Bitcoin, stablecoins e ouro desafiam o Fed e seus juros

Crise no Fed e corrida por ativos digitais abrem nova era monetária
Os recentes embates entre o governo dos Estados Unidos e o Federal Reserve elevaram a tensão dos mercados globais. Além disso, as expectativas sobre cortes de juros, inflação persistente e aumento da dívida americana intensificam o debate sobre segurança dos investimentos. Assim, cresce o interesse por ativos alternativos, como ouro, Bitcoin e stablecoins, sinalizando uma mudança estrutural no comportamento dos investidores.
Pressão inédita sobre o Federal Reserve
Desde sua posse, Donald Trump ampliou críticas públicas ao Federal Reserve, pressionando Jerome Powell para reduzir juros e demitindo a governadora Lisa Cook sob acusações controversas. No entanto, um juiz federal bloqueou temporariamente a destituição, elevando o clima de instabilidade institucional. Essa ofensiva não é apenas retórica: ela testa a independência do banco central e provoca reações imediatas no mercado financeiro.
Especialistas como Vugar Usi Zade, da Bitget, alertam que nenhum presidente americano em exercício tentou destituir um governador do Fed em mais de um século. Portanto, a medida é vista como sem precedentes e capaz de corroer a base legal da autonomia monetária dos EUA.
Investidores migram para ativos considerados porto seguro
Os investidores respondem rapidamente a esse cenário. O ouro ultrapassou US$ 3.600 a onça, recorde histórico que reflete ansiedade em relação à política fiscal americana. Além disso, bancos centrais globais ampliaram suas reservas de ouro pela primeira vez desde 1996, superando o Tesouro dos EUA. Essa mudança demonstra uma estratégia clara para reduzir a dependência do dólar como moeda de reserva.
No campo digital, especialistas como Abdul Rafay Gadit, da ZIGChain, destacam que Bitcoin e stablecoins funcionam como “camadas modernas de proteção”. Assim, o investidor encontra uma alternativa descentralizada e portátil frente à moeda fiduciária, fortalecendo a tese de “ouro digital” para o BTC.
Cortes de juros e dívida recorde alteram o jogo
O Federal Reserve deve cortar juros em setembro, reduzindo a taxa para 4,00%-4,25%, com projeção de queda para 3% em 12 meses. No entanto, analistas como Kathy Jones e Padhraic Garvey alertam que os rendimentos de longo prazo podem permanecer elevados devido à inflação teimosa e ao aumento maciço da dívida americana.
O governo Trump planeja ampliar gastos com defesa e prolongar cortes de impostos, o que pode acrescentar mais de US$ 2,4 trilhões ao déficit primário em dez anos. Portanto, o Tesouro terá de emitir mais títulos, pressionando preços e elevando yields de longo prazo.
“A eventual decisão do Tesouro dos EUA de emitir mais notas e títulos pressionará os rendimentos de longo prazo para cima”, disseram analistas da T. Rowe Price, uma empresa global de gestão de investimentos, em um relatório recente .
Bitcoin no epicentro da nova estratégia de portfólio
Apesar de cortes de juros normalmente favorecerem ativos de risco, o Bitcoin enfrenta um ambiente misto. Entre outubro e dezembro de 2024, o BTC saltou de US$ 70.000 para mais de US$ 100.000 apoiado no otimismo pró-cripto. Entretanto, narrativas regulatórias mais frágeis e rendimentos longos elevados podem limitar ganhos futuros.
Mesmo assim, especialistas como Maksym Sakharov e Santiago Sabater argumentam que o Bitcoin consolida seu papel como reserva alternativa. Além disso, stablecoins funcionam como elo entre finanças tradicionais e ativos digitais, sinalizando maturidade do mercado.
Uma nova era monetária à vista
O mundo caminha para diversificar suas reservas e reduzir o peso do dólar. Essa mudança é lenta, mas já aparece em indicadores como curva de juros invertida, compras recordes de ouro e entrada expressiva em stablecoins. Portanto, cresce a percepção de que moedas e ativos digitais podem coexistir como pilares de um sistema financeiro mais descentralizado.
Assim, a conjunção de instabilidade política, dívida elevada e inovação tecnológica cria terreno fértil para uma reconfiguração do sistema monetário global. O investidor atento observa que ouro, Bitcoin e stablecoins oferecem uma combinação inédita de credibilidade histórica, tecnologia e descentralização.
A tensão entre Trump e o Fed, somada ao aumento da dívida americana e à busca por portos seguros, sinaliza o surgimento de uma nova lógica nos mercados globais. Essa reconfiguração não elimina o dólar, mas inaugura uma era mais plural, em que ativos tradicionais e digitais compartilham protagonismo. O investidor que se adaptar a esse cenário pode colher vantagens em um mundo menos previsível e mais diversificado.