Brasil avança na adoção institucional do Bitcoin e quer ser hub global de criptoativos

Brasil avança na adoção institucional do Bitcoin

A consolidação do Brasil como potência cripto deixou de ser uma projeção para se tornar uma realidade mensurável. Segundo o relatório mais recente da Chainalysis, o país ocupa a quinta posição no ranking mundial de adoção de criptoativos, à frente de todas as demais nações da América Latina. Essa colocação reflete não apenas o apetite do investidor brasileiro, mas também a maturidade tecnológica e regulatória do ecossistema local.

O estudo mostra que o Brasil registrou um crescimento de 109,9% no volume de transações em relação ao ano anterior. Esse avanço foi impulsionado por dois vetores principais: o fortalecimento institucional e a integração de novas soluções digitais no sistema financeiro. Além disso, a popularização do Pix e o aumento da digitalização bancária abriram espaço para que as criptomoedas fossem tratadas como instrumentos de preservação e diversificação de valor, não apenas como apostas especulativas.

A força da digitalização e o novo investidor

A combinação de inovação tecnológica, maturidade financeira e adaptação regulatória criou uma base sólida para o setor. O Brasil possui um dos ecossistemas de fintechs mais avançados do mundo, com players que atuam dentro das diretrizes da Lei Brasileira de Ativos Virtuais (2022/2023). Além disso, as consultas públicas de 2024 — especialmente as de número 109, 110 e 111 — ampliaram a segurança jurídica e favoreceram a entrada de instituições como Itaú, Nubank e Mercado Pago.

Esse movimento aumentou a confiança institucional. Grandes fundos, gestoras e bancos começaram a oferecer produtos cripto estruturados, o que permitiu que investidores qualificados tivessem exposição direta e regulada a ativos digitais. Ao mesmo tempo, empresas listadas em bolsa deram passos ousados. A fintech Méliuz adquiriu mais de 600 Bitcoins para sua tesouraria, enquanto a OranjeBTC tornou-se a companhia brasileira com a maior reserva corporativa de BTC, somando 3.691 unidades.

O Brasil como vitrine global de inovação

Durante a conferência PlanB, realizada em Lugano, o Brasil “roubou” a cena entre investidores globais. Empresários e fundos estrangeiros queriam entender como o país antecipou debates que agora começam a amadurecer em mercados como Estados Unidos e Europa. O interesse foi impulsionado pelo avanço do Open Finance e pela integração entre fintechs, bancos e plataformas de criptoativos.

A pauta brasileira impressionou ao mostrar como, por meio de regulações modernas e infraestrutura digital robusta, empresas cripto podem acessar o sistema financeiro nacional de forma transparente e em tempo real. Além disso, essa interoperabilidade, aliada ao uso crescente de stablecoins em transações institucionais, transformou o país em um campo fértil para a inovação.

De acordo com a Chainalysis, mais de 90% dos fluxos de criptoativos no Brasil envolvem stablecoins. Elas são usadas como meio de pagamento, liquidação e hedge cambial. Essa tendência reforça o papel das criptomoedas estáveis na nova economia digital, especialmente em um cenário de volatilidade global e busca por eficiência.

O avanço institucional e o diálogo regulatório

Em paralelo, a instabilidade econômica e cambial levou milhões de brasileiros, de pequenos investidores a grandes instituições, a buscar no Bitcoin, no Ethereum e nas stablecoins (como USDT) uma forma de preservar valor e diversificar reservas.

Ao mesmo tempo, fundos de investimento, gestoras de patrimônio e bancos já estão expandindo a oferta de produtos ligados a criptoativos, criando caminhos para uma exposição mais sofisticada entre investidores institucionais.

Will Hernández, Business Development Manager para a América Latina na Bitfinex, afirma que “o Bitcoin está se tornando indispensável para investidores institucionais na região, e o Brasil é o laboratório onde essa fase de integração acontece mais rápido. A decisão de barrar a proposta de imposto de 18% sobre transações com cripto mostra que há espaço para o país avançar em regulação sem travar inovação. O desafio agora é fazer com que esse diálogo entre governo e mercado continue evoluindo. O Brasil tem um ecossistema forte de fintechs, infraestrutura digital madura e um público que já se acostumou com tecnologias como o Pix, isso dá uma vantagem competitiva importante A próxima etapa pode vir com a entrada mais consistente de tesourarias corporativas e empresas de capital aberto incorporando Bitcoin e até outros ativos digitais, como stablecoins, em seus planejamentos financeiros de longo prazo”.

Essa postura estimula o diálogo construtivo entre governo e mercado. O Banco Central, ao conduzir projetos como o Drex e fortalecer o Open Finance, criou uma estrutura de interoperabilidade. E isso favorece a tokenização de ativos e o uso de cripto como colateral. Assim, o Brasil se posiciona estrategicamente para atrair fluxos internacionais de capital digital e consolidar sua imagem como polo financeiro moderno.

O relatório da Chainalysis destaca ainda que o crescimento brasileiro é amplamente institucional. As transferências de grande porte aumentaram mais de 100% em um ano. Esse dado demonstra o fortalecimento do mercado corporativo de criptoativos. Portanto, o país está deixando de ser apenas um polo de varejo para se transformar em uma plataforma global de integração financeira digital.

O próximo salto: consolidar o hub latino-americano

Com um público que já domina tecnologias como o Pix e o Open Finance, o Brasil reúne condições únicas para se tornar o principal hub de criptoativos da América Latina. No entanto, o desafio é equilibrar avanço regulatório e competitividade. Segundo a Chainalysis, a manutenção do país entre as cinco primeiras posições dependerá da capacidade de sustentar políticas públicas. Políticas essas que incentivem a inovação e reduzam barreiras de entrada ao capital internacional.

Além disso, o movimento das fintechs, aliado à expansão institucional, tende a gerar um efeito dominó no ecossistema financeiro. A integração de stablecoins, tokenização e infraestrutura on-chain representa o próximo estágio da revolução digital brasileira.

O Brasil vive um momento singular.

Em síntese, o Brasil tornou-se referência global em inovação financeira sem abrir mão da segurança e da regulação. Ao unir maturidade institucional, avanço tecnológico e um ambiente favorável à experimentação, o país reforça seu protagonismo na nova economia digital. Portanto, a ascensão cripto brasileira não é apenas um reflexo de adoção do Bitcoin, mas um indicativo de liderança — e o mundo está observando.