Criptomoedas entre guerras comerciais e esperança de descentralização

Copia de Contra Capa 98

Criptomoedas enfrentam volatilidade com tensões geopolíticas, decisões do Fed e o debate sobre o futuro da descentralização

Em meio a uma nova onda de tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos e ao crescimento da incerteza macroeconômica global, o Bitcoin voltou a ser testado. A administração Trump, em seu novo mandato, reaqueceu a guerra comercial com políticas protecionistas que afetaram mercados tradicionais e, consequentemente, o comportamento do mercado cripto.

Nos primeiros meses de 2025, a correlação entre Bitcoin e ativos de risco oscilou. Em janeiro, com o início das tensões comerciais, o ativo chegou a se mover de forma independente das ações, registrando uma correlação negativa. Contudo, conforme o estresse nos mercados aumentou, a correlação voltou a subir, refletindo o impacto crescente de fatores macroeconômicos sobre o desempenho do BTC.

Apesar disso, análises da Binance Research mostram que, no longo prazo, o Bitcoin continua mantendo uma identidade própria. A baixa correlação sustentada tanto com ações quanto com ouro sugere que o ativo ainda possui características únicas, podendo atuar como proteção em momentos de crise — desde que consiga reafirmar esse papel diante das novas pressões globais.

A expectativa do mercado agora se volta para o Federal Reserve. Em um cenário de estagnação econômica combinada com inflação alta, uma postura mais branda da autoridade monetária dos EUA, como cortes de juros, pode reacender o apetite por ativos alternativos como o Bitcoin. Por outro lado, uma política monetária rígida tende a penalizar o setor.

Durante a Paris Blockchain Week, Charles Hoskinson, fundador da IOG (Input Output Global) e da rede Cardano, reforçou a importância da descentralização em meio às turbulências globais. Para ele, os eventos atuais são uma prova de que a concentração de poder nas mãos de poucos — seja em governos ou corporações — representa um risco. O blockchain, segundo ele, oferece uma saída: uma estrutura descentralizada que devolve o controle aos usuários.

Hoskinson também alertou para os desafios internos da própria indústria cripto. Com a entrada iminente de gigantes da tecnologia no setor, o risco de uma “recentralização” do ecossistema é real. Ele defende que a próxima geração de blockchains una as finanças tradicionais (TradFi) e descentralizadas (DeFi) em uma só — apenas “Fi”, como ele batizou.

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Foto de Marcelo Roncate O autor:

Redator desde 2019. Entusiasta de tecnologia e criptomoedas.