Criptomoedas têm papel crescente no crime nos Bálcãs Ocidentais, diz ONG

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Redes criminosas dos Bálcãs estão movimentando dezenas de milhões de euros por meio de carteiras de criptomoedas, segundo pesquisadores da GI-TOC.

Criminosos estão utilizando cada vez mais criptomoedas em países dos Bálcãs Ocidentais como Albânia e Sérvia, de acordo com uma pesquisa da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC, na sigla em inglês).

Em um dos dois novos boletins de risco divulgados neste mês, a ONG com sede em Genebra destacou que apreender criptoativos de origem ilícita ainda é um grande desafio na região, com apenas três casos documentados de apreensões envolvendo criptomoedas na Albânia, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Montenegro, Macedônia do Norte e Sérvia até o momento.

O boletim explica que o uso ilegal de cripto cresceu junto com o uso legítimo, com volumes de transações na região estimados entre US$ 25 bilhões e US$ 30 bilhões.

Nesse contexto, Montenegro tornou-se um importante centro europeu para o uso de cripto em mercados da dark web. Além disso, o uso de criptomoedas para lavar dinheiro do tráfico de drogas aumentou nos últimos anos na Albânia e na Sérvia, segundo um boletim anterior da GI-TOC de dezembro.

Sasa Djordjevic, analista sênior da GI-TOC para os Bálcãs Ocidentais, disse que as criptomoedas estão “desempenhando um papel crescente nas atividades criminosas na região”, incluindo aumento no uso para fraudes e mineração ilegal de criptoativos.

“Grupos ligados ao tráfico de drogas estão usando cada vez mais as criptomoedas para movimentar e esconder seus lucros”, afirmou. “Algumas transações suspeitas ligadas a redes criminosas dos Bálcãs Ocidentais envolvem dezenas de milhões de euros, muitas vezes movimentadas por meio de carteiras cripto e reinvestidas em negócios legais.”

Djordjevic também observou que esses padrões costumam refletir rotas conhecidas de tráfico de cocaína da América Latina para a Europa, e que a GI-TOC identificou conexões entre criminosos dos Bálcãs Ocidentais e mercados da dark web como o Hydra, antes de seu fechamento em 2022.

Um problema em crescimento

O boletim mais recente da GI-TOC sugere que o uso ilícito continuará crescendo na região, uma vez que as autoridades locais enfrentam dificuldades para acompanhar esse tipo de atividade em termos de regulação, capacidade técnica e cooperação internacional.

“Atualmente, apenas três dos seis países dos Bálcãs Ocidentais adotaram leis sobre ativos digitais, e a implementação ainda não começou em um deles”, explicou Djordjevic.

Os três países mencionados por Djordjevic são Albânia, Sérvia e Kosovo — este último aprovou uma legislação sobre criptomoedas em novembro, mas os regulamentos complementares necessários ainda não foram adotados.

“Embora o regulamento MiCA da União Europeia ofereça um caminho para uma supervisão mais rígida, sua implementação total e consistente continua sendo um desafio, já que os Bálcãs Ocidentais ainda não fazem parte da UE”, acrescentou. “Até que a capacidade regulatória e de fiscalização seja fortalecida, a região continuará vulnerável à atividade ilícita com cripto.”

Como mencionado, os Bálcãs Ocidentais têm apenas três casos documentados de apreensão de criptomoedas, todos ocorridos nos últimos anos.

O caso mais recente envolveu a apreensão de ativos de um sindicato do crime albanês, alvo de uma operação conjunta entre novembro de 2024 e janeiro de 2025.

Trabalhando em conjunto com uma operadora de stablecoin não identificada e uma grande corretora de criptomoedas, autoridades da Albânia, Bélgica, Países Baixos, Espanha e Europol apreenderam dinheiro, contas bancárias e outros bens do grupo, incluindo carteiras físicas com US$ 10 milhões em criptomoedas.

Correndo atrás do prejuízo

No entanto, esses exemplos ainda são raros e, para Djordjevic e a GI-TOC, a situação não irá melhorar até que as autoridades da região acompanhem o ritmo das mudanças.

Isso significa que os governos devem “adotar e aplicar regulações claras” para rastrear e apreender criptoativos ilegais, além de as forças policiais precisarem “investir em ferramentas avançadas de blockchain” e em treinamentos especializados.

“Implementar as recomendações do GAFI e as regras da UE sobre cripto continua sendo fundamental, especialmente para os países que já estiveram na lista cinza do GAFI”, disse Djordjevic, acrescentando que a cooperação mais próxima com Europol, Interpol e outras agências nacionais também é uma necessidade.

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Foto de Marcelo Roncate O autor:

Redator desde 2019. Entusiasta de tecnologia e criptomoedas.