Como o Bitcoin pode entrar no mundo das transações físicas no Brasil

Desvalorização do real pode ser oportunidade para o Bitcoin entrar de vez no mundo das transações físicas no país.

Aqueles que entram no mundo das finanças, seja como profissional ou como estudioso, têm como uma de suas primeiras lições aprender as três funções básicas da moeda. A mesma funciona como reserva de valor, unidade de conta e meio de transação entre pessoas em uma determinada localidade, com algumas poucas moedas tornando-se fortes o bastante para poder executar essa última função em lugares além das fronteiras nacionais de pequenos e grandes países.

Mas mesmo as moedas mais fracas executam essas funções como um todo, apesar de fatores como a inflação muitas vezes minarem tal habilidade. Enquanto isso, o bitcoin e outras criptomoedas já fazem muito bem o papel de reserva de valor e de unidade de conta. Entretanto, no quesito transações, esse mundo do mercado monetário ainda deixa muito a desejar, principalmente entre o grande público.

De fato, criptomoedas em geral ainda têm uma associação muito forte com um quarto fator que é atribuído às moedas por alguns especialistas: o papel de ativo para especulação. Mas essa é também função de moedas fracas e fortes nos mercados financeiros dentro do meio de Forex, fazendo com que as criptomoedas não sejam únicas nesse quesito.

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De qualquer forma, a virada de chave para que as criptomoedas deixem de ser um nicho dedicado a investidores e interessados em economia monetária, é a sua entrada como meio de pagamento entre as pessoas. Isso quiçá será ajudado pelos esforços dos grandes bancos centrais no nosso atual contexto de crise econômica.

Nos Estados Unidos, o Federal Reserve “imprimiu” trilhões de dólares para financiar os pacotes de auxílio à crise para empresas produtivas, financeiras e também para as famílias estadunidenses. Hoje, o FED é um dos maiores investidores do mundo por meio das bolsas Dow Jones e Nasdaq por conta de seus esforços de compra de papéis de grandes empresas para “segurar” os níveis de ganho dos acionistas destas companhias.

Viu-se algo semelhante na zona do Euro. Primeiro com o Banco Central Europeu comprando bilhões de euros de ativos de companhias dentro do continente e, logo depois, comprando títulos de dívida de seus países membros. Tudo em um esforço para evitar que a crise se aprofunde e também para liberar mais espaço para que os bancos centrais nacionais e governos federais possam executar políticas monetárias e fiscais necessárias para a recuperação econômica.

Estes eventos acabam sendo prova de que o contexto de déficit público fica cada vez mais afastado das mentes populares. É algo que se vê desde a crise de 2008, com o “quantitative easing” empregado pelo FED e pelo BCE que deu aos grandes bancos dos Estados Unidos e da Europa a liquidez necessária para evitar que o sistema financeiro fosse quebrado pelo caos instaurado graças ao estouro da bolha do subprime. A crise atual deve dar fim de vez aos receios sobre dívida pública ao nível federal, pelo menos entre países com forte lastro sobre suas próprias moedas (o Japão que o diga).

Ao mesmo tempo, o “conservadorismo” quanto ao domínio da moeda nacional sobre meios de pagamentos tidos como alternativos pode também mudar de patamar. Mesmo que isso exija uma redução na volatilidade dos mercados relacionados a criptomoedas – uma vez que estabilidade é outro fator-chave por trás do papel de transações das moedas em si –, além obviamente da aceitação do meio de pagamento.

Na internet, a aceitação do bitcoin já é algo comum. A Unicef abriu um fundo de investimentos baseado em criptomoedas em 2019 após a abertura de doações por meio desta forma de pagamento. A plataforma de streaming da Twitch também aceita criptomoedas, tendo oferecido 10% de desconto no mês de julho deste ano a usuários que comprassem assinaturas de qualquer canal no site. Em websites como Casinos.pt por exemplo, além dos métodos de pagamentos tradicionais como cartão de crédito, há uma lista de plataformas que aceitam pagamentos em criptomoedas por meio de e-wallets como Neteller e Skrill. E até companhias aéreas, como a estadunidense CheapAir, aceita uma variedade de criptomoedas como forma de pagamento, indo do bitcoin ao ethereum. Entretanto, estes websites não encontram muitas contrapartes quando saímos do ambiente virtual para o mundo físico.

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O jogo pode começar a virar por um outro fator muito importante em nossa economia: o câmbio. Não se pode deixar de notar que, desde o início da crise, o real tem ficado cada vez mais fraco frente ao dólar, ao euro e à libra, com alguns especialistas acreditando que isso é efeito de a moeda estar indo em direção ao seu verdadeiro valor no contexto econômico internacional.

O enfraquecimento do real acaba gerando perdas de poderio econômico para todas as classes no Brasil. Entre as classes menos favorecidas, é perceptível o encarecimento de alguns itens básicos que têm relação direta com mercados internacionais, seja por serem produtos importados ou com grande demanda por exportação. Já os mais abastados perdem em renda, principalmente em comparação a contrapartes internacionais que ocupam cargos semelhantes em outros países. Esse contexto pode acabar incentivando a “dolarização”, algo que já ocorre na Argentina. Essa seria a adoção do dólar como moeda nacional, seja por meios oficiais ou não, em substituição ao real brasileiro por conta de sua queda contínua em valorização.

Isso poderia gerar grandes problemas para o nosso Banco Central. Mas com isso, o bitcoin e outras criptomoedas também poderiam ver um crescimento em sua utilização para além do âmbito especulativo, com sua aceitação sendo expandida por conta de o seu valor ser associado ao dólar, além da facilidade de se utilizar tal meio de pagamento.

Este texto foi escrito de maneira independente

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Foto de Heslei de Oliveira O autor:

Entuasiasta da tecnologia blockchain desde 2017, faz de tudo um pouco quando se trata de criptomoedas - desde redação de artigos até fechamentos de acordos comerciais e de marketing. Um lema? Voa Bitcoin!