CEO da Cargill Brasil alerta família e amigos de Bolsonaro: “não é inteligente insultar a China”
Bolsonaro escolheu a China como alvo, mas o resultado pode não ser o ideal, como aponta Paulo Sousa
Insultos de funcionários do governo brasileiro voltados para a China, o principal parceiro comercial do país, são prejudiciais aos interesses comerciais do Brasil e “não muito inteligentes”, disse esta semana o diretor executivo das operações locais da Cargill.
A postura agressiva contra a China, às vezes adotada por membros do governo de direita do presidente Jair Bolsonaro, é “uma grande causa de preocupação”, disse Paulo Sousa em entrevista a um jornal local transmitido ao vivo nas mídias sociais.
Bolsonaro criticou no passado o crescente papel econômico da China no Brasil e alinhou seu país aos Estados Unidos.
Seu filho Eduardo Bolsonaro, Deputado Federal, em março acusou a China de espalhar o novo coronavírus para outros países, e o agora ex-Ministro da Educação, Abraham Weintraub, sugeriu em abril que a doença ajudaria a China a “dominar o mundo” em um post no Twitter que zombava do sotaque chinês.
“Temos o papel de fornecer alimentos ao mundo, independentemente da cor, raça, credo ou preferência política de um país”, disse Sousa. “Portanto, não é adequado que funcionários do governo brasileiro insultem nosso maior cliente. Eu diria que nem é muito inteligente.”
A Cargill foi a maior transportadora de soja e milho do Brasil nos cinco meses até maio, segundo dados de agências marítimas. O comerciante de grãos sediado nos EUA exportou 8,1 milhões de toneladas de oleaginosas do Brasil e quase 342.000 toneladas de milho no período.
Sousa, que assumiu o cargo de presidente da operação da Cargill no Brasil em dezembro passado, disse que não vê risco imediato de interrupção do comércio do Brasil com a China.
Ele observou que as exportações brasileiras de soja, das quais a China é o maior comprador, estão acima das expectativas este ano. E mesmo que a pandemia da COVID-19 tenha atingido muito o Brasil, ela não interrompeu os fluxos de exportação agrícola devido à resiliência das cadeias locais de suprimento de alimentos.
“O maior risco para o agronegócio brasileiro em termos de competitividade e aceitação é o risco ambiental”, afirmou Sousa. A questão pode ser ainda mais premente do que a pandemia e a guerra comercial EUA-China, devido ao potencial de afastar os compradores, disse ele.
Fonte: MercoPress
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