Mercado cripto de agosto e expectativas para setembro

Relatório de Mercado Cripto – Agosto de 2025
Fechamento do mês e projeções para setembro
Agosto foi marcado por eventos geopolíticos, movimentos fortes nos mercados financeiros e alta volatilidade em cripto. As sinalizações dos bancos centrais (em especial do Fed) determinaram o humor do mês. E quando os bancos centrais estão no centro do noticiário, a regra é volatilidade.
Além do Fed, o comércio global também pesou. Para decidir posição e proteger patrimônio, o investidor deve levar em conta três forças: as tensões comerciais, as decisões dos bancos centrais e a dinâmica das criptomoedas (fundamentos e fluxo). Somados, esses fatores influenciam preço, liquidez e risco.
No comércio internacional, houve trégua e novos atritos diplomáticos. EUA e China prorrogaram por 90 dias a trégua tarifária (até 10/11), evitando a escalada de tarifas para 145% e mantendo o teto em 30%. A extensão do prazo proporcionou um alívio momentâneo aos mercados asiáticos, com as bolsas em alta. Mas, é importante notar que a medida reduz o ruído agora, sem remover o risco. Neste caso, as incertezas permanecem.
Ao mesmo tempo, EUA e União Europeia avançaram em um acordo comercial com teto tarifário e abertura mútua de mercados. O alívio pode ser retroativo a 1º de agosto, caso a UE agilize suas contrapartidas legislativas.
No eixo Brasil–EUA, as tarifas subiram para 50% sobre produtos brasileiros (a partir de 06/08). Embora o impacto econômico direto no Brasil seja considerado limitado (atinge menos de 36% das exportações ao mercado americano, que representam cerca de 12% do total exportado pelo Brasil), o custo diplomático é alto e está criando atrito entre as duas maiores economias das Américas.
Tréguas e atritos mudam os fluxos de comércio e de capital, o custo de financiamento e o prêmio de risco. Para o investidor, isso aparece no câmbio, na curva de juros e na liquidez, e chega direto nas criptomoedas. Esse pano de fundo explica o comportamento do Bitcoin: marcou máxima, corrigiu, reagiu às falas de Powell e aos fluxos dos ETFs.
Bitcoin: preço, volume e sentimento do mercado
No dia 14, o Bitcoin atingiu uma nova máxima histórica nos US$ 124.474 (capitalização de mercado: US$ 2,39 trilhões). Nos dias seguintes, recuou e foi até os US$ 111.684 na manhã do dia 22, horas antes do discurso de Jerome Powell no simpósio econômico de Jackson Hole.
No evento, Powell sinalizou que o Fed pode reduzir a taxa básica de juros já na reunião de setembro, citando riscos crescentes ao emprego, com a inflação ainda sob vigilância.
A mera sugestão de juros mais baixos foi o suficiente para mover os mercados. As bolsas dos EUA (S&P 500 e Nasdaq) fecharam em novas máximas e o mercado precificou 85% de chance de corte de 0,25 p.p em setembro. Os rendimentos dos Treasuries caíram e o dólar enfraqueceu.
O Bitcoin, que vinha sendo negociado na mínima semanal por US$ 111.684, deu um repique até os US$ 117.429. Uma valorização de 5,14% no intradiário.
Preço & volatilidade
Já no dia 24, o Bitcoin voltou a cair e chegou a enfrentar um flash crash abaixo de