Opinião: Plataformas DeFi devem (e podem) ser reguladas?
As investigações contra a Tornado Cash levantaram uma pauta muito interessante e delicada
DeFi na mira do governo
Minutos atrás, o Cointelegraph publicou um artigo a respeito da regulamentação do mercado cripto, incluindo as plataformas de finanças descentralizadas (DeFi). De maneira resumida, David Carlisle, autor do texto, acredita que tais empresas devem “pensar seriamente” em trabalhar juntamente com reguladores, caso queiram que seus projetos sejam bem-sucedidos.
Recentemente, a Tornado Cash ficou fora do ar, bem como suas principais redes sociais, após sanções impostas pelo governo dos Estados Unidos. A plataforma é acusada de atuar como um “ecossistema de carteiras compartilhadas”, largamente utilizada por grupos criminosos para lavagem de dinheiro.
O Lazarus Group, grupo hacker da Coreia do Norte, teria lavado US$ 7 bilhões em ativos digitais por meio da Tornado Cash. A plataforma de mixagem de criptomoedas garante total privacidade e anonimato ao saldo de seus usuários.
Como seria feita a regulamentação?
De maneira geral, exchanges descentralizadas (DEX), plataformas de yield farming e outros serviços financeiros sem um poder central não coletam informações pessoais de seus utilizadores.
Basta criar uma conta ou conectar diretamente sua carteira (também descentralizada), possuir algum saldo e iniciar as operações. Trata-se, portanto, de uma característica intrínseca dos frutos dos ecossistemas descentralizados e distribuídos.
Sendo assim, de que forma tais ecossistemas financeiros seriam capazes de saciar os anseios regulatórios das entidades governamentais? Afinal, sistemas bancários controlados por bancos centrais coletam informações abundantes de seus clientes; isso não ocorre em plataformas que nasceram à margem (no sentido mais puro da expressão) dessas condições.
Caso a Tornado Cash ceda às vontades do governo norte-americano e siga o que Carlisle sugeriu em seu artigo, perderá totalmente o seu propósito: um serviço de privacidade financeira real, sem pegadinhas com suas informações sensíveis.
Por outro lado, sem a regulamentação estatal, o governo não será capaz de monitorar ou prevenir embustes de acordo com suas diretrizes.
Situação complicada
Embora a Tornado Cash afirme estar de acordo com a Agência de Controle de Ativos Estrangeiros dos EUA (OFAC), o Tesouro norte-americano alega que o serviço “falhou repetidamente em impor controles efetivos contra lavagem de dinheiro por atores cibernéticos maliciosos”.
Outros projetos DeFi estão trabalhando ativamente no combate a estes crimes, independentemente de haver uma regulamentação. Trata-se de uma iniciativa essencial para garantir o futuro e a saúde financeira do mercado descentralizado.
A autorregulamentação das finanças descentralizadas depende da competência técnica, além da cobrança coletiva. São muitos os casos de ataques hacker bem-sucedidos contra plataformas cripto, a exemplo do icônico caso da Celsius Network. A Curve Finance também foi atacada e perdeu US$ 570 mil. Felizmente, a Binance conseguiu reaver 83% do saldo.
Um bairro perde prestígio quando não é seguro andar sobre suas calçadas. Se o objetivo é fazer com que todos os moradores cuidem de sua infraestrutura, que seja; porém, os mecanismos devem ser favoráveis para o sucesso da empreitada.
As plataformas DeFi precisam trazer maior competência técnica no combate a fraudes de todo tipo – diferentemente do que tem sido mostrado nos últimos anos. Apenas assim serão capazes de bater de frente com a falsa sensação de segurança das regulamentações estatais; categoricamente falsa, ou economias fiduciárias não mais seriam recordistas em embustes.
Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.