O Ethereum 2.0 será tão descentralizado quanto dizem?

autoral08 interna
Vitalik Buterin, fundador do Ethereum. Imagem: The Capital Advisor

Apesar de a proposta ser interessante e resolver vários problemas pontuais da blockchain, alguns pontos devem ser questionados.

Ethereum 2.0

A grande atualização da blockchain do Ethereum está atrasada há quatro anos, pelo menos. Vitalik Buterin, principal fundador do projeto e criador da linguagem de programação Solidity, critica o modelo atual de mineração, o Proof-of-Work (PoW), também conhecido como Prova de Trabalho, afirmando tratar-se de um sistema que leva à centralização.

Por meio do Ethereum 2.0, o protocolo de consenso da rede mudará para Proof-Of-Stake (PoS), ou Prova de Participação. Para minerar em PoS, o usuário deve bloquear temporariamente uma determinada quantidade de tokens em uma carteira específica.

As criptomoedas em staking (bloqueio) ajudam a trazer segurança, estabilidade e velocidade à rede. Os investidores são recompensados com novos tokens durante o processo.

Porém, alguns pontos devem ser levados em consideração quando falamos de descentralização do processo de mineração.

Valor elevado

Para começar a fazer staking, será necessário bloquear o valor mínimo de 32 ETH. Segundo dados do CoinGecko, 1 ETH vale cerca de U$ 2.408; isso significa que, caso o token continue nesse valor até a atualização, será necessário investir US$ 77.056 (R$ 395.459).

Espera-se, obviamente, que o valor da criptomoeda suba após a atualização, o que tornará o staking ainda mais caro. Dentro do cenário atual, é mais barato montar um “rig” de mineração de Ethereum, contendo várias GPUs (placas de vídeo).

Exclusão de usuários

Se a mineração por prova de trabalho é cara e excludente, pois atualmente exige uma grande quantidade de máquinas, além de energia barata para poder funcionar, o modelo de participação é um início que automaticamente exclui as carteiras dos pequenos investidores.

Ainda que a eficiência de um “rig” de mineração simples não seja muito alto, é possível começar por baixo e escalar o investimento ao longo do tempo; no caso do staking proposto pelo Ethereum, imagina-se que apenas grandes players serão capazes de rentabilizar de maneira satisfatória.

Lido e centralização

Enquanto a atualização está sendo finalizada pelos desenvolvedores, o staking já começou: cerca de 10 milhões de ETH estão bloqueados até o lançamento. A Lido, pool de staking, está trabalhando na produção de novos tokens na Beacon Chain, a nova rede criada para o protocolo.

Esta pool possui cerca de 1/3 de todos os tokens ETH 2.0 em custódia. Além disso, todos os que depositaram o criptoativo são reembolsados com stETH, o que permite ganhar recompensas durante o período sem ter de bloquear todo o seu saldo para isso.

Sendo assim, a pool garante ainda mais recompensas que qualquer outra. Com isso, espera-se que ela cresça vertiginosamente pouco antes e após o lançamento oficial da atualização – trazendo consigo uma sensação real de centralização.

Conclusão

Possuir 32 ETH não é para qualquer um, e não estamos falando apenas sobre brasileiros: US$ 77 mil é muito dinheiro – até para os padrões anglo-saxões, europeus e asiáticos.

Pode ser uma boa ideia repensar o montante mínimo necessário para realizar staking; afinal, se o objetivo é tornar a mineração mais acessível para todos, o custo inicial deve ser menor que o atual.

Mas não vejo esta preocupação por parte dos desenvolvedores do Ethereum: na verdade, parece que toda a coisa foi planejada justamente para transmitir uma noção artificial de descentralização, pois exclui a imagem de grandes players em suas enormes fazendas de mineração, com máquinas até onde o olho humano consegue observar.

Vários projetos concorrentes, como Polkadot, Cardano e Avalanche oferecem soluções muito mais inteligentes no que se refere à distribuição do poder computacional da rede. Se você pretende entrar no jogo, estude outras possibilidades mais viáveis e distribuídas.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.