Polícia Militar de São Paulo desmantela “mineradora de Bitcoin” do PCC
“Você já ouviu falar em mineradora de Bitcoin?”
É a frase com a qual o apresentador do programa Operação de Risco, Jorge Lordello, abriu a edição do último sábado. O programa é transmitido pela RedeTV!, e depois é disponibilizado no site da emissora.
Lordello começa apresentando o Tenente Goulart, da PM de São Paulo, supostamente o responsável por desmantelar uma “casa utilizada para lavar dinheiro”, pertencente ao PCC – Primeiro Comando da Capital, organização criminosa notória no Brasil, especialmente em São Paulo. Além de Goulart, também compareceu ao programa o Cabo Samuel, outro participante da suposta operação.
Após muito suspense para revelar do que se tratava a reportagem, Cabo Samuel começa a falar sobre como o “crime tem progredido”, e começa a explicar sobre a finalidade da casa:
“[O PCC] Conseguiu minerar e transformar o dinheiro ilícito, em tese de tráfico e roubos, em Bitcoin. Transformado em Bitcoin, eles conseguiam transformar em dinheiro lícito.”
Este é o primeiro “sinal vermelho” da reportagem, quando o membro da Polícia Militar menciona que, para lavar moedas fiat (como o real), é necessário “minerar” Bitcoin – o que não está correto, pois não é assim que funcionam as transações de BTC ou o sistema de consenso proof of work.
Após dialogar com os policiais militares, Lordello pede que seja rodada a filmagem da operação. Não cabe aqui falar da entrada muito cinematográfica da PM de São Paulo na “mineradora de BTC” do PCC, tratada por um dos usuários que comentou o vídeo como algo “mais engraçado do que uma esquete do Hermes e Renato”.
Logo ao adentrarem o cômodo onde estavam os aparelhos de mineração, um dos membros da equipe de reportagem pergunta para um dos policiais militares do que se tratavam os aparelhos. O policial prontamente responde que é “uma máquina de minerar Bitcoin” – ainda que tenha dito erroneamente o nome da moeda, chamando-a de “Bitcon”, um erro comum do público leigo.
Os dispositivos mostrados são os modelos M3 da WhatsMiner, aparentando serem 20 ao todo. O cameraman mostra uma câmera “disfarçada” no teto, com os policiais ressaltando que alguém do PCC está acompanhando o prejuízo.
Então Tenente Goulart presta uma breve explicação sobre como as máquinas são utilizadas:
“Eles [o PCC] injetam dinheiro na máquina, fazem a compra de Bitcoins e realizam o armazenamento, sem precisar declarar o dinheiro. […] Em uma máquina dessa, não dá pra saber o valor acumulado, podendo cada uma estar acumulando milhões de reais.”
Ele acrescenta ainda que é possível, por meio das máquinas, seguir o caminho do dinheiro, além de levantar quanto “está guardado em cada máquina”. Para o público leigo que está acompanhando o artigo, um aparelho de mineração de Bitcoin não atua desta forma. São realizados cálculos matemáticos extremamente difíceis, que demandam grande capacidade computacional. Como recompensa pelos cálculos resolvidos por estas máquinas, uma porção de BTC é então recebida pelo operador das mesmas.
Desta forma, não é possível lavar dinheiro com o ato da mineração, apenas com a compra de Bitcoins – o que não é possível fazer por meio dos dispositivos mostrados. É importante ressaltar, ainda, que mineradoras tampouco armazenam Bitcoins.
A reportagem mostra ainda uma máquina de cartão de crédito que, de acordo com o Cabo Samuel, foi utilizada para a “entrada do dinheiro e aquisição do Bitcoin”. Mais um ponto errôneo da reportagem.
Após, Tenente Goulart liga para um especialista que, após analisar as fotos tiradas por ele, confirma que as máquinas são utilizadas para lavar dinheiro. O membro da equipe de reportagem então pede que Goulart confirma se é possível que o PCC dobre o dinheiro, da noite para o dia, por meio dos dispositivos, momento em que Goulart confirma. Por fim, o policial militar passa a informação prestada pelo especialista: cada dispositivo de mineração lava, por dia, de um a dois milhões de reais. Novamente, para aqueles que não estão familiarizados com criptomoedas, isso é impossível.