Como funciona a criptomoeda USDT (Tether)

A história da moeda digital que prometeu valer sempre 1 dólar.

Quando o mercado de criptomoedas começou a ganhar tração, um problema ficou evidente quase imediatamente: a volatilidade extrema. O Bitcoin podia subir 20% em um único dia — e perder a mesma porcentagem no dia seguinte. Para investidores experientes, isso fazia parte do jogo. Para quem só queria proteger patrimônio ou movimentar dinheiro com previsibilidade, era um verdadeiro caos.

Foi nesse cenário que surgiu uma ideia simples, quase óbvia, mas poderosa: e se existisse uma criptomoeda que não oscilasse? Uma moeda digital que funcionasse como um dólar dentro da blockchain, mantendo sempre o mesmo valor.

Assim nasceu o USDT, também conhecido como Tether.

A proposta era direta e sedutora: 1 USDT valeria sempre 1 dólar americano. Sem surpresas, sem picos de euforia ou quedas abruptas. Um refúgio em meio à tempestade cripto. Mas transformar essa promessa em realidade exigia algo muito mais complexo do que um bom discurso.

Por trás do USDT está a Tether Limited, empresa responsável por emitir os tokens. O funcionamento, ao menos na teoria, era simples: para cada USDT criado, a empresa manteria o equivalente em reservas. Quando entravam mais dólares, o sistema emitia novos tokens. Quando os investidores decidiam sair, o emissor devolvia os dólares.

Na prática, o USDT funcionaria como uma ponte entre o dinheiro tradicional e o dinheiro digital — um mecanismo de conversão que permitia circular valor no mercado cripto sem depender diretamente de bancos a cada operação.

Durante anos, o crescimento do USDT aconteceu quase em silêncio. Enquanto o Bitcoin dominava manchetes e despertava paixões, o Tether se consolidava nos bastidores. As exchanges passaram a usá-lo como moeda base, o que facilitou negociações, protegeu ganhos temporários e o transformou em um “porto seguro” em momentos de instabilidade.

O USDT não era a estrela do show, mas era o motor que mantinha tudo funcionando.

Com o crescimento, porém, vieram as perguntas inevitáveis. Relatórios começaram a questionar se as reservas prometidas realmente existiam na totalidade. Autoridades regulatórias passaram a observar a empresa com mais atenção. A estabilidade, que antes parecia inabalável, revelou seu ponto mais sensível: o sistema dependia essencialmente de confiança.

Se as reservas fossem insuficientes, o castelo desmoronaria. Se a confiança desaparecesse, o valor simbólico de “1 USDT = 1 dólar” poderia se romper.

Ainda assim, o USDT resistiu.

Hoje, ele é uma das criptomoedas mais utilizadas do mundo, decerto, presente em praticamente todas as grandes exchanges e em múltiplas blockchains. Ele não nasceu para enriquecer investidores da noite para o dia. Pelo contrário, nasceu para cumprir uma função específica — e a cumpriu.

Mais do que uma criptomoeda, o USDT se tornou uma engrenagem silenciosa, essencial para a liquidez e o funcionamento do mercado cripto global. Como resultado, ele conecta dois mundos que ainda tentam se entender: o sistema financeiro tradicional e a nova economia digital.

E, justamente por não chamar atenção, quase ninguém percebe o quanto ele é importante.

O autor:

André , ariano, engenheiro, empreendedor, trader de criptos profissional, palestrante e professor. Adora números, gráficos e aprender coisas novas.