Tempestade global abala o Bitcoin: Volatilidade, tarifaço e medo de capitulação

Crise comercial, colapso nos mercados e medo de capitulação pressionam o Bitcoin e levantam dúvidas sobre a continuidade do ciclo de alta.
O Bitcoin voltou a enfrentar uma tempestade de volatilidade no início de abril, pressionado por tensões geopolíticas, inflação crescente e um colapso generalizado nos mercados globais. A criptomoeda chegou a ultrapassar os US$ 81 mil brevemente, mas recuou com força logo em seguida, sendo negociada abaixo dos US$ 78 mil — um nível considerado crítico por analistas técnicos.
O estopim da nova onda de instabilidade veio da escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China. Após impor tarifas de 10% a todos os países e sobretaxas a blocos específicos como União Europeia e Japão, o presidente Donald Trump ameaçou Pequim com uma nova tarifa de 50% caso o governo chinês não suspenda sua própria retaliação de 34%. Se efetivado, o pacote elevaria a carga tributária americana sobre produtos chineses para impressionantes 104%.
O mercado reagiu de maneira caótica. Rumores sobre uma possível pausa de 90 dias nas tarifas circularam, gerando um breve otimismo. No entanto, a Casa Branca rapidamente desmentiu a informação, o que, somado ao novo aviso de Trump, desencadeou liquidações violentas.
A reação não se limitou ao universo cripto. As bolsas asiáticas abriram com quedas de dois dígitos e ativaram circuit breakers em países como China, Japão e Taiwan. O S&P 500 futuro caiu 15% em apenas três dias, e o petróleo voltou a ser negociado abaixo dos US$ 60. O sentimento global, segundo analistas, é o mais pessimista desde o crash da Covid-19 em março de 2020.
O mercado cripto, por sua vez, perdeu mais de US$ 240 bilhões em 24 horas, atingindo níveis que alguns analistas já comparam a uma “Black Monday” digital.
Especialistas alertam que o cenário ainda pode piorar. Indicadores como o STH-SOPR, que mede a lucratividade dos holders de curto prazo, mostram que esses investidores começaram a vender com prejuízo — um sinal clássico de pressão de venda. No entanto, como o indicador ainda não atingiu níveis extremos, há espaço para mais capitulação se o suporte de US$ 78 mil for perdido de forma definitiva.
Segundo a análise da Matrixport, um reteste do nível de retração de 38,2% da última grande alta é cada vez mais provável, especialmente diante do ambiente de aversão ao risco e da ausência de sinais de estímulo monetário por parte do Fed.
Enquanto isso, economistas alertam que o ambiente atual de alta volatilidade, incerteza regulatória e guerra comercial cria o “cenário perfeito” para que investidores busquem refúgio em ativos de menor risco, mesmo que isso signifique vender com perdas.
A grande pergunta agora é: o pior já passou ou estamos apenas no início de um novo ciclo de medo? Para alguns otimistas como Raoul Pal, esse é o “cheiro delicioso do pico do medo”, uma oportunidade disfarçada. Para o restante do mercado, parece mais um lembrete brutal de que o bull market está em pausa — e o inverno pode estar apenas começando.