CEO da Cloudflare alerta que IA e a internet sem cliques estão matando o modelo de negócios da web

Copia de Contra Capa 41

A inteligência artificial e as buscas sem cliques estão destruindo o modelo de negócios da internet que sustentou criadores de conteúdo nos últimos 15 anos. Essa é uma opinião compartilhada por muitos, incluindo o CEO da Cloudflare, Matthew Prince, que recentemente alertou que “as buscas impulsionam tudo o que acontece online”.

Já se sabe há algum tempo que a internet está se transformando na chamada “internet sem cliques”, em que os usuários não precisam mais clicar em links para encontrar o conteúdo que procuram.

As redes sociais pararam de promover postagens com links há anos, incentivando a publicação de conteúdo diretamente nas plataformas, para que os usuários não saiam delas. Com a chegada da IA generativa, as pessoas têm suas perguntas respondidas diretamente na página de busca do Google – sem necessidade de clicar em nenhum site para obter uma resposta.

Prince, chefe da gigante de CDN e segurança Cloudflare, falou sobre o impacto dessa internet sem cliques em uma recente entrevista ao Council on Foreign Relations. “A IA vai mudar fundamentalmente o modelo de negócios da web. O modelo de negócios da web nos últimos 15 anos tem sido a busca. A busca impulsiona tudo o que acontece online”, afirmou.

Prince também falou sobre como está desaparecendo a troca de valor entre o Google e os criadores de conteúdo. Ele observou que, quase dez anos atrás, a cada duas páginas que o Google vasculhava, uma visita era enviada ao site. Hoje, são necessárias seis páginas raspadas para gerar uma única visita, apesar do ritmo de rastreamento não ter mudado.

“Hoje, 75% das buscas são respondidas sem que você precise sair do Google”, revelou o CEO.

O gráfico abaixo explica as buscas sem clique e para onde vão esses cliques, mas isso foi antes da introdução dos resumos com IA, que provavelmente reduzirão os cliques para editores pela metade (novamente).

image 15

A ascensão dos grandes modelos de linguagem e das empresas de IA por trás deles agravou ainda mais a crise, elevando muito a proporção entre raspagem de conteúdo e visitas. Com isso, os criadores recebem retornos cada vez menores – e, com tanta raspagem de conteúdo sem permissão, muitas vezes não recebem absolutamente nada por seu trabalho.

“E assim, o modelo de negócios da web não pode sobreviver a menos que haja alguma mudança, porque cada vez mais as respostas para as perguntas que você faz não levarão à fonte original, mas sim a uma derivação dela.”

Novo: como os resumos com IA deslocam o tráfego dos editores para o Google

Não basta que os resumos com IA do Google reduzam os cliques para sites de editores 📉
O Google os projetou de forma que os poucos cliques restantes levem a paredes de anúncios irrelevantes e/ou resultados ruins de busca – Cyrus (@CyrusShepard)

Embora alguns argumentem que encontrar uma resposta rápida e de várias fontes sem clicar em vários sites seja mais fácil e conveniente, existem problemas óbvios.

O principal é que ninguém vai querer criar novo conteúdo se não receber nada ou quase nada por isso. Isso é especialmente verdade no caso de sites menores, independentes e imparciais, com os quais as empresas de IA podem não firmar parcerias. E não podemos esquecer o quanto a IA erra com frequência.

“Sam Altman, da OpenAI, e outros entendem isso. Mas ele não pode ser o único pagando por conteúdo enquanto todo mundo obtém de graça.”

Prince disse que 80% das empresas de IA usam os serviços da Cloudflare, assim como de 20 a 30% da internet. Ele acrescentou que, por sua empresa estar no centro do problema, está buscando maneiras de lidar com a situação — com sorte, antes que seja tarde demais.

O executivo também falou sobre os bilhões de dólares sendo investidos em IA generativa e a falta de retorno.

“Quanto à pergunta ‘IA é uma moda passageira? Está supervalorizada?’ Acho que a resposta é sim e não. Eu apostaria que 99% do dinheiro que está sendo gasto nesses projetos hoje está sendo jogado no lixo. Mas 1% será incrivelmente valioso. E eu não sei dizer qual é esse 1%. Então talvez todos tenhamos que queimar US$ 100 para encontrar aquele um dólar que realmente importa.”

Foto de Marcelo Roncate
Foto de Marcelo Roncate O autor:

Redator desde 2019. Entusiasta de tecnologia e criptomoedas.