Entenda por que o Japão quer sua própria criptomoeda

Os legisladores japoneses disseram hoje que estão preparando uma proposta para uma nova versão digital do iene. Mas por que?

O Japão está se juntando a uma lista crescente de países ao redor do mundo, com ideia de ter à sua própria criptomoeda apoiada pelo Estado.

Norihiro Nakayama, vice-ministro parlamentar das Relações Exteriores do Japão, disse à Reuters hoje mais cedo que os parlamentares estão pensando em emitir sua criptomoeda nacional, a moeda nacional do país. O projeto seria uma junção entre o governo e várias empresas privadas com sede no Japão, com o objetivo de manter seu país um passo à frente no universo do dinheiro digital.

Nakayama disse que a proposta para a moeda pode ser apresentada já em fevereiro deste ano.

Então, por que o Japão quer sua própria criptomoeda? Duas razões: China e Libra do Facebook.

Planos da China para uma moeda digital

A China vem pressionando por um yuan digital desde 2014. Embora muitos detalhes do projeto permaneçam desconhecidos, muitos vizinhos da China estão preocupados, incluindo o Japão.

Uma das maiores preocupações do Japão envolve a ideia de que a China procurará estabelecer o yuan digital como moeda de liquidação. O ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, explicou à Reuters que este seria um “problema muito sério”, considerando que seu país usa principalmente dólares para liquidar transações.

Há também um medo predominante de que a moeda digital da China possa ser usada como uma forma de vigilância financeira – uma maneira de espiar os detalhes financeiros íntimos de qualquer pessoa que faça transações com a moeda. Mu Changchun – chefe do instituto de pesquisa de moeda digital do Banco Popular da China – fez tentativas em novembro do ano passado para conter esses medos. Ele disse que os usuários ainda poderão realizar transações anônimas e que o yuan digital foi projetado principalmente para “aumentar a inclusão financeira” nas regiões rurais.

Desde então, a China acelerou sua moeda digital no banco central. Mas, de fato, foi a introdução do projeto stablecoin do Facebook, Libra, que acelerou o trabalho da China no yuan digital, de acordo com Wang Xin, diretor do Banco Popular da China.

Em uma conferência em julho passado, Xin comentou que uma moeda digital sedeada nos EUA como a Libra poderia prejudicar a infraestrutura financeira de seu país.

A ameaça da Libra

Apesar dos obstáculos apresentados pelos órgãos reguladores globais desde que foi anunciado pela primeira vez em junho do ano passado, o projeto liderado pelo Facebook continua pressionando. Na semana passada, foi apresentado o novo “Comitê Diretor Técnico”, que consistirá em cinco membros inaugurais encarregados de supervisionar o desenvolvimento do projeto. Em novembro, o testnet da Libra já havia processado mais de 50.000 transações em 34 projetos trabalhando em sua blockchain.

Chuanwei Zou – economista-chefe da gigante chinesa de mineração Bitmain – explicou em entrevista à NPR que a Libra “representa uma enorme ameaça” quando se trata de pagamentos móveis. A China, na maioria das vezes, depende muito de pagamentos móveis por meio de plataformas como WeChat e Alipay, e a Libra pode potencialmente atrapalhar essas plataformas.

Mas o Japão pode ter preocupações diferentes em relação a Libra. Em julho passado, o Nikkei Asian Review informou que os legisladores japoneses estavam preocupados com a dificuldade de regular Libra. Eles disseram que, como a Libra está atrelada a uma cesta de diversificadas de moedas, isso não deixaria ela se vincular à política governante de qualquer país.

Mas, considerando a debandada de apoiadores da Libra – com a gigante britânica de telecomunicações Vodafone sendo o última grande parceira a abandonar a Associação Libra – Japão, China e outros países podem não ter muito com o que se preocupar no final.

Fonte: Decrypt

 

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Foto de Bruno Lugarini O autor:

Estudante de Sistema da Informação, técnico de informática, apaixonado por tecnologia, entusiasta das criptomoedas e Nerd.