Coletes amarelos, Bitcoin e protestos: uma ode à desbancarização

O que os protestos na França e Bitcoin têm em comum?

Em meados de outubro do ano passado, o governo de Emmanuel Macron, presidente francês, anunciou o aumento do preço dos combustíveis. Tudo começa aqui.

Jacline Mouraud, uma mulher “comum”, pede que Macron pare a “caça aos motoristas”, e é feita uma petição pela redução do valor dos combustíveis. As críticas se resumem nisso durante quase um mês quando, em 17 de novembro, ruas e estradas da França são tomadas por 290 mil manifestantes.

Uma semana depois, os coletes amarelos (nome dado aos manifestantes pelas suas vestes, que são obrigatórias em todos os veículos da França) se reuniram no Champs-Elysées, em Paris. Cerca de 8 mil deles estavam presentes em Paris, e mais 106 mil em toda a França.

Desde então, Macron já anunciou reuniões de emergência, anunciou aumento do salário mínimo e até mesmo reconheceu como “justa” a raiva dos franceses.

Mas o que diabos isso tem a ver com o propósito desse veículo de notícias, voltado para as criptomoedas?

Bom, você certamente já se deparou com essa imagem em algum canto da internet:

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Comecemos a ligar as coisas, ainda que tudo seja sutil: um movimento popular, de ampla aderência, e essa imagem se torna viral pela internet. Um grito de revolta do povo contra o governo e uma pessoa aparece com um colete, escrito “Compre Bitcoin”. Interessante.

Bank Run e a popularidade das criptomoedas

Agora vamos aos planos de bank run que estão tomando a França. Um bank run é quando muitas pessoas, acreditando que o banco no qual depositaram seus fundos encerrará suas atividades, começam a sacar as quantias nele depositadas. Geralmente, essas quantias são convertidas em outros ativos, como metais preciosos, títulos e talvez criptomoedas.

Por que “talvez”? Bom, é notável o crescimento da popularidade das criptomoedas na França nos últimos meses. No início de outubro, foi realizada no país uma exibição de arte em comemoração aos 10 anos do white paper do Bitcoin.

Já no início de 2019, tabacarias em Paris começaram a vender Bitcoin por meio de vouchers, ainda que o país não dê clareza regulatória para a realização deste ato. Além disso, na mesma semana, um artista de rua francês pintou um mural com um enigma, cujo resultado confere 0,26 BTC ao ganhador.

Recentemente, Vitalik Buterin comentou que a próxima onda de adoção de criptomoedas não será construída sobre hype – ou seja, algo consistente vai precisar lastrear o próximo crescimento na adoção. Talvez o empurrão que a adoção precisa esteja escondido em um país que já flerta com as criptos em diferentes ocasiões.

Tá, mas e daí?

Sintetizando as informações apresentadas acima, eis o que nós temos: um movimento totalmente do povo terá uma etapa (que talvez não seja seu pico) onde os cidadãos franceses retirarão seu dinheiro dos bancos. Trata-se de um claro levante contra o status quo, contra a forma como os bancos nos controlam por meio do sistema por eles operado.

O resultado desse levante é o investimento em outros ativos. Certo. Em um país que já flerta com as criptomoedas, digamos que a chance é, sendo otimista, considerável para a compra de criptomoedas. As criptos então tomam uma forma concreta de ferramenta disruptiva, aplicadas na prática.

Talvez, em um país que faz parte da União Europeia e já declarou que seguirá as diretrizes do grupo para regulamentar as criptomoedas, esse seja o episódio que desencadeará uma nova onda de adoção que não se baseia em hype – mas em uma necessidade real de bater de frente com os bancos. Uma oportunidade de, como afirma Rocelo Lopes em toda vez que lhe é dada a oportunidade, “sair da senzala”.

Talvez, o que está acontecendo agora é o início de um novo episódio importante no caminho para a descentralização – e, consequentemente, da desbancarização.