Há 15 anos, um desenvolvedor de software pagou por duas pizzas com 10.000 bitcoins. Essas pizzas valeriam US$ 1,1 bilhão hoje

Ainda não é um feriado oficial — pelo menos por enquanto —, mas para muitos entusiastas de criptomoedas, o “Bitcoin Pizza Day” continua sendo uma data especial. A quinta-feira marca o 15º aniversário do primeiro uso conhecido de criptomoeda para comprar bens no mundo real.
Os 10.000 bitcoins que o desenvolvedor Laszlo Hanyecz pagou por duas pizzas da Papa John’s entregues em sua casa na Flórida, em 22 de maio de 2010, valiam cerca de US$ 41 na época. Hoje, com o bitcoin atingindo preços recordes, esses mesmos bitcoins valem US$ 1,1 bilhão.
Diversas empresas de criptomoedas estão anunciando promoções e comemorações para celebrar o Bitcoin Pizza Day. A Bitget, uma exchange de criptomoedas, anunciou que distribuirá pizzas para mais de 2.000 pessoas em encontros realizados ao redor do mundo.
Veja a história por trás do Bitcoin Pizza Day:
Começo humilde
O primeiro bitcoin foi criado no início de 2009 pelo criador ainda desconhecido da moeda digital, Satoshi Nakamoto. Tudo começou como um projeto de paixão de programadores com visão libertária, que queriam criar um sistema de pagamentos digitais que não dependesse de terceiros — como governos ou instituições financeiras — para realizar transações.
Hanyecz era um entusiasta desde o início e se tornou ativo em um fórum da internet sobre bitcoin, oferecendo conselhos técnicos sobre como minerar a moeda de forma mais eficiente.
O coração da tecnologia do bitcoin é o processo pelo qual as transações são verificadas e registradas na chamada blockchain. Computadores conectados à rede do bitcoin competem para resolver cálculos matemáticos complexos que verificam as transações; o vencedor recebe bitcoins recém-criados como recompensa, em um processo chamado mineração.
Nos primeiros dias, era possível minerar bitcoin com computadores domésticos, e Hanyecz acumulou milhares de unidades do novo ativo digital. Hoje em dia, a mineração de bitcoin se tornou um setor altamente competitivo, com empresas bilionárias usando equipamentos especializados em data centers inteiros para obter novos bitcoins.
“Sem cobertura estranha de peixe”
Nos primeiros tempos, ninguém sabia exatamente o que fazer com os bitcoins que estavam minerando. Em 18 de maio de 2010, Hanyecz resolveu fazer uma experiência e publicou uma mensagem oferecendo 10.000 bitcoins por uma pizza.
“Gosto de coisas como cebola, pimentão, linguiça, cogumelos, tomate, pepperoni etc… só ingredientes padrão, nada de cobertura estranha de peixe ou algo do tipo”, escreveu Hanyecz.
Três dias depois, ele se perguntava se precisava oferecer mais.
“Então ninguém quer me vender uma pizza? A quantia em bitcoin que estou oferecendo é muito baixa?”, escreveu ele.
Mas no dia seguinte, Hanyecz anunciou que havia conseguido trocar seus bitcoins por pizza. Segundo o livro “Digital Gold”, outro entusiasta da Califórnia pagou pela pizza da Papa John’s em troca da criptomoeda.
“Um marco importante foi alcançado”, disse outro usuário do fórum, parabenizando Hanyecz.
Crescimento impressionante
Não demorou para o bitcoin decolar após esse primeiro negócio. A criptomoeda começou a ganhar visibilidade e cresceu, em parte graças à popularidade de um mercado negro online chamado Silk Road, que aceitava apenas bitcoin.
Em fevereiro de 2014, com o bitcoin sendo negociado a cerca de US$ 600, Hanyecz se impressionava com o que a moeda havia se tornado.
“Quer dizer, as pessoas podem dizer que fui burro, mas na época foi um ótimo negócio”, escreveu Hanyecz no fórum. “Acho que ninguém poderia imaginar que isso ia crescer tanto.”
Cinco anos depois, quando o bitcoin chegou a valer US$ 11.000, Hanyecz refletiu sobre o que aquela primeira pizza significou para a moeda digital.
“Tornou tudo mais real para algumas pessoas, certamente para mim”, disse Hanyecz no programa “60 Minutes”.
Nos últimos anos, Hanyecz manteve-se fora dos holofotes e a Associated Press não conseguiu entrar em contato com ele.
Recordes históricos
Depois de muitos altos e baixos, o bitcoin parece agora firmemente enraizado no sistema financeiro tradicional. Embora ainda não tenha se popularizado como forma de pagamento do dia a dia, como para comprar uma pizza, o bitcoin se tornou popular como uma espécie de “ouro digital” — uma forma de armazenar valor.
Fundos de aposentadoria já podem comprar ETFs de bitcoin, cada vez mais empresas mantêm bitcoin como parte de seus tesouros corporativos, e o presidente Donald Trump recentemente assinou uma ordem executiva estabelecendo uma reserva governamental de bitcoin.
Na manhã de quinta-feira, o bitcoin estava sendo negociado a cerca de US$ 111.000 — um novo recorde. Esse preço dá à moeda um valor de mercado superior a US$ 2 trilhões, o que equivale aproximadamente ao da Amazon.