Bitcoin à beira da pressão máxima: mineração em queda e dólar em alta

Bitcoin à beira da pressão máxima

O cenário que pressiona o Bitcoin

O Bitcoin enfrenta um dos períodos mais tensos dos últimos meses. O preço da principal criptomoeda do mercado caiu para a região de US$ 103.000, aproximando-se da mínima registrada em junho. A combinação de fatores macroeconômicos, liquidações bilionárias e a queda na rentabilidade da mineração formou um cenário desafiador. Além disso, o fortalecimento do dólar e a paralisação prolongada do governo dos Estados Unidos intensificaram a pressão sobre os ativos de risco, afetando não apenas o Bitcoin, mas também o Ethereum e as principais altcoins.

De acordo com dados recentes, a criptomoeda acumula uma desvalorização de cerca de 20% desde sua máxima histórica de US$ 126.500, alcançada em 6 de outubro. Assim, o movimento de correção, que começou de forma gradual, ganhou força nas últimas semanas, com o mercado global reagindo a uma série de choques econômicos e políticos. O aumento da força do dólar e as incertezas fiscais nos EUA ampliaram o sentimento de aversão ao risco, resultando em um ambiente de vendas intensas e liquidações em massa.

Liquidações e dólar forte alimentam a onda de vendas

As liquidações em corretoras de derivativos atingiram aproximadamente US$ 1,4 bilhão, refletindo o alto grau de alavancagem do mercado. O mecanismo de desalavancagem automática da Binance, que já havia provocado forte impacto em outubro, voltou a atuar, encerrando posições forçadas de milhares de traders. Esse movimento contribuiu para acelerar a queda dos preços e reduzir a confiança de curto prazo. Portanto, o pânico entre operadores de derivativos reforçou o ciclo de liquidação e derrubou o mercado de forma generalizada.

Enquanto isso, o índice DXY — que mede a força do dólar americano em relação a outras moedas — ultrapassou 100 pela primeira vez desde agosto, após uma sequência de altas iniciadas em setembro, quando o índice estava em 96,2. A valorização do dólar ocorre porque o Federal Reserve sinalizou cortes de juros mais lentos do que o esperado, o que reduz o apetite por ativos de risco. Assim, o Bitcoin e o mercado cripto como um todo sofrem uma correção acentuada, em linha com a desvalorização das ações de tecnologia, que também recuaram cerca de 1,5% nas negociações pré-mercado.

A mineração sofre com margens em colapso

Paralelamente, os mineradores enfrentam seu próprio desafio. O preço do hash — métrica que indica quanto um minerador ganha por unidade de poder computacional e um termo cunhado pela 
Luxor — despencou para US$ 43,1 por petahash por segundo (PH/s), o menor valor desde abril. Naquele mês, o Bitcoin ainda era negociado em torno de US$ 76.000. Agora, com a cotação em torno de US$ 104.000, as margens operacionais encolheram drasticamente. Além disso, a taxa de hash da rede atingiu um recorde de 1,1 zettahash por segundo, e a dificuldade de mineração chegou a 156 trilhões, um aumento de 6,3% em relação ao ajuste anterior.

Preço do Hash

Essa combinação cria um cenário em que minerar Bitcoin se torna cada vez menos lucrativo. As taxas de transação também estão em patamares baixos, custando cerca de 4 sat/vB (US$ 0,58) por operação de alta prioridade. Portanto, as receitas totais dos mineradores diminuem enquanto os custos de operação se mantêm elevados. Diante disso, várias empresas do setor começaram a diversificar suas atividades, apostando em inteligência artificial e infraestrutura de data centers de alto desempenho. Essa migração busca garantir fluxo de caixa estável e reduzir a dependência direta da volatilidade do Bitcoin.

Paralisação do governo americano amplia a incerteza

Além dos fatores técnicos e econômicos, o contexto político também pesa. A paralisação do governo dos Estados Unidos atingiu 35 dias, igualando o recorde histórico de 2018-2019. Esse impasse fiscal gera incerteza sobre políticas públicas e afeta diretamente a confiança dos investidores institucionais. O mercado de previsões Polymarket, por exemplo, indica uma alta probabilidade de que a paralisação se estenda além de 16 de novembro, o que pode manter a pressão sobre o Bitcoin. Com a falta de clareza nos rumos econômicos e a força renovada do dólar, o ativo digital continua sob forte estresse.

Mesmo assim, alguns analistas acreditam que o período atual representa uma fase de transição. Historicamente, momentos de medo extremo e liquidez reduzida antecedem movimentos de recuperação. No entanto, enquanto o dólar seguir valorizado e o governo americano continuar paralisado, os ventos macroeconômicos permanecerão contrários ao Bitcoin.