Q3 do mercado cripto e expectativas para o Q4

Mercado cripto com novos ATH, após os marcos na regulamentação e adoção do terceiro trimestre de 2025
*Sebastián Serrano, CEO e cofundador da Ripio
O terceiro trimestre de 2025 marcou um novo ponto de inflexão para o ecossistema cripto em nível global e na Argentina, onde a Ripio voltou a ser protagonista com mais um gesto pioneiro: o lançamento da representação digital do AL30, a primeira tokenização de um título soberano argentino. Esses acontecimentos, somados aos avanços regulatórios nos Estados Unidos, marcaram uma nova etapa de convergência entre o mundo cripto e as finanças tradicionais, um fato tão marcante quanto os rendimentos do setor durante o trimestre.
Nesse sentido, o Bitcoin e o Ethereum atingiram novos ATH, levando o market cap do mercado cripto a máximos históricos. Tanto as altcoins, quanto as stablecoins, cresceram em volume e alcançaram indicadores recordes. Toda essa situação preparou o terreno para que outubro de 2025 fizesse jus à tradição do Uptober, como o ecossistema cripto costuma chamar o décimo mês do ano, que habitualmente entrega bons rendimentos.
No entanto, após os anúncios de Donald Trump sobre tarifas de 100% para produtos chineses e seu impacto geopolítico imediato, em 13 de outubro, o mercado cripto passou por um dos momentos mais difíceis da sua história recente, com liquidações de mais de US$ 19 bilhões, quedas de até 70% nos 100 principais tokens, uma queda no preço do Bitcoin de -16,7% em questão de minutos e mais de 1,6 milhão de traders liquidados.
Após esse episódio, o mercado mostra sinais de recuperação e o Bitcoin voltou a ultrapassar os US$ 115.000, impulsionado pela demanda de compra. Neste contexto, o chamado Debasement Trade — a aposta contra a desvalorização das moedas fiat — mantém sua relevância e, enquanto a política global abala os mercados, o Bitcoin reafirma seu papel como refúgio digital.
Os destaques do Q3
O Q3 de 2025, compreendido entre 1º de julho e 30 de setembro, foi um trimestre especialmente relevante para o mercado cripto, não apenas pelo presente, mas pelas bases que foram estabelecidas para o futuro. Os indicadores recordes do mercado e os novos máximos históricos de Bitcoin e Ethereum (e, por consequência, o ATH do market cap total de cripto) foram acompanhados de avanços em adoção e regulação, tanto na Argentina, quanto nos Estados Unidos, marcando a entrada em uma nova fase de convergência na economia global.
Entre os principais avanços regulatórios estão as novas resoluções da CNV (Comissão Nacional de Valores) na Argentina, que permitiram o lançamento do primeiro título soberano tokenizado da região, o wAL30rd, oferecido pela Ripio. A empresa cripto, pioneira no país, também encerrou o trimestre com um crescimento de 80% em volume operado, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Além disso, um relatório da Chainalysis mostrou que o Brasil subiu do 9º para o 5º lugar no ranking global de utilização cripto. Já a Argentina ficou posicionada como o 20º país com maior adoção no mundo.
Nos Estados Unidos, o contexto econômico e as novas normas, concentradas no GENIUS Act e no CLARITY Act, criaram um ambiente mais favorável para as criptomoedas. O interesse institucional cresceu junto com os ETFs e as tesourarias cripto. De fato, as empresas de tesouraria cripto (Digital Asset Treasury) duplicaram no trimestre, agregando 25 bilhões em ativos sob gestão.
Preços e market cap
Em termos de preços, foi um trimestre bastante volátil na formação do mercado, que acumulou condições para que o início de outubro fizesse jus ao apelido de Uptober. O Bitcoin esteve em lateralização no Q3, mas chegou a registrar um ATH momentâneo de cerca de US$ 124.500, que foi superado já no início do Q4, atingindo quase US$ 126.200, em 6 de outubro. Com relação ao fechamento do Q3 de 2024, o preço do BTC aumentou 80%, sendo um dos ativos com mais rendimento no período entre os de maior market cap, superando o desempenho da prata (+50%), do ouro (+45%) e do S&P 500 (+16%).
O Ethereum atingiu sua melhor relação contra o BTC em três anos e registrou seu pico recorde, próximo dos US$ 5.000. Seu aumento trimestral superou os +66% entre o começo e o final do Q3, enquanto o crescimento anual, entre o final do Q3 de 2024 e do Q3 de 2025, foi de +59%.
As stablecoins também bateram recordes em volume de operação, e o mercado de altcoins se reativou com força, com quase US$ 400 bilhões em volume negociado em DEX e pouco mais de US$ 190 milhões em novos ingressos em DeFi.
