Bitcoin sente impacto da guerra comercial e busca novo piso

O mercado de criptomoedas iniciou a semana em clima de cautela. Após o chamado “Grande Reset”, o Bitcoin (BTC) ainda sente os efeitos da liquidação recorde que sacudiu o setor. Mesmo com tentativas de estabilização, o ativo digital mais negociado do mundo enfrenta pressão vendedora e incertezas macroeconômicas que reforçam o sentimento de risco.
Recuperação tímida após o “Grande Reset”
Nas últimas 24 horas, o preço do Bitcoin caiu 1,4%, ampliando a perda semanal para quase 9%. Embora o mercado tenha se acalmado desde o colapso anterior, a estrutura de preço continua frágil. No gráfico diário, o BTC ainda opera dentro de uma cunha ascendente, padrão que indica indecisão entre compradores e vendedores.
Os dados on-chain, porém, mostram sinais de estabilização. O Lucro/Prejuízo Não Realizado Líquido (NUPL) recuou para 0,50 em 11 de outubro, o menor nível desde abril. Isso sugere que a maior parte dos investidores absorveu suas perdas, o que costuma anteceder fases de recuperação. A última vez que o indicador se aproximou desse patamar, em setembro, o BTC reagiu com alta de 14% em duas semanas.

Além disso, a Mudança Líquida de Posição dos Investidores — métrica que mostra o comportamento dos detentores de longo prazo — melhorou 14% nos últimos dias. O indicador passou de -24.506 BTC em 10 de outubro para -21.172 BTC em 13 de outubro, sinalizando que os investidores voltam gradualmente à acumulação. A pressão vendedora parece, portanto, em processo de esgotamento.

Tensões entre EUA e China reacendem o medo no mercado
Enquanto os fundamentos técnicos indicam estabilização, o ambiente macroeconômico voltou a pesar sobre o Bitcoin. O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que pretende impor tarifas de 100% sobre produtos chineses caso retorne à Casa Branca. A ameaça reacendeu o temor de uma nova guerra comercial, empurrando investidores para ativos considerados mais seguros, como o ouro, que atingiu US$ 4.100 por onça.
O movimento provocou uma reação em cadeia: as bolsas americanas recuaram, o Bitcoin caiu 4% e retornou para a faixa dos US$ 111 mil. Como o mercado cripto mantém uma correlação de 0,6 com as ações dos EUA, o pânico se espalhou rapidamente. A narrativa de “ouro digital” foi colocada em xeque — enquanto o metal subia, o BTC perdia força.
Além disso, os ETFs de Bitcoin à vista nos Estados Unidos registraram saídas líquidas de US$ 327 milhões. As maiores retiradas ocorreram na Grayscale (-US$ 228 milhões) e na Fidelity (-US$ 159 milhões). Embora a BlackRock tenha recebido aportes de US$ 60 milhões, o valor não foi suficiente para compensar a perda de liquidez. Com a demanda institucional enfraquecida, o suporte em US$ 116 mil cedeu, resultando em mais de US$ 1 bilhão em liquidações alavancadas.
Pressão de baleias e retração de derivativos
Somando-se ao ambiente tenso, uma baleia do mercado movimentou US$ 392 milhões em posições vendidas minutos antes do anúncio de Trump. O investidor, que já havia lucrado US$ 192 milhões em operações anteriores, ampliou a pressão vendedora e provocou suspeitas de uso de informação privilegiada. Segundo o Cryptopotato, o movimento resultou na perda do status de milionário para mais de 250 carteiras na corretora Hyperliquid.
Nos derivativos, o interesse aberto caiu de forma acentuada: menos 77 mil BTC e 1,67 milhão de ETH desde sexta-feira. Essa redução mostra que os traders alavancados estão se retraindo, o que reduz tanto o risco de novas quedas em cascata quanto o potencial de fortes altas no curto prazo.
O Índice de Força Relativa (RSI) em 43,7 indica leve sobrevenda, mas sem sinais consistentes de reversão. Analistas apontam que o suporte psicológico de US$ 110 mil será decisivo. Caso o preço feche abaixo desse nível, pode haver correção até US$ 104 mil. Por outro lado, um fechamento acima de US$ 115 mil e retomada de fluxo positivo em ETFs poderiam devolver força ao ativo.
BTC ainda segue dependente do cenário global
Nos mercados asiáticos, prevalece a cautela. A escalada nas tensões comerciais entre EUA e China gera incerteza, mesmo com expectativas de um encontro entre os líderes ainda neste mês. O ouro disparou para US$ 4.155 por onça, enquanto o dólar manteve estabilidade. Já o Bitcoin, cotado em cerca de US$ 113.500, segue com tendência neutra a levemente negativa.
Esse contraste entre o rali do ouro e a fraqueza do BTC reforça a realocação de capital em busca de segurança. No cenário macro, a combinação de aversão ao risco e expectativa por cortes de juros cria um ambiente bifurcado: enquanto o S&P 500 sobe 1,5%, o mercado cripto tenta encontrar um novo piso de estabilidade.
O Bitcoin vive um momento decisivo. Embora os dados on-chain indiquem que a base para recuperação esteja se consolidando, o contexto geopolítico e a saída de capital institucional pesam sobre o sentimento do mercado. A convicção estrutural de longo prazo continua intacta, mas a confiança de curto prazo depende da capacidade do ativo em defender o suporte dos US$ 110 mil.