Aquisição da Poloniex pela Circle dá um vislumbre sobre o futuro das exchanges

Quando foi anunciado na segunda-feira que a Circle adquiriria a Poloniex, o foco das atenções estava nos US$400 milhões que mudariam de mãos. Foi um bom negócio para ambas as partes, de acordo com o consenso geral, e de forma alguma foi um mau negócio para os clientes da exchange, que agora experienciarão algo parecido com atendimento ao consumidor.

Contudo, as ramificações desta aquisição vão além, dando uma dica de como será o futuro das exchanges nos Estados Unidos.

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Maior conformidade, menos securities

À primeira vista, o negócio Circle-Poloniex parece uma simples troca de posse: sai o velho, entra o novo. Possuidora da cobiçada Bitlicense e operadora de muitos aplicativos populares de troca, a Circle é tudo que a Poloniex não é: móvel, de fácil uso para seus usuários e bem conectada.

Contudo, a aquisição da Poloniex é um indicador de um novo mundo onde os traders se reunirão, caracterizado por uma maior conformidade, e menos securities. Um mundo muito parecido com o reino das finanças tradicionais, que as criptomoedas um dia juraram subverter.

Não é segredo que um dos maiores apoiadores da Circle é a Goldman Sachs. A aquisição da Poloniex dá ao grupo de investimentos de Wall Street uma grande participação no jogo das criptomoedas, sem sujar suas mãos ou manchar sua reputação.

Se a Circle transformar a Poloniex e a exchange prosperar, a Goldman Sachs lucra. Se a coisa toda der errado, o problema é todo da Circle. Uma das razões pelas quais o bitcoin é uma tecnologia disruptiva é a forma como ele redistribui a riqueza daquele 1% para geeks, anarquistas e cypherpunks. Entretanto, o pêndulo tomou a direção contrária.

Agora, a velha guarda não só tem uma parcela no jogo, eles o comandam.

Wall Street adentra a esfera

A grande aquisição não garante a hegemonia instantânea da Circle no universo cripto (bem como de seus apoiadores, como a Goldman Sachs). Há muitas exchanges por aí, e muitos outros países que pretendem entrar na dança.

Contudo, dentro dos Estados Unidos, há evidências de que o Clube do Bolinha do sistema financeiro tradicional está começando a se afirmar na esfera cripto. Nathaniel Popper, do The New York Times, compartilhou um slide vazado da apresentação da Circle, que mostra um aval tácito por parte da SEC em relação ao domínio da velha guarda.

A essência do slide é:

“Vocês compram a Poloniex, colocam a casa em ordem, e nós não iremos atrás de vocês pelos seus erros do passado”. É possível que este slide tenha sido mal interpretado, tendo em vista a réplica do membro do Conselho Diretor da Coinbase, Kathryn Haun: “Após passar 12 anos com os federais, eu ficaria muito surpresa se uma agência federal fizesse uma declaração como esta.”

O que pode ser afirmado com confiança é que a Circle possui bons contatos, e não faria negócios com a Poloniex sem garantias, não importa o quão informais elas sejam, de que seus US$400 milhões não desceriam pelo ralo em virtude de uma súbita intimação.

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Poloniex ganhou um passe livre

Se a Poloniex era culpada de algum malfeito, provavelmente este se dá no sentido de não atender os padrões de conformidade. Joseph Weinberg, diretor da plataforma KYC Shyft, acredita ser este o caso, declarando:

“No passado, a Poloniex tinha muitos problemas em abarcar novos usuários e criar seu processo KYC, principalmente em virtude da sua demora em verificar novos usuários. Através desta aquisição, a Circle colocará mais pessoas trabalhando nestas questões – mais empregados para construir o processo KYC, diligenciando rapidamente. É o mesmo tipo de problema que bancos tradicionais têm quando se trata de escalamento. Os custos para se manter em conformidade continuam aumentando.”

Outro problema que a Poloniex precisará resolver é tirar da lista os tokens classificados como securities. Agências reguladoras podem negar mas, aos olhos do público, listar securities e falhar em obedecer padrões de conformidade são crimes capitais.

Não é como se a Poloniex estivesse lavando centenas de milhões de dólares como fez a BTC-e, a exchange fechada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos no ano passado, após seu operador, Alexander Vinnik, ser processado pela referida prática criminosa.

O status dos cripto tokens podem constituir securities, o que colide com as regulamentações da SEC e tem sido matéria de debates. A Bittrex tem tirado tokens de sua lista durante meses, provavelmente por esta razão, e a Bitfinex também barrou clientes dos Estados Unidos de negociarem tokens em sua plataforma.

Nessa onda causada pela aquisição da Poloniex pela Circle, um advogado especulou que um número de tokens podem ser tirados da lista da Poloniex, prevendo ainda:

“Vocês verão muitas altcoins desaparecendo das exchanges estadunidenses.”

Isso parece pouco provável, mas tokens que representem cotas em uma plataforma – sendo elegíveis para dividendos – provavelmente estarão em risco. Algumas pessoas acreditam que a compra efetuada pela Circle permitirá à exchange listar securities, uma vez que os requisitos permissivos sejam atendidos.

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Supervisão máxima de agora em diante

Exchanges atualmente são virtualmente irreconhecíveis, se comparadas aos dias livres da Mt. Gox e Vircurex, quando KYC consistia em um endereço de e-mail e senhas, armazenados em texto simples. Estas duas exchanges foram hackeadas até que nada delas sobrasse, além de muitas outras terem ficado para trás. Com exceção de grandes figuras, como Kucoin e Binance – que estão além do alcance dos reguladores estadunidenses e não permitirão depósitos fiat, de qualquer forma –  KYC/AML agora são normas obrigatórias.

Em virtude de um robusto sistema de conformidade, em conjunto com a transparência que o blockchain fornece, agências governamentais agora sabem mais sobre os usuários de criptomoedas – seus detalhes pessoais, transferências, e negociações – do que sobre investidores de outros ramos financeiros. Graças à crescente regulação, aliada ao investimento das Goldman Sachs do mundo, o futuro do dinheiro não parece mais tão diferente do passado.

Fonte: Bitcoin.com

Edição: WeBitcoin