Bitcoin nas mãos das empresas: uma nova era de acumulação corporativa

Com até US$ 330 bilhões previstos em investimentos até 2029, empresas transformam o Bitcoin em estratégia de tesouraria.
O Bitcoin está deixando de ser apenas um ativo especulativo e assumindo um papel estratégico nas finanças corporativas. Segundo um estudo recente da Bernstein, empresas podem alocar até US$ 330 bilhões em Bitcoin nos próximos cinco anos, consolidando uma nova fase na maturidade do criptoativo como reserva de valor institucional.
A projeção se baseia em modelos já adotados por empresas como a Strategy (antiga MicroStrategy), liderada por Michael Saylor, que hoje detém impressionantes 555.450 BTC — aproximadamente US$ 52,5 bilhões. Com um preço médio de compra de US$ 68.569 por BTC, a empresa acumula um lucro não realizado de cerca de US$ 14 bilhões, reforçando a eficácia da estratégia. O sucesso da Strategy também impulsionou suas ações, que já subiram 97% somente em 2025.
A Bernstein prevê que pequenas empresas com crescimento limitado e reservas de caixa significativas devem liderar essa tendência, buscando replicar o modelo da Strategy como alternativa de valorização. Só essas companhias poderiam destinar até US$ 190 bilhões para o BTC. Em um cenário mais otimista, a própria Strategy ainda pode injetar mais US$ 124 bilhões no ativo, dada sua recente ampliação de captação de recursos.
Porém, o modelo não é universal. A pesquisa alerta que a adoção do Bitcoin como estratégia de tesouraria depende diretamente do desempenho do ativo e da capacidade de gestão dos riscos envolvidos — algo que nem todas as empresas conseguem replicar com sucesso.
Enquanto isso, o ambiente das exchanges centralizadas está passando por transformações. A KuCoin, por exemplo, viu seus estoques de Bitcoin despencarem 77,6% desde junho de 2023. A queda abrupta, de 18.300 para apenas 4.100 BTC, coincidiu com a adoção obrigatória de processos de verificação de identidade (KYC), que afastou parte significativa dos usuários.
Esse êxodo se insere em uma tendência mais ampla de retirada de BTC das plataformas, mas o caso da KuCoin é extremo. Além da fuga de capitais, a exchange enfrentou demissões em massa e batalhas regulatórias nos EUA, culminando em acordos multimilionários com autoridades locais.
Na contramão, a Binance segue consolidando sua posição como principal custodiante de Bitcoin entre as exchanges centralizadas. Mesmo após polêmicas, incluindo um acordo bilionário com o Departamento de Justiça dos EUA e a saída de seu fundador Changpeng Zhao da liderança, a confiança dos investidores permanece alta. Atualmente, a plataforma responde por cerca de 23% de todos os BTC armazenados em exchanges — uma fatia que só cresce desde o início da pandemia.