Argentina: Derrota de Macri preocupa investidores
Derrota de Macri nas primárias faz peso argentino despencar de valor perante o dólar. Vitória da oposição é dada como certa por muitos e preocupa o mercado
A Argentina vive um dos momentos mais delicados de sua história recente. A crise instaurada no país não é apenas econômica, mas também política. Segundo dados da Folha, em 2018 a aprovação popular do Governo Macri chegou a cair para assustadores 26%. A incerteza e o medo da perda permeiam a economia, mostrando-nos um cenário em que é mais provável que vejamos os investidores salvando seu capital da tormenta do que enfrentando o problema de frente. Nada de novo até aqui.
Eleições
Mauricio Macri não obteve uma simples derrota nas eleições primárias na Argentina. Os 15 pontos percentuais de vantagem impostos pelo oponente Alberto Fernández (cuja vice é a ex-presidente Cristina Kirchner e a real preocupação do governo) dão o tom da enorme derrota sofrida pelo presidente em exercício.
As primárias na Argentina funcionam quase como uma “pré-eleição”, dando o termômetro popular para a disputa real que deve ocorrer no dia 27 de outubro.
Mercado
Ontem foi um dia realmente brutal para os mercados financeiros argentinos. A derrota de Mauricio Macri na eleição primária deste fim de semana reduziu drasticamente as chances de um presidente pró-negócios vencer a eleição para a presidência do país.
Segundo informações do site noinvite, as ações dos bancos argentinos listadas em Wall Street subiram nas negociações de hoje, com o banco argentino “Banco Macro” subindo 5% e o “Grupo Supervielle” 10%. Contudo, depois de ontem essas mesmas ações haviam caído quase pela metade do valor de mercado até então (uma queda de aproximadamente 45%). A recuperação de hoje claramente não foi suficiente para melhorar o ânimo dos investidores.
A moeda argentina, no entanto, estabilizou em torno de 53 pesos por um dólar, depois de ter caído quase 25% na segunda-feira, para níveis acima de 62 pesos. No fechamento do mercado o resultado final do dia era uma desvalorização de 15%, para os já mencionados 53 pesos.
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Medo
O medo dos investidores é transparente como a água: vislumbrar no governo Fernández um retorno às políticas econômicas estatais e intervencionistas de governos anteriores. Claudio Irigoyen, Chefe de Economia e Estratégia para a América Latina do Bank of America Merrill Lynch foi mais fundo sobre o posicionamento do mercado ao possível futuro presidente:
“O mercado acredita que Fernandez provavelmente irá inadimplir e impor controles de capital, além de renegociar com o FMI. Em suma, o mercado acha que Fernandez é o retorno do populismo.”
A forte queda do peso na segunda-feira enfraqueceu ainda mais um grande grupo de investidores que já enfrentavam as consequências do conflito econômico entre Estados Unidos x China. Fernández já se posicionou favorável ao diálogo com Macri, embora responsabilize o atual presidente pela crise e pela elevada inflação. O momento para o mercado e para os investidores é de juntar os cacos, no aguardo dos próximos eventos na Argentina.