou avanços significativos, tanto em propostas técnicas quanto em acordos políticos.
Blockchain e ativos digitais: rumo à interoperabilidade financeira
Durante a cúpula, os líderes destacaram que crimes financeiros envolvendo criptoativos precisam ser combatidos de forma coordenada. Por isso, propuseram sistemas de monitoramento que facilitem a detecção de transações suspeitas. O foco principal foi garantir que o uso de criptomoedas siga regras claras.
Além disso, o grupo reforçou que os ativos digitais só devem ser aceitos se forem regulamentados, rastreáveis e integrados ao sistema financeiro tradicional. Embora o bloco não condene o uso desses ativos, exige padrões mínimos de transparência e segurança. Essa abordagem visa proteger os mercados locais sem impedir a inovação.
Outro ponto importante foi o avanço do “BRICS Pay”, uma rede de pagamentos baseada em blockchain. O projeto busca reduzir custos de transação entre as moedas dos países-membros. Como resultado, o comércio intra-BRICS poderá se tornar mais eficiente, além de menos dependente do dólar.
Contudo, Brasil e Índia expressaram preocupações. Ambos preferem manter controle total sobre suas moedas e, por isso, rejeitam a criação imediata de uma moeda digital comum. Em vez disso, sugerem avanços graduais, com testes técnicos e avaliação de riscos.
Mesmo com essas divergências, os líderes concordaram em continuar o desenvolvimento técnico do sistema. A postura adotada é de cooperação cautelosa. Dessa forma, o BRICS preserva a flexibilidade enquanto amplia a integração digital.
Inteligência Artificial e governança ética
Além das discussões financeiras, a cúpula abordou a governança da inteligência artificial.. Os países exigem o pagamento justo às fontes de conteúdo utilizadas no treinamento de modelos. Por esse motivo, defenderam um código de conduta internacional baseado nos princípios da ONU.
A Índia propôs a criação de um grupo técnico multilateral sobre IA. A proposta recebeu apoio unânime. O grupo será responsável por definir regras, compartilhar boas práticas e promover a inclusão digital. Assim, os países menos avançados tecnicamente não ficarão para trás.
O presidente Lula destacou a importância de priorizar soluções que respeitem as particularidades culturais de cada país. Para ele, o Brasil deve investir em modelos de IA treinados com dados locais, em português, e voltados às necessidades sociais. Dessa forma, a IA será uma ferramenta de inclusão, não de exclusão.
Além disso, o bloco defendeu a construção de um ecossistema digital soberano. Isso inclui infraestrutura de dados, redes seguras e proteção contra a exploração por grandes empresas estrangeiras. A proposta de criar centros regionais de IA ganhou força, especialmente na África do Sul e no Brasil.
Embora os desafios sejam grandes, o BRICS demonstra disposição para liderar uma agenda global centrada na ética tecnológica. O grupo vê na IA uma chance de reduzir desigualdades históricas, desde que haja colaboração ativa entre os países.
Como consequência, os países começaram a desenhar uma estratégia de longo prazo. O objetivo é desenvolver tecnologia de forma inclusiva, respeitando os direitos humanos e as culturas locais. Essa abordagem fortalece a identidade digital do Sul Global.
Cenário econômico-político e implicações futuras
Embora o foco tenha sido tecnológico, a geopolítica esteve presente. Donald Trump, nos EUA, ameaçou impor tarifas de 10% a países que optem por sistemas financeiros fora do dólar. Em resposta, os líderes do BRICS reafirmaram o compromisso com uma ordem multipolar, baseada em respeito mútuo e diversidade econômica.
Mesmo com os avanços, o grupo reconhece desafios. O Brasil, por exemplo, ainda não tem capacidade para sustentar uma moeda digital global. No entanto, o país lançou o Drex, versão digital do real, que poderá futuramente integrar o sistema BRICS Pay. O ativo digital, desenvolvido pelo Banco Central, já está em fase piloto.
Além disso, os países discutiram como garantir o fornecimento de insumos críticos para IA e blockchain. Minerais estratégicos, semicondutores e infraestrutura digital foram considerados prioridades. Uma proposta para criar reservas tecnológicas conjuntas começou a ser desenhada.
Em síntese, o BRICS 2025 apresentou avanços concretos. A integração digital caminha com cautela, mas de forma coordenada. Os países demonstraram disposição em colaborar, mesmo diante de interesses distintos. Ao priorizar soberania, ética e inovação, o bloco amplia sua influência e prepara o terreno para um futuro menos dependente do sistema financeiro tradicional.
Considerações finais
No conjunto de medidas e narrativas definidas entre 5 e 7 de julho de 2025, foi traçado um panorama robusto de avanço tecnológico no BRICS: do combate a crimes financeiros via criptomoedas, ao fortalecimento da governança da inteligência artificial, passando por ambições concretas de um sistema financeiro alternativo. Ainda que haja limitações, como reservas insuficientes ou resistências internas (Brasil e Índia), a base para uma integração digital global alternativa começa a ser consolidada.