Como criptomoedas poderão nos ajudar caso o Brasil sofra sanções internacionais

Chances reais de sanções econômicas

Depois de tensões internacionais e muita polêmica por conta de focos de incêndio na região amazônica nos últimos dias, pela primeira vez no mandato de Jair Bolsonaro foi cogitada a hipótese de que o Brasil poderá sofrer embargos econômicos. Antes que isto realmente se concretize, já podemos tirar valiosas lições com o que tem acontecido no Irã.

Inicialmente vista como vilã econômica pelo governo persa, criptomoedas agora ajudam país a contornar sanções impostas pelos EUA

Por conta do baixo custo de energia e de problemas econômicos ocasionados por embargos econômicos impostos pelos EUA, o Irã logo se tornou um paraíso mundial para mineração de criptomoedas. Este mercado cresceu tanto que, mesmo com energia de sobra, o governo do país persa decidiu combater a atividade e apreendeu cerca de 1000 máquinas de mineração de bitcoin em junho deste ano devido à instabilidades no sistema de energia do país.

Ainda afetados pela hiperinflação e miséria, desenvolvedores iranianos decidiram dar um passo a frente e criaram a IranRescueBit, uma plataforma blockchain desenvolvida para facilitar doações humanitárias em Bitcoin, Ethereum e Litecoin, cujo diferencial é impedir o rastreio das doações pelo departamento do tesouro dos Estados Unidos e facilitar a entrada de capital externo no país.

Apesar do governo iraniano não ter participado ativamente do desenvolvimento da IranRescueBit, percebe-se porém que tem havido certa aceitação, sem registros de retaliações ou proibições, o que já pode ser considerado como uma vitória pelos entusiastas.

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Lançamento da plataforma IranRescueBit, em 15 de agosto deste ano [Foto: Samaneh Fathabadi/Al Jazeera]

Como a IranRescueBit poderia ser utilizada para inspirar o Brasil em um cenário de crise monetária ?

O modelo desenvolvido para IranRescueBit foi pensado para fins humanitários mas é adaptável e consequentemente pode servir como inspiração para qualquer atividade fim que se preste, principalmente em economias que sofrem com embargos econômicos. O que pode ser percebido em locais que sofrem ou sofreram tais medidas como a Venezuela, o Zimbábue e o Irã, é que há fuga para criptomoedas quando bancos centrais perdem o controle inflacionário e moedas digitais se mostram mais estáveis do que as moedas locais.

No caso brasileiro, em que o custo da energia é relativamente alto, podemos assumir que em uma hipótese de sanções econômicas internacionais mais severas, minerar criptomoedas seria mais atrativo do que atualmente é, mas certamente não seria tão atraente quanto no caso do Irã. Portanto, o foco de desenvolvimento desta tecnologia seria majoritariamente no comércio, em atividades rotineiras e captação de recursos do exterior.

Dado que o Brasil não vive uma ditadura totalitária e que nosso mercado de moedas digitais é relativamente desenvolvido, podemos supor que a utilização de moedas digitais seria bastante explorada neste cenário de crise, o que acarretaria em bastante desenvolvimento neste ramo, apesar do pesadelo (mesmo que hipotético) de viver uma nova crise cambial.

Foto de William Vianna
Foto de William Vianna O autor:

Engenheiro de Telecomunicações e Data Scientist, atua como Management Consultant na Austrália, onde reside e respira ares de novas tecnologias.