O Ethereum 2.0 será tão descentralizado quanto dizem?
Apesar de a proposta ser interessante e resolver vários problemas pontuais da blockchain, alguns pontos devem ser questionados.
Ethereum 2.0
A grande atualização da blockchain do Ethereum está atrasada há quatro anos, pelo menos. Vitalik Buterin, principal fundador do projeto e criador da linguagem de programação Solidity, critica o modelo atual de mineração, o Proof-of-Work (PoW), também conhecido como Prova de Trabalho, afirmando tratar-se de um sistema que leva à centralização.
Por meio do Ethereum 2.0, o protocolo de consenso da rede mudará para Proof-Of-Stake (PoS), ou Prova de Participação. Para minerar em PoS, o usuário deve bloquear temporariamente uma determinada quantidade de tokens em uma carteira específica.
As criptomoedas em staking (bloqueio) ajudam a trazer segurança, estabilidade e velocidade à rede. Os investidores são recompensados com novos tokens durante o processo.
Porém, alguns pontos devem ser levados em consideração quando falamos de descentralização do processo de mineração.
It won’t be June, but likely in the few months after. No firm date yet, but we’re definitely in the final chapter of PoW on Ethereum
— Tim Beiko | timbeiko.eth 🔥🧱 (@TimBeiko) April 12, 2022
Valor elevado
Para começar a fazer staking, será necessário bloquear o valor mínimo de 32 ETH. Segundo dados do CoinGecko, 1 ETH vale cerca de U$ 2.408; isso significa que, caso o token continue nesse valor até a atualização, será necessário investir US$ 77.056 (R$ 395.459).
Espera-se, obviamente, que o valor da criptomoeda suba após a atualização, o que tornará o staking ainda mais caro. Dentro do cenário atual, é mais barato montar um “rig” de mineração de Ethereum, contendo várias GPUs (placas de vídeo).
Exclusão de usuários
Se a mineração por prova de trabalho é cara e excludente, pois atualmente exige uma grande quantidade de máquinas, além de energia barata para poder funcionar, o modelo de participação é um início que automaticamente exclui as carteiras dos pequenos investidores.
Ainda que a eficiência de um “rig” de mineração simples não seja muito alto, é possível começar por baixo e escalar o investimento ao longo do tempo; no caso do staking proposto pelo Ethereum, imagina-se que apenas grandes players serão capazes de rentabilizar de maneira satisfatória.
Lido e centralização
Enquanto a atualização está sendo finalizada pelos desenvolvedores, o staking já começou: cerca de 10 milhões de ETH estão bloqueados até o lançamento. A Lido, pool de staking, está trabalhando na produção de novos tokens na Beacon Chain, a nova rede criada para o protocolo.
Esta pool possui cerca de 1/3 de todos os tokens ETH 2.0 em custódia. Além disso, todos os que depositaram o criptoativo são reembolsados com stETH, o que permite ganhar recompensas durante o período sem ter de bloquear todo o seu saldo para isso.
Sendo assim, a pool garante ainda mais recompensas que qualquer outra. Com isso, espera-se que ela cresça vertiginosamente pouco antes e após o lançamento oficial da atualização – trazendo consigo uma sensação real de centralização.
Conclusão
Possuir 32 ETH não é para qualquer um, e não estamos falando apenas sobre brasileiros: US$ 77 mil é muito dinheiro – até para os padrões anglo-saxões, europeus e asiáticos.
Pode ser uma boa ideia repensar o montante mínimo necessário para realizar staking; afinal, se o objetivo é tornar a mineração mais acessível para todos, o custo inicial deve ser menor que o atual.
Mas não vejo esta preocupação por parte dos desenvolvedores do Ethereum: na verdade, parece que toda a coisa foi planejada justamente para transmitir uma noção artificial de descentralização, pois exclui a imagem de grandes players em suas enormes fazendas de mineração, com máquinas até onde o olho humano consegue observar.
Vários projetos concorrentes, como Polkadot, Cardano e Avalanche oferecem soluções muito mais inteligentes no que se refere à distribuição do poder computacional da rede. Se você pretende entrar no jogo, estude outras possibilidades mais viáveis e distribuídas.
Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.