A relação entre criptomoedas e narcotráfico

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Joaquín Guzmán (“El Chapo”), um dos maiores narcotraficantes do México. Imagem: Reprodução

Ativos digitais são neutros, mas a humanidade, não; conheça a fundo sobre a relação entre criptomoedas e cartéis de drogas.

Criptomoedas e cartéis

Em março deste ano, foi noticiado no WeBitcoin que o cartel de Sinaloa, lar dos maiores narcotraficantes mexicanos, movimenta algo em torno de US$ 25 bilhões por ano em Bitcoin (BTC).

Porém, este tipo de ação não é tão recente: segundo a Reuters, a polícia do México prendeu Ignacio Santoyo, criminoso responsável por realizar tráfico humano. Criptomoedas teriam sido usadas para lavar dinheiro oriundo do embuste.

Em todos os casos, as criptomoedas são utilizadas para facilitar as transações financeiras no submundo do crime. À primeira vista, os ativos descentralizados podem parecer mais uma ameaça que uma óbvia solução contra a perigosa hegemonia fiduciária – mas a coisa não é bem assim.

Neutralidade

Criptomoedas, por definição, são tecnologias neutras; descentralizadas e distribuídas, elas dependem do empenho de suas respectivas comunidades para prosperar.

Elas podem ser utilizadas tanto para o bem quanto para o mal. Da mesma forma, uma arma de fogo pode ser utilizada para proteger sua residência contra assaltantes ou cometer assaltos à mão armada contra inocentes.

Sendo assim, culpar a ferramenta por ter sido mal utilizada é algo desonesto e raso.

Transparência

O Bitcoin não é uma moeda anônima. Todas as suas transações são registradas em blockchain, podendo ser auditadas por qualquer pessoa ou entidade competente. Diferentemente de transações em moedas fiduciárias, como o real, o dólar ou o euro, todas as movimentações envolvendo Bitcoin são rastreáveis.

Existem, porém, criptomoedas focadas na privacidade de suas movimentações, a exemplo das famosas Monero, ZCash e Dash. Certos governos, a exemplo do da Coreia do Sul, não gostam da ideia de exchanges trabalhando com tais ativos digitais, pois não geram rastros auditáveis.

Por muitos anos, estes projetos específicos foram taxados como ferramentas essenciais para lavagem de dinheiro no mundo do tráfico. Porém, existe uma necessidade real de realizar transações 100% anônimas: elas reduzem custos, aumentam a eficiência nas transações e possuem criptografia suficiente para – pasmem – combater atividades fraudulentas.

Confiabilidade

Não existe um satoshi (centavo de Bitcoin) falsificado sequer em sua blockchain nativa. Isso acontece porque, de forma resumida, para fraudar qualquer quantia em BTC, é necessário alterar todas as transações registradas anteriormente.

Esta confiabilidade não existe dentro da economia estatal: é normal que um frentista, antes de aceitar sua nota de 50 reais para pagar pela gasolina, verifique se ela falsificada ou não.

Em síntese, a economia fiduciária é muito menos confiável que as finanças descentralizadas (DeFi). Por serem difíceis de rastrear e possíveis de falsificar, as moedas estatais são as preferidas dos narcotraficantes – não as criptomoedas.

7 sinais que mostram como identificar uma nota falsa imediatamente – Fatos  Desconhecidos
Cédulas falsas são incrivelmente comuns. Imagem: Fatos Desconhecidos

Repressão equivocada

Para combater as drogas, governos tendem a legalizar algumas delas, sobretaxá-las e criar pesadíssimas regulamentações sobre distribuição e uso. Porém, essa é exatamente a razão pela qual o narcotráfico é capaz de crescer tão rapidamente.

O tráfico de cigarros de tabaco é o mais poderoso do mundo por conta das limitações impostas pelo Estado: no Brasil, veículos roubados são comumente utilizados para realizar o transporte da mercadoria. Muitas vezes, tais veículos são utilizados como moeda de troca para garantir um volume ainda maior de produtos de má qualidade.

Como se não bastasse, a Istoé publicou um artigo a respeito de fábricas clandestinas que falsificam cigarros paraguaios. Com isso, criminosos conseguem reduzir riscos e custos, além de fornecer um produto de qualidade ainda pior que a original.

Regulamentações e tributações excessivas fomentam o tráfico em vez de combatê-lo. Tais medidas, criadas de maneira consciente pelos governos, perpetuam e acentuam problemas no lugar de resolvê-los.

Conclusão

Criptomoedas podem ser utilizadas por qualquer pessoa. É ingenuidade acreditar que criminosos não tirariam proveito disso. Porém, o verdadeiro problema não reside na economia descentralizada e distribuída, e sim nas péssimas escolhas oriundas de governos.

Por outro lado, criptomoedas são mais transparentes e auditáveis que qualquer economia fiduciária: tal característica torna o combate ao crime muito mais eficaz e natural. Empresas de auditoria, como Chainalysis e PeckShield, ficaram famosas por conta de suas rápidas e acertadas análises a respeito de golpes e falhas de segurança em criptoeconomia.

Porém, conforme esperado, tanto o governo como seus asseclas mais fiéis tendem a culpar a ferramenta pelo seu mau uso, criando fortes cortinas de fumaça para ludibriar inocentes.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.