O declínio dos tokens de games: o que deu errado no mundo dos criptojogos?

Apesar dos avanços na qualidade dos jogos, tokens de criptojogos desabam em valor e revelam falhas estruturais no modelo econômico do setor.
Em um momento em que a qualidade dos criptojogos atinge novos patamares, os tokens que sustentam esse ecossistema vivem seu pior momento. Pela primeira vez, não há nenhum token de jogos entre as 100 maiores criptomoedas por valor de mercado no CoinGecko. Até pouco tempo atrás, nomes como IMX (Immutable), GALA e SAND figuravam com destaque no topo do mercado. Hoje, estão todos em queda livre.
Immutable, que chegou a ser o 31º maior token do mundo em 2023, caiu para além da posição 100 após perder 87% de seu valor em um ano. Outros tokens tradicionais, como GALA e SAND, também desabaram mais de 60% no mesmo período. Novas apostas, como PIXEL, NOT e HMSTR, não foram melhores: todas registram quedas superiores a 90% desde seus picos.
O caso do token GUN, vinculado ao aclamado game Off the Grid, ilustra bem o problema: mesmo com um dos maiores lançamentos do ano e aclamação crítica, o ativo já caiu mais de 60% desde sua estreia. Essa desconexão entre a qualidade dos jogos e o desempenho dos tokens revela uma crise mais profunda no modelo econômico dos criptojogos.
Uma das razões apontadas é o excesso de foco nos tokens como instrumentos financeiros, e não como ferramentas que agregam valor real à experiência dos jogadores. “A maioria dos jogos Web3 não são bons”, resumiu um desenvolvedor, destacando que muitos projetos colocam o token à frente da jogabilidade. Para o CEO do falido The Mystery Society, “ganância e estupidez de todos os lados estão matando o setor antes que ele possa se provar”.
Além disso, a dinâmica especulativa do mercado cripto tem se voltado para outras narrativas mais atraentes, como inteligência artificial e memecoins, desviando a atenção (e o capital) dos tokens de jogos. E quando o mercado não enxerga valor de curto prazo, a volatilidade é implacável.
A estrutura das economias dos jogos também está em xeque. Tokens lançados via play-to-airdrop ou tap-to-earn geram engajamento momentâneo, mas perdem utilidade rapidamente. O resultado são comunidades frustradas, expectativas irreais e um ciclo repetitivo de entusiasmo e colapso.
Mesmo projetos promissores enfrentam dificuldades. O estúdio de Deadrop, game que prometia romper a bolha Web3 com nomes consagrados da indústria tradicional, fechou as portas após problemas financeiros e escândalos. Outros, como Illuvium, tentaram entregar experiências ambiciosas, mas sofreram com críticas à jogabilidade e desvalorização extrema de seus tokens.
Ainda assim, há quem mantenha o otimismo. Jogos como Off the Grid, Parallel e Pixels mostram que há evolução real no setor. Mas talvez seja hora de repensar a estrutura: será que todo jogo precisa de um token próprio? Muitos players acreditam que a posse de itens digitais, como skins em blockchain, tem mais valor para os gamers do que a promessa de lucros com ativos altamente voláteis.
Enquanto o mercado busca um modelo sustentável, fica claro que o futuro dos criptojogos dependerá menos de hype financeiro e mais da criação de experiências que realmente conquistem os jogadores — com ou sem token.