Criptomoedas e o fim de um sistema financeiro viciado
Estados Unidos, SWIFT e a importância das criptomoedas
Bom, eu adoro viajar pelo Medium. É uma excelente plataforma, onde eu acabo lendo de tudo. Foi em um desses passeios pelo Medium que eu esbarrei com um artigo de Radigan Carter, escrito em setembro do ano passado.
A primeira frase do artigo já me fez ter vontade de ler até o final:
“Nos últimos anos, os Estados Unidos utilizaram o SWIFT como uma arma de destruição econômica.”
Se você é como eu, você já vai com um pé atrás quando as palavras são dispostas dessa forma – especialmente a parte de “arma de destruição econômica”. Mas sei lá, dessa vez, parece que havia uma sinceridade por trás da afirmação que se unia à intensidade da afirmação.
Bom, para entender a importância das criptomoedas no atual cenário econômico-financeiro, precisamos de uma aula de história antes.
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Acordo de Bretton Woods
Em 1944, já no fim da Segunda Guerra Mundial, 730 representantes de 44 países se encontraram em New Hampshire para chegarem a um acordo: o dólar americano seria a moeda de reserva do mundo para transações internacionais. É importante ressaltar aqui que, nessa época, o dólar ainda era lastreado pelas reservas de ouro dos Estados Unidos.
O plano era para unificar as moedas e facilitar as trocas internacionais. Com isso, esperava-se que o aceite do dólar americano como “moeda do mundo” favorecesse o crescimento dos países integrantes do acordo.
Então, se você nunca soube em qual ponto da história as pessoas decidiram dizer “ei, acho que deveríamos usar o dólar americano para tudo”, foi aqui que aconteceu.
20 anos depois
Na década de 60, os Estados Unidos estão imprimindo mais notas do que você fazia desenhos na pré-escola. Se você é um nerd que nem eu, vai cruzar as datas e ver que isso se deu na mesma época da guerra contra o Vietnã – e em decorrência dela. Tendo em vista a impressão absurda de notas, bem como a diminuição no crescimento do PIB do Tio Sam, é desnecessário dizer que era impossível lastrear todas as cédulas de dólar com ouro.
Então começaram os desgastes diplomáticos. A França começou a chamar o Acordo de Bretton Woods de “Privilégio Exorbitante da América”, e com razão. Bom, para cada nota de cem dólares que os EUA imprimiam, eles gastavam 3 centavos de dólar.
Agora imagine: os Estados Unidos compravam produtos com essas notas de cem dólares de outros países, quando na verdade elas custavam 3 centavos de dólar. Não sei vocês, mas no lugar da França, eu teria arranjado um apelido pior para o acordo firmado em 44.
Em 1965, o presidente francês Charles De Gaulle cansou e começou a demanda ouro dos Estados Unidos, em vez de dólar. Se o acordo consistia em uma paridade entre dólar/ouro, isso não deveria ser problema. Mas foi, uma vez que não era mais possível lastrear tudo com ouro – em 1966, apenas US$3 bilhões dos US$14 bilhões de dólares eram lastreados por ouro.
O derretimento de Bretton Woods
Em 1971, a Alemanha Ocidental e a Suíça pularam fora do acordo – e outros países estavam interessados em sair. O então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, foi em rede nacional e disse que o Acordo de Bretton Woods estava sendo suspenso temporariamente. Os países não poderiam mais trocar dólares por ouro com os EUA. Ou seja: para um país do acordo, só restaram notas desvalorizadas nos últimos anos pelo Tio Sam.
Após dois anos de tentativas de modificação do Acordo de Bretton Woods, entendeu-se que não seria possível alterá-lo.
A conclusão? Bom, basicamente a mesma coisa, o dólar continua sendo a moeda do mundo. MAS POR QUE?
Parece que ela é a opção “menos pior” após utilizar anos de tecnologia bancária. E é nesse momento que surge a Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, ou SWIFT.
SWIFT era uma calculadora de luxo
A missão original da SWIFT era processar transações internacionais utilizando a moeda de reserva do mundo, vulgo dólar americano. Ou seja, só uma calculadora de câmbio e taxas.
Tudo bem, certo. Mas como a gente chega na frase “Nos últimos anos, os Estados Unidos utilizaram o SWIFT como uma arma de destruição econômica“?
Bom, acontece que a calculadora utilizada pelos Estados Unidos faz cálculos com dinheiro de verdade. No início de 2018, quando os Estados Unidos ameaçaram aplicar sanções econômicas ao Irã (o que acabou se concretizando), o rial iraniano desvalorizou 12,5% em relação ao dólar americano durante a noite. Sim, em um período de 10 horas.
Explicando o fenômeno, quando você sabe que seu país vai ser proibido de receber a “moeda do mundo”, você corre para comprar o máximo que der. É como as coisas funcionam. Daí, aplicando regras básicas de oferta e demanda, a lógica é que o valor da moeda iraniana decline.
E isso só sob a AMEAÇA de sanções. É preocupante o fato de um único país controlar uma arma carregada de destruição econômica. Em 2015, a Rússia também foi ameaçada de não mais integrar a SWIFT, o que demonstra que esse é um comportamento recorrente e comum – “a bola é minha, se eu levar ela, acaba a brincadeira”.
Provavelmente por isso os países do oriente buscam desesperadamente alternativas ao dólar. Talvez por isso a China, mesmo odiando as criptomoedas, envolve-se cada vez mais com tecnologia blockchain. É uma questão de sobrevivência, e as criptomoedas parecem uma excelente opção.
Por isso não é de se espantar que, quando uma notícia sobre a Rússia adquirir bilhões em Bitcoins como reserva financeira surge, as pessoas não considerem algo estranho – ainda que a notícia tenha sido desmentida pelo governo russo.
Como o conteúdo do presente artigo mostra, o problema do atual sistema financeiro é muito mais profundo, é uma questão política. Radigan Carter, autor do artigo que inspirou essa peça informativa, vive e trabalha no Oriente Médio, e ele alega em sua obra que as sanções financeiras não mudam nada em um país, a não ser a vida das pessoas de classe média.
Ao tentar manipular as questões internas por meio de uma sanção econômica forçada, os Estados Unidos não afetam a vida dos governantes, apenas do povo. Por isso as criptomoedas e a tecnologia blockchain são tão importantes para nós, meros mortais, pois o movimento representa uma quebra de grilhões muito mais fortes do que imaginamos.
Sim, criptomoedas são importantes para nos libertar destas amarras. Mas como?
Esse papo fica para amanhã.