Como as instituições de caridade estão usando criptoativos para alimentar o mundo

Da América do Sul à África, os projetos de caridade criptoativo estão revolucionando as doações

 

O setor de caridade é notoriamente lento para reagir a tecnologias transformadoras. No levantamento do Charity Digital Skills Report 2019, apenas 12% das instituições de caridade do Reino Unido consideram como inovações tecnológicas a possibilidade de inteligência artificial mudar sua caridade. E no Global NGO Technology Report de 2019, apenas 34% das Organizações Não Governamentais (ONGs), em todo o mundo, admitiram entender o blockchain, a estatística mais baixa relacionada a tecnologias emergentes, como a Internet das Coisas e a realidade aumentada.

Entre pequenas instituições de caridade, porém, uma revolução está se formando. Estimuladas pelos desafios relacionados à infraestrutura e ao lidar com estados autoritários, algumas organizações, com visão de futuro, já estão usando criptomoeda para receber doações. Eles esperam que as grandes instituições de caridade também se aderem.

Alimentando a Venezuela com Bitcoin Cash

Com uma das mais altas taxas de inflação do mundo, a Venezuela vive um momento de profunda crise política e econômica, tornando-se extremamente difícil de se viver. Em fevereiro de 2018, os irmãos venezuelanos José e Gabriel – ambos usuários antigos de cripto – descobriram o Bitcoin Cash (BCH), um fork do Bitcoin. Depois que José foi questionado on-line por amigos sobre a situação na Venezuela, decidiram montar o EatBCH, um setor de alimentos sem fins lucrativos que usa o Bitcoin Cash.

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Os irmãos venezuelanos José e Gabriel montaram o EatBCH, um setor de alimentos que usa o Bitcoin Cash

Eles começaram a pedir doações de caridade no Twitter e forneceram um endereço do BCH para receber o dinheiro. O BCH foi então vendido, usado para comprar alimentos de vendedores locais. Os dois postaram fotos – principalmente de crianças às quais deram comida – como prova de que o dinheiro estava sendo usado para esta finalidade. Até o momento, o EatBCH recebeu milhares de doações e comprou centenas de refeições. Eles operam em 23 locais na Venezuela e acabam de ser lançados no Sudão do Sul.

A iniciativa também está sendo notada por empresas que desejam doar para instituições de caridade. A startup americana de alimentos Crazy Calm, que vende café instantâneo CBD, doou US $ 5, por pedido, ao EatBCH. “É uma instituição de caridade transparente e eficiente”, disse o co-fundador Matt Aaron. “Adoramos que o EatBCH esteja usando o poder da criptomoeda, dinheiro sem fronteiras, para alimentar as pessoas necessitadas.”

Nossos clientes adoram o fato de poderem ver, através do explorador de blocos, um link para a doação feita em seu nome.

Mudando o setor de caridade com cripto

Outros projetos que buscam agitar o setor de caridade usando criptomoeda estão começando a ganhar impulso. Um desses projetos é o Giveth, que visa reprojetar doações de caridade, criando uma plataforma de código aberto, totalmente gratuita, construída no blockchain Ethereum.

“Ao contrário da maioria das coisas, com a cripto você pode obter privacidade financeira, mas também obtém transparência, e obtém isso por padrão”, frisou ao Griff Green, fundador da Giveth.

No entanto, há um desafio para os projetos de cripto que buscam reformular o setor de caridade:

“O maior problema que as pessoas enfrentam é que ninguém no espaço de caridade usa cripto; somente nerds usam cripto”, ponderou.

Financiamento de base para o Quênia

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No Quênia está a sede da Grassroots Economics, uma fundação sem fins lucrativos, empenhada em criar economias com cripto

Uma organização empenhada em criar economias com cripto é a Grassroots Economics, uma fundação sem fins lucrativos, com sede no Quênia. A Grassroots Economics trabalha para fornecer às comunidades vulneráveis ​​moedas alternativas, via blockchain e pagamentos móveis, para que elas possam ter um papel ativo em suas próprias economias.

O fundador da Grassroots Economics, físico e economista Will Ruddick, mudou-se da Califórnia para o Quênia, há mais de uma década. Ele disse ao Decrypt que atualmente o setor de caridade na África gasta muito dinheiro com pouco efeito.

“O setor de caridade tem um enorme problema de impacto, que levou à transferência de dinheiro ou à assistência em dinheiro e vouchers como uma modalidade emergente, essencialmente despejando dinheiro em comunidades vulneráveis”, contou ele. “Isso abriu o setor de caridade para formas mais rápidas e eficientes de vouchers digitais, usando cripto”.

A Grassroots Economics firmou recentemente uma parceria com a Cruz Vermelha e o provedor de carteiras digitais Sempo, para criar Moedas de Inclusão Comunitária (CICs). Elas permitem que as comunidades desenvolvam sua própria mídia de troca, que pode se conectar a outras comunidades nos mercados regionais e fornecer uma porta de entrada para as moedas nacionais, através de um telefone com recurso de botão de pressão. Cerca de 1.000 empresas os adotaram em uma única semana no Quênia.

“Para mim, para o setor sem fins lucrativos e para o financiamento de bens públicos em geral, a criptomoeda é o joelho da abelha”, disse Green.

 

Fonte: Decrypt

Foto de Elen Genuncio
Foto de Elen Genuncio O autor:

Jornalista com especialização em História do Brasil pela UFF, trabalhou em diversos veículos de comunicação como O Globo, Jornal do Commercio, revista PC Mundo e Rádio Tupi.