Eleições 2022: Como seria votar em blockchain?
A pauta, praticamente ignorada pelo governo brasileiro, poderia revolucionar o sistema eleitoral
O antigo e o “novo”
Antes de colocar o Brasil em pauta, é importante citar a confusão que ocorre nos pleitos norte-americanos. O sistema eleitoral da potência mundial, ainda executado à moda antiga, gera longas filas de espera e o “sumiço” de lotes inteiros de cédulas durante seu transporte.
Trata-se de uma pauta bastante acalorada em território ianque; afinal, os Estados Unidos são, queiram ou não admitir, o país mais importante do mundo em termos econômicos. Mais transparência e confiabilidade em seu processo eleitoral certamente causaria um impacto positivo.
Na contramão dos EUA, o Brasil faz uso de urnas eletrônicas em seu sistema eleitoral. Confira sua história, além de suas principais características.
Sobre as urnas eletrônicas
As urnas eletrônicas foram implementadas no Brasil em 1996 – dois anos após a implementação do Plano Real. Contudo, o Brasil não foi pioneiro nesse sentido; em 1990, o governo indiano passou a utilizar a primeira geração do dispositivo. Em 1991, os Países Baixos também passaram a utilizá-las.
De acordo com o Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Social (IDEA Internacional), 23 países fazem uso de urnas eletrônicas. Além disso, outros 18 países utilizam-nas apenas para pleitos regionais. Contudo, a tecnologia varia de acordo com cada país.
A urna eletrônica utilizada no Brasil computa os votos registrados em cada urna de maneira embaralhada e criptografada. Dessa forma, não é possível identificar quem votou em quem. Momentos antes do pleito, a urna emite a zerézima – um comprovante de que não há nenhum voto registrado previamente no equipamento.
Quando o pleito é encerrado, o sistema interno da urna emite o Registro Digital de Voto, que registra o total de votos registrados. Os dados são escritos em um dispositivo de armazenamento físico, intitulado Memória de Resultado, de acesso restrito à Justiça Eleitoral.
É importante citar que as urnas eletrônicas não são conectadas à internet; portanto, um ataque hacker só seria possível mediante acesso direto ao equipamento. O próprio TSE solicitou a criação de um software Linux offline, de código fechado. Isso significa que usuários não autorizados são proibidos de auditar o código do dispositivo.
Por fim, um fato é digno de nota: segundo informações da Folha, apenas Brasil, Bangladesh e Butão trabalham com urnas eletrônicas que não emitem comprovante de votação.
Votação em blockchain
Durante muito tempo, sistemas online de votação foram rechaçados por políticos e especialistas devido a questões (compreensíveis) de segurança. Hackers estão sempre à espreita, afinal, e segurança digital é um assunto que deve ser levado muito a sério.
Contudo, as tecnologias blockchain apresentam um sistema criptográfico muito mais robusto que qualquer outra criada anteriormente pelo homem. Não à toa, os sistemas bancários de todo o globo estão sendo substituídos por soluções blockchain.
Dada a natureza imutável e pesadamente segura da tecnologia blockchain, votações online deixaram de ser um delírio incrivelmente arriscado.
Votações em blockchain podem ser executadas tanto em urnas eletrônicas como por meio de dispositivos particulares. Por conta de seu sistema criptográfico complexo, seria necessário fraudar todos os blocos gerados durante a votação para conseguir manipular as eleições; isso seria realmente fácil de auditar, sobretudo se o processo fosse (idealmente) realizado em blockchain pública.
Votações em blockchain já estão sendo testadas?
Sim. No estado da Virgínia, nos Estados Unidos, um piloto foi executado para que militares votem remotamente via soluções blockchain, de acordo com dados da Chamber of Digital Commerce.
A Rock and Roll Hall of Fame utilizou a blockchain Votem para registrar 1,8 milhão de votos. O ecossistema disponibiliza tokens de votação, permitindo que cidadãos votem online, inclusive por meio de seus smartphones. O níveis de segurança, auditoria e confiabilidade mostraram-se altíssimos.
Considerações finais
De maneira resumida, tecnologias blockchain são capazes de minimizar drasticamente os discursos fanfarrões e polemistas: pleitos incrivelmente seguros, auditáveis e transparentes, capazes de emitir comprovantes igualmente auditáveis pelos votantes. Trata-se de algo que nenhuma outra tecnologia foi capaz de oferecer.
Tendo em vista que o governo brasileiro é inerentemente corrupto e voraz em seus discursos, independentemente de quem ocupa o Trono de Ferro, é natural que certos indivíduos desconfiem da integridade das urnas. Da mesma forma, os norte-americanos que estão incomodados com o sistema defasado de cédulas têm toda a razão.
Afinal, indivíduos capazes de roubar verba da merenda de crianças são perfeitamente capazes de fraudar eleições; não se trata, obviamente, de uma comparação absurda. Dito isso, implementar um sistema trustless de votação é obrigatório.
Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.