Com todos esses movimentos, o market cap total de cripto oscilou entre os US$ 3,25 trilhões (mínimo em 1º de julho) e US$ 4,17 trilhões (máximo em 13 de agosto). Este último valor marcou um ATH momentâneo de market cap cripto, que já foi superado nesse Uptober de 2025, quando, em 6/10, foi atingido um máximo histórico ainda vigente de 4,28 trilhões de dólares.
Argentina: avanço regulatório, a Ripio e o primeiro título tokenizado
O Q3 de 2025 acaba de ser outro trimestre histórico para a Ripio, que, logo após 12 anos de trajetória e ter alcançado mais de 24 milhões de usuários e mais de 2.500 clientes institucionais com seus produtos e serviços, segue acumulando novos marcos importantes. Neste caso, com o lançamento do primeiro título soberano argentino tokenizado na blockchain.
O wAL30rd, disponível 24/7 no app da Ripio desde setembro, é um token que representa digitalmente o AL30, o título soberano mais negociado na bolsa argentina, e que mantém todas as suas características, como a denominação em dólares, vencimento em julho de 2030 e pagamento semestral de 0,75% ao ano em dólares.
Tokenização do AL30
A tokenização do AL30 marcou a entrada em uma nova etapa para o mercado de valores negociáveis na Argentina, abrindo oportunidades inéditas de investimento e arbitragem 24/7. Trata-se de um marco histórico para o país, onde a penetração de cripto gira em torno de 20%, enquanto a exposição a títulos públicos era, até então, bastante limitada. O mercado está sendo muito receptivo com o lançamento do AL30 tokenizado, com novos usuários se registrando e operando o token diariamente. Há um consenso de que esse é um avanço fundamental rumo a um sistema financeiro mais inclusivo, acessível e transparente.
A representação digital do AL30 (wAL30rd) está amparada pela recente Resolução Geral 1081 da Comissão Nacional de Valores (CNV), que habilita a tokenização de valores negociávies na Argentina. Avanços como o da RG1081 colocam o país na vanguarda global em termos de regulação. O lançamento do wAL30rd simboliza a convergência entre o novo marco normativo e um produto de origem privada. Que, em conformidade com essa regulamentação, aprimora a eficiência do mercado de valores argentino.
Para a Ripio, o wAL30rd é apenas o início de um caminho de desenvolvimento em tokenização, que seguirá com avanços na representação digital de títulos, ações, obrigações negociáveis, Cedears e ativos do mundo real, sempre no ritmo das regulamentações.
Estados Unidos: GENIUS Act e CLARITY Act
Em julho, a aprovação do GENIUS Act estabeleceu um regime regulatório mais rigoroso para as stablecoins, reconhecendo-as oficialmente como instrumentos financeiros. A norma exige lastro integral em dinheiro ou títulos do Tesouro de curto prazo, auditorias e relatórios mensais obrigatórios. Além de supervisão sob bancos segurados e a Office of the Comptroller of the Currency (OCC).
Em seguida, o CLARITY Act considerou Bitcoin e Ethereum como commodities, colocando-os sob jurisdição da Commodity Futures Trading Commission (CFTC). Mantendo a SEC responsável pelos ativos considerados valores negociáveis.
Bitcoin, a criptomoeda líder
A principal criptomoeda do mercado iniciou o trimestre a US$ 107.144 e encerrou a US$ 114.056, com um pico de US$ 124.457. Que, em seu momento, marcou o máximo histórico, quase no ponto médio do trimestre, em 14 de agosto. Esse montante foi superado em 6 de outubro, já no início do Q4, quando o Bitcoin atingiu seu ATH ainda vigente de US$ 126.198.
Ao longo do trimestre, a dominância do BTC caiu de 65% para 54%. E a variação de preço foi de +6,5% entre 1º de julho e 30 de setembro. Enquanto isso, o aumento subiu para +80% ao ano, entre 30 de setembro de 2024 (quando era cotado a US$ 63.329) e 30 de setembro de 2025.
No campo da adoção institucional, 114 entidades detêm atualmente um total de 1,5 milhão de Bitcoins (equivalentes a US$ 171 bilhões). Das quais Strategy (ex-MicroStrategy) lidera, com quase 640 mil BTC (aproximadamente US$ 72 bilhões).
Além disso, os ETFs de Bitcoin à vista encerraram o Q3 de 2025 com US$ 7,8 bilhões em entradas líquidas e acumularam US$ 21,5 bilhões somente em 2025. Contribuindo para um total de US$ 57 bilhões, desde sua aprovação em janeiro de 2024.
Ethereum e o Ether
O token de Ethereum, que segue como principal rede para stablecoins e DeFi, abriu o trimestre a US$ 2.486 e fechou a US$ 4.146. Com um pico de US$ 4.953 em 24 de agosto, que marcou seu máximo histórico ainda vigente.
No corte trimestral, a dominância do ETH cresceu de 9% para 14% e a variação de preço foi de +66,8% entre o início e o final do Q3. No ano, de 30/9/24 (quando cotava a US$ 2.603 dólares) a 30/9/25, seu crescimento foi de +59%.
O notável crescimento do Ether (ETH) marca o grande momento da rede Ethereum na adoção institucional. Com 11 entidades públicas manejando tesouros de ETH por 3,5 milhões de ETH, cerca de US$ 14,5 bilhões ao final do Q3. Além disso, os ETFs de Ethereum à vista já representam 15% do total do mercado à vista do ativo.
Altcoins, DeFi e DEX
No ecossistema das altcoins, a XRP consolidou-se como o terceiro maior criptoativo por market cap. Com uma valorização de +35%, passando de US$ 2,17, no início do Q3, para US$ 2,94 ao final do período.
A rede Solana teve um impulso expressivo ao longo do trimestre, com relação ao volume, e isso se traduziu em um crescimento de +35%. Passando de US$ 154,74, em 1º de julho, a US$ 208,74, em 30 de setembro. O volume operado em DEX Jupiter disparou, com um aumento maior que 70%. Outro sinal de que Solana é a líder em DeFi se deixar de fora a Ethereum. Embora venha perdendo parte da atividade para BNB Chain e Near. Nos Estados Unidos, 17 entidades públicas mantêm mais de 17 milhões de SOL, em torno de 3% do fornecimento total. Ao final do Q3, equivaliam a mais de US$ 3,6 bilhões.
Os tokens de DEX, principalmente o Uniswap, PancakeSwap e Aave, quadruplicaram sua representação no mercado. Passando de 0,4% para 1,8% do market cap ao longo desse período. A BNB registrou recorde em atividade e preço, enquanto a Avalanche teve um volume DEX recorde de mais de US$ 37 bilhões. Já a Sui, uma das redes de maior crescimento nos últimos tempos, alcançou 700 mil endereços e superou as 3,3 milhões de transações diárias.
Stablecoins
Entre julho e setembro, as stablecoins alcançaram um volume recorde de US$ 15,6 trilhões em transferências. Além disso, a capitalização de mercado combinada das stablecoins também atingiu seu nível máximo registrado, ultrapassando US$ 292 bilhões. O USDT, da Tether, teve entradas líquidas de US$ 19,6 bilhões, enquanto o USDC, da Circle, somou 12,3 bilhões. E o USDe, da Ethena, outros US$ 9 bilhões.
A rede líder em stablecoins é a Ethereum, que domina com US$ 171 bilhões em stablecoins em circulação, seguida pela Tron (US$ 76 bilhões). A 3ª (Solana), a 4ª (BNB) e a 5ª (Arbitrum) combinadas somam outros quase 30 bilhões de dólares.
As transferências de stablecoins no varejo (inferiores a US$ 250) atingiram seu pico histórico em setembro e, com isso, também encerraram seu melhor trimestre. O correspondente transações comerciais no setor de varejo, são 88%, embora o uso de stablecoins para envio de remessas e gestão de payroll continue crescendo.
Expectativas para o Q4
Com relação às previsões de preços, antes do crash ocorrido entre sexta-feira (10) e segunda-feira (13), a maioria dos analistas apresentava cenários bullish. Em que o Bitcoin poderia chegar a ficar entre US$ 140.000 e US$ 200.000 até o final do ano. Com a maioria das projeções coincidindo na faixa de US$ 150.000/160.000. No caso do Ethereum, os valores mais arriscados ultrapassam US$ 7.000 por unidade, mas o consenso está entre US$ 4.800 e US$ 6.000.
O crash ainda é muito recente e foi notavelmente superior às grandes liquidações da pandemia e do episódio da FTX (quase 15 vezes maior). Portanto, será necessário prestar atenção à evolução do mercado para avaliar se essas faixas de preço-alvo podem ser retomadas. Nesse sentido, é indispensável observar o fluxo em ETFs de BTC e ETH. A evolução dos preços e a estrutura gráfica, liquidez, volatilidade, taxas de financiamento e juros em aberto em derivativos.
Base das projeções
Grande parte dessas projeções se baseiam no contexto atual das criptomoedas. Em que as principais empresas e investidores cripto acompanham de perto a política monetária da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed). Que ainda enfrenta uma inflação persistente em torno de 2%. A expectativa de corte nas taxas de juros até o final do ano favoreceria o fluxo de capital para ativos com maior rendimento que o dólar, com cripto como um preferido evidente nos últimos anos. Os avanços regulatórios recentes, tanto nos Estados Unidos, quanto na Argentina, também aumentam o interesse institucional. E oferecem sinais de coerência com as atuais possibilidades dos ativos digitais.
Na Argentina, especificamente, a Ripio trabalha em novos avanços na tokenização de valores negociáveis e na continuidade do roadmap traçado para o wAL30rd. O plano da empresa é seguir tokenizando ativos de alto volume em diferentes categorias, incluindo títulos soberanos, ações, obrigações negociáveis e CEDEARs. De acordo com os mais recentes avanços regulatórios e novas possibilidades de tokenização abertas.