O que acontece se o governo brasileiro começar a imprimir dinheiro?

Com o fantasma da inflação por perto, imprimir dinheiro para incentivar a economia é um tema que gera divergência entre especialistas

A COVID-19 chegou no ocidente em 2020 e rapidamente mudou o estilo de vida das pessoas na maioria dos países. O isolamento social passou a ser necessário para frear a pandemia e, como consequência, houve uma queda brutal na produtividade. Sem mão de obra para trabalhar e sem público consumidor, a economia acaba sendo a maior prejudicada pela quarentena.

Esse texto não tem qualquer intenção de mostrar um posicionamento anti-quarentena, mas apenas expor dados, fatos e possibilidades que decorrem da atual crise em que estamos inseridos.

Crise essa que já causou a maior queda trimestral de PIB dos Estados Unidos desde 2008, com 4,8% de recuo. Países da Europa, como a Itália, sofrem do mesmo mal, com recuos no PIB também na casa dos 5%.

Uma das soluções encontradas pelos governos para contornar os efeitos da crise é a emissão de moeda. Nos Estados Unidos o Federal Reserve (Fed) injetou trilhões de dólares na economia, direta e indiretamente. Ainda é cedo para falar dos resultados, visto que o próprio governo americano segue monitorando a situação econômica do país, estudando a necessidade de mais medidas no combate à crise.

Mas e no Brasil? De modo geral, se Paulo Guedes e o Banco Central decidirem ligar a impressora e injetar bilhões de reais na economia, qual seria o resultado?

Ministro Paulo Guedes e presidente do Banco Central divergem

As opiniões a esse respeito divergem. Assim que Guedes admitiu essa possibilidade foi possível ver um turbilhão de debates envolvendo o tema.

Os posicionamentos contrários à injeção de dinheiro argumentam que há uma chance real de se criar um cenário inflacionário no país, com grande desvalorização da moeda e redução severa no poder de compra da população.

A esse respeito Paulo Guedes argumentou que, atualmente, nos encontramos em um cenário de de baixa inflação, onde é possível fazer a recompra da dívida pública:

“Se cair numa situação que a inflação vai praticamente para zero, os juros colapsam, e existe o que a gente chama da armadilha da liquidez, o Banco Central pode sim emitir moeda e pode sim comprar dívida interna” — disse Guedes.

A favor da impressão, quem também concorda que a emissão de moeda não acarretaria em um aumento imediato da inflação é Nelson Marconi, Doutor e Mestre em Economia pela FGV. Segundo ele, a queda da taxa Selic é uma necessidade no atual cenário de crise. Marconi disse ainda que uma impressão de moeda nesse momento não acarretaria em uma inflação descontrolada, visto que os efeitos da crise já são responsáveis por causar uma grande ruptura na economia.

Retornando ao lado contrário à ideia da emissão de moeda encontramos justamente o Banco Central, uma das entidades que compõe hoje o Conselho Monetário Nacional, que é quem autoriza a impressão de reais.

Roberto Campos Neto disse em alto e bom tom ser contra imprimir dinheiro como saída para a crise:

“Eu acho que o argumento de imprimir dinheiro porque a inflação está relativamente baixa é perigoso porque se temos um sistema de meta de inflação que tem assimetrias, se você imaginar que, quando você está embaixo, você vai imprimir dinheiro para atingir a meta, você vai fazer com que o seu equilíbrio de juros neutros seja um pouco mais alto”, disse durante entrevista ao UOL.

Você também pode conferir abaixo (em vídeo) a fala de Campos.

https://www.youtube.com/watch?v=VgP1gMXEqoc&feature=emb_logo

A tendência prática é que Guedes e o Banco Central entrem em acordo nas próximas semanas. Dificilmente Roberto Campos tentaria embarreirar Guedes nesse assunto, visto que o atual ministro da economia é homem-forte do governo Bolsonaro, e o presidente do Banco Central é indicado (e demitido) pelo poder executivo, ou seja, pelo presidente da república.

Nesse cenário, caso a injeção de dinheiro se confirme, é importante que ocorra de maneira controlada, reduzindo ao máximo os riscos, como aponta o professor da FGV, Cleveland Prates.

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Foto de Marcelo Roncate O autor:

Redator desde 2019. Entusiasta de tecnologia e criptomoedas.