Exchanges Centralizadas (CEX) não têm nada a ver com criptomoedas

A economia descentralizada pode coexistir em harmonia com os moldes tradicionais? Imagem: Bybit Learn

Exchanges Centralizadas e o mundo (nada) cripto

Pessoas acostumadas à noção artificial de que altos níveis de controle são essenciais para a saúde financeira podem sentir algum grau de incômodo com este texto. Não é possível julgá-las, no entanto; contudo, orientá-las é fundamental. Afinal, o mercado cripto tem sofrido pesadas baixas dentro do universo corporativo por tentar comportar-se como o defasado mercado tradicional.

Haider Rafique, CMO da OKX, publicou um artigo intitulado “Bitcoin é a solução para a desigualdade econômica mundial”. Ele disse que seu objetivo é “construir entendimento sobre Bitcoin” dentro do universo mainstream. Mas ele jamais disse – e jamais dirá – uma verdade complicada de engolir: exchanges centralizadas (CEX) nada tem a ver com criptomoedas.

As criptomoedas são, essencialmente, tecnologias de livro-razão descentralizadas e distribuídas; tal noção faz parte do conceito central por trás da Web3. As exchanges centralizadas, por outro lado, são basicamente o oposto. Enquanto as criptomoedas buscam eliminar a necessidade de intermediários, as exchanges centralizadas os colocam no centro do processo.

O colapso da FTX é um dos eventos mais recentes que nos mostra como a centralização ajuda as empresas a se apropriarem dos fundos dos usuários e cometerem outros tipos de corrupção. É importante notar que esses incidentes não são incomuns no mundo das exchanges centralizadas; o caso da Mt. Gox, exchange hackeada em 2014, continua a assombrar vários investidores. A centralização permite que uma única entidade tenha controle total sobre os fundos dos usuários – o que é uma receita infalível para o desastre.

Se você acredita que a regulamentação é um caminho necessário, lembre-se do caso de Bernard Lawrence Madoff, responsável por um esquema de US$ 64,8 bilhões nos Estados Unidos – e sua empresa estava totalmente regulamentada pela SEC. O embuste durou praticamente 20 anos. Isso mostra que, na verdade, a regulamentação pode até mesmo ser contraproducente; ou alguém, em sã consciência, acredita que não houve má-fé ou conivência por parte das autoridades?

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Bernard Lawrence Madoff, um dos maiores golpistas da história, faleceu em abril de 2021. Imagem: Época Negócios

Em comparação, as criptomoedas são projetadas para ser descentralizadas e transparentes, o que significa que não há uma única entidade responsável por seus fundos. Isso não significa que as criptomoedas são imunes a fraudes, obviamente; mas elas oferecem uma camada adicional de segurança e proteção contra a corrupção.

As exchanges centralizadas não têm nada a ver com as criptomoedas. Elas são estruturas completamente diferentes, com objetivos e riscos diferentes. Enquanto as criptomoedas buscam a descentralização e a transparência, as exchanges centralizadas se concentram no controle mercadológico por meio da construção de um falso monopólio orgânico.

A própria jogada de mestre de Changpeng Zhao, CEO da Binance, contra sua então rival FTX mostra a preocupação de certos executivos em controlar o fluxo financeiro: um mero post de suposta indignação causou uma verdadeira implosão no império de Sam Bankman-Fried, fundador da falida corretora. Enquanto o mainstream não aprender com os erros do passado, dificilmente colherá frutos mais frescos.

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Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.