Como o banimento do Telegram pode afetar o mercado cripto?

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STF pretende banir o Telegram, caso não ceda às vontades do governo no combate às fake news. Imagem: UOL

O governo brasileiro está estudando a possibilidade de banir o aplicativo do país; vários grupos cripto são executados por meio da plataforma.

BAN

Uma questão polêmica está em discussão dentro do governo: autoridades estudam banir o Telegram, aplicativo de mensagens que concorre diretamente com o WhatsApp.

O motivo, segundo o Judiciário, seria a incapacidade de o governo efetuar contato com os representantes internacionais do Telegram. Trata-se de um conjunto de iniciativas no combate às fake news – e o governo quer comprometimento por parte da equipe do aplicativo a respeito da pauta.

O Projeto de Lei 2.630/2020, proposto pelo senador Alessandro Vieira (CIDADANIA/SE), quer estabelecer normas relacionadas à transparência de redes sociais e serviços de mensagens instantâneas.

Em resumo, as empresas seriam obrigadas a responder pelo combate às desinformações publicadas dentro de seus ecossistemas. Isso vale para conteúdos patrocinados, também.

De acordo com informações do site do Senado, 353.204 pessoas votaram a favor da iniciativa e 424.819 votaram contra. Em linhas gerais, a maioria das pessoas não têm interesse sobre esse tipo de regulamentação.

Mercado cripto

Grande parte dos projetos blockchain fazem uso do Telegram para compartilhar publicações e garantir interatividade com seus investidores.

Os motivos são muitos: o Telegram permite uma personalização muito maior de grupos que o WhatsApp. É possível determinar diversas camadas de hierarquia entre membros, utilizar bots, suporte para envio de arquivos grandes, alternar facilmente entre diversas contas em um mesmo dispositivo, conversas secretas etc.

Convém citar que, durante os períodos de instabilidade ou queda no WhatsApp, o Telegram continuou funcionando normalmente. O aplicativo é, portanto, uma excelente alternativa quando a plataforma mais utilizada está inoperante ou intermitente. Muitos negócios dependem do funcionamento adequado dos mensageiros instantâneos.

Tais grupos são utilizados para que os usuários sejam capazes de acompanhar, em tempo real e com transparência, as últimas atualizações a respeito de seus projetos favoritos.

Jogos NFT, como Bomb Crypto e Crypto Cars, utilizam constantemente o Telegram para compartilhar novidades e informações cruciais a respeito de seus projetos. Sem o aplicativo, as opções de comunicação com suas comunidades seria certamente comprometida.

Projetos sérios, diga-se de passagem, fazem de tudo para monitorar e combater grupos e sites falsos para evitar que seus usuários sejam vítimas de golpes.

Há mais: tendo em vista que o governo brasileiro estaria – pelo menos supostamente – preocupado com o combate à desinformação, de que adiantaria censurar o funcionamento de uma plataforma cuja utilização é de grande serventia para prover informações com credibilidade, diretamente da fonte?

Questão delicada

A vontade do governo é bastante delicada, pois supera sua frustração por não conseguir comunicar-se com a equipe do aplicativo: consequências sociais podem impactar pessoas físicas e jurídicas das mais variadas formas.

Por um lado, diversos grupos políticos realizam suas atividades no Telegram justamente por conta de sua privacidade melhorada; de outro, empresários (tradicionais ou cripto) podem fazer uso massivo da ferramenta para garantir um atendimento ao cliente ainda melhor que no WhatsApp.

O banimento seria ineficiente e desnecessário, uma vez que existem outras aplicações que garantem o mesmo nível de privacidade que o mensageiro em questão.

No mais, os usuários podem apenas torcer pelo melhor.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.