Catalunha planeja sistema de identidade digital baseado em blockchain

Governo da região diz que a ideia do projeto é fortalecer a cidadania

A Catalunha, comunidade autônoma situada no nordeste da Espanha, anunciou que tem planos para adotar um sistema de identidade digital autossoberano, baseado em blockchain, chamado IdentiCAT. A tecnologia chamou a atenção da criptosfera porque tem como objetivo validar, de forma independente, os dados de identificação dos cidadãos catalães, usando um registro descentralizado, em vez dos métodos tradicionais do governo espanhol.

Mas o IdentiCAT não é exatamente sobre blockchain. A ideia de um sistema de identidade digital autossoberano tem muito mais a ver com questões políticas, ligadas à campanha separatista da Catalunha, do que com tecnologia. E o momento do anúncio do projeto também não foi uma coincidência: em 11 de setembro é celebrada a Diada, festa que marca o dia oficial da Catalunha. Milhares de pessoas se reuniram no Centro de Barcelona para comemorar a data e se manifestar a favor de que a região se torne independente da Espanha, além de exigir a libertação de líderes separatistas presos.

Para Jose Antonio Bravo, consultor de tecnologia e contabilidade de blockchain que mora na Espanha, o IdentiCAT é uma boa ideia. O problema, segundo ele, é que o sistema será implementado no pior momento possível.

“O conflito político na Catalunha não permite que um projeto descentralizado de identidade digital seja gerenciado de forma pacífica”, acredita Bravo.

De fato, algumas pessoas na região dizem que o anúncio de um sistema de identidade descentralizado deve ser visto como nada menos do que uma provocação política – uma mensagem ao governo espanhol de que a Catalunha está reforçando seus planos de independência.

Capacitar os cidadãos

Os primeiros sinais dos planos da Catalunha de adotar um sistema de identidade descentralizado – e, de certo modo, transformar a tecnologia blockchain em arma política – surgiram no fim de agosto, quando o governo local aprovou um orçamento de € 4 milhões para construir um departamento de blockchain que desenvolvesse uma série de serviços públicos.

Não por acidente, o IdentiCAT, disponível somente para os catalães, é um desses serviços. Ao anunciar o projeto, Quim Torra, presidente da Catalunha, explicou que a escolha de dados individuais compartilhados pelo sistema será feita de forma voluntária pelos cidadãos.

“Este governo pretende colocar as pessoas no centro de suas políticas, incluindo as digitais”, afirmou Quim Torra.

O presidente catalão acrescentou que o IdentiCAT é projetado para fortalecer a cidadania. Já o ministro de Políticas Digitais e Administração Pública, Jordi Puigneró, emitiu um comunicado dizendo que alguns poderiam questionar o projeto por medo de delegar poderes ao povo.

“Vamos ser um país que caminha para a frente”, garantiu Puigneró.

Sob a perspectiva da Espanha, não há nada para comemorar em relação aos planos da Catalunha de seguir em frente por meio de uma plataforma de identidade autossoberana. Segundo o consultor de tecnologia Jose Antonio Bravo, é por isso que implementar o IdentiCAT não será tão fácil quanto parece.

E, embora o governo da Catalunha enfatize a intenção de capacitar os cidadãos, falta ao projeto em si, do ponto de vista tecnológico, a visão revolucionária da sua política.

De acordo com o escritor Alex Preukschat, coordenador do Blockchain España, as iniciativas catalãs e espanholas para construir seus modelos de Estado-nação têm visões centralizadas. Por outro lado, a descentralização, através do blockchain, está focada na criação de uma total autonomia do indivíduo para gerenciar sua identidade.

“A sociedade como um todo está evoluindo para a criação de organizações descentralizadas ou mesmo autônomas”, diz Preukschat.

No entanto, existem muitos obstáculos no caminho da implementação do IdentiCAT. E, se os outros conflitos com a Espanha servirem de indicação, a Catalunha terá uma longa estrada pela frente.

* Imagem: ar130405 por Pixabay.
Fonte: Decrypt

 

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Foto de Simone Gondim O autor:

Jornalista, revisora e roteirista, apaixonada por tecnologia e especializada em conteúdo.