Uber defende histórico de segurança após virem à tona 400 mil denúncias de má conduta sexual em cinco anos

Novas dúvidas estão sendo levantadas sobre quão seguras realmente são as empresas de transporte por aplicativo. De acordo com documentos sigilosos, a líder do setor Uber recebeu 400.181 denúncias de má conduta sexual entre 2017 e 2022, o que equivale a cerca de uma a cada oito minutos. Mas a empresa argumenta que muitos dos casos relatados são “menos graves”.

Os números vêm de documentos que fazem parte de uma ação coletiva movida contra a Uber, na qual mais de 1.600 processos foram unificados no início deste ano. As acusações incluem falhas na checagem de antecedentes de motoristas, falta de notificação de casos de violência sexual à polícia e permissão para que agressores sexuais trabalhassem como motoristas, tudo isso enquanto arrecadava milhões em “taxas de segurança” cobradas dos passageiros.

Segundo o New York Times, que baseou sua reportagem em entrevistas com funcionários atuais e ex-funcionários, documentos internos e registros judiciais, a Uber revelou apenas 12.522 relatos de agressões sexuais graves no mesmo período de cinco anos.

A chefe de segurança da Uber nos Estados Unidos, Hannah Niles, afirmou que cerca de 75% dos mais de 400 mil casos são “menos graves” e não envolvem contato físico. Isso inclui comentários sobre a aparência de passageiros, paquera, olhares insistentes ou uso de linguagem inapropriada. Niles acrescentou que a maioria das denúncias não passou por auditoria, ou seja, não passou pelo processo que corrige registros incorretos, classificações equivocadas e denúncias fraudulentas de pessoas buscando reembolso.

Niles também destacou que, nesse período, foram realizadas 6,3 bilhões de viagens de Uber nos Estados Unidos, o que significa que todas as denúncias representam apenas 0,006% do total. Ela ressaltou, porém, que “não existe um nível ‘aceitável’ de agressão sexual”. Além disso, informou que o número de relatos de agressões sexuais graves na Uber caiu 44%.

O NYT afirma que a Uber poderia ter adotado medidas adicionais para aumentar a segurança dos passageiros, como parear passageiras com motoristas mulheres (recurso que está sendo testado), usar algoritmos de compatibilidade e alertar usuários sobre fatores relacionados a ataques.

A empresa também considerou instalar câmeras nos veículos. No entanto, decidiu abandonar a ideia porque seus motoristas são classificados como contratados independentes e não empregados, o que poderia gerar implicações legais envolvendo treinamento de uso de equipamentos. Niles disse que a ausência de câmeras está ligada tanto a desafios práticos e preocupações com privacidade quanto à classificação trabalhista.

Em julho, a Uber informou ter resolvido mais de 100 ações judiciais de agressão sexual em tribunais estaduais e federais movidas por um único escritório de advocacia. Desde 2018, quando encerrou a obrigatoriedade de arbitragem para passageiros, motoristas e funcionários que apresentassem denúncias de má conduta sexual contra a empresa, milhares de outros casos foram apresentados e encerrados. O primeiro caso de agressão sexual a ir a julgamento está marcado para setembro.

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Redator desde 2019. Entusiasta de tecnologia e criptomoedas.