Bitcoin e a possível ruptura do ciclo clássico

A movimentação recente do Bitcoin reacendeu discussões sobre o comportamento histórico do ativo. Após perder mais de 30% desde o início de outubro, o mercado passou de otimismo para receio. Esse recuo, que inicialmente parecia apenas uma correção, agora tem sido interpretado por parte dos analistas como possível sinal de topo. A mudança rápida no sentimento mostra que investidores migraram para posições defensivas, preparando-se para um cenário semelhante aos antigos períodos pós-pico.

No entanto, um relatório divulgada pela CryptoQuant apresenta outra leitura. Segundo o relatório, o Bitcoin pode estar se afastando do tradicional ciclo de quatro anos impulsionado por halvings. Em seu lugar, surge a tese de superciclo, que indica uma fase mais longa e sustentada de valorização, moldada por novos fatores estruturais que não existiam nos ciclos anteriores.

Forças estruturais e o avanço institucional

O relatório aponta que o superciclo encontra suporte em transformações significativas no mercado. A adoção institucional é o principal vetor dessa mudança. Os ETFs de Bitcoin à vista, liderados por emissoras como BlackRock, trouxeram demanda regulada e constante de agentes do mercado tradicional. Diferentemente dos ciclos alimentados por varejo especulativo, essa demanda trata o ativo como alocação estratégica, gerando absorção contínua.

Além disso, dados on-chain reforçam o cenário. As reservas em exchanges seguem em queda, sinalizando acumulação de longo prazo e reduzindo a pressão vendedora. O indicador Spent Output Profit Ratio (SOPR) permanece dentro de níveis considerados racionais. Há realização de lucros, mas sem os picos eufóricos característicos de topos anteriores, o que aponta para uma maturidade crescente.

A estrutura tecnológica também evolui. Melhorias em redes adjacentes, como o upgrade Fusaka do Ethereum e a expansão de soluções de camada 2, ampliam a eficiência do ecossistema. Assim, o Bitcoin se fortalece como ativo de reserva e liquidação dentro de uma economia digital em desenvolvimento. Esses avanços impactam diretamente a percepção institucional de solidez a longo prazo.

O pano de fundo macroeconômico segue relevante. A instabilidade geopolítica e a possibilidade de futura flexibilização monetária reforçam o apelo do Bitcoin como ativo neutro e resistente a políticas tradicionais. Embora o relatório ressalte que choques externos ainda possam influenciar sua trajetória, os elementos estruturais sugerem que as dinâmicas de topo, queda e recuperação podem estar se transformando.

Estrutura técnica e níveis críticos no curto prazo

Mesmo diante desse contexto favorável, o desempenho técnico recente do Bitcoin mostra fragilidade no curto prazo. O preço se mantém abaixo da faixa psicológica dos US$ 90.000, com repetidas tentativas falhas de recuperar médias móveis essenciais. A média móvel de 200 períodos, inclinada para baixo, atua como resistência dinâmica entre US$ 92.000 e US$ 93.000. Já as médias de 100 e 50 períodos mostram compressão e perda de força compradora.

Após uma forte venda no início do mês, o ativo iniciou tentativa de recuperação, que foi interrompida antes da resistência descendente. A formação subsequente de topos e fundos descendentes confirma o padrão baixista no gráfico de 4 horas. A consolidação atual entre US$ 86.000 e US$ 87.000 indica indecisão, mas com repiques cada vez mais fracos.

O suporte entre US$ 85.000 e US$ 86.000 é o ponto crítico no momento. Uma quebra consistente abaixo desse intervalo pode abrir espaço para correção mais profunda. Por outro lado, os compradores precisam recuperar os US$ 90.000 e superar as médias descendentes para alterar a direção.

No curto prazo, o comportamento do preço reforça o risco de continuidade da consolidação com viés negativo. Contudo, os dados institucionais, o SOPR moderado, as reservas em queda nas exchanges e o avanço das infraestruturas indicam que, mesmo diante da pressão técnica, os fundamentos estruturais permanecem atuando como sustentação relevante para o Bitcoin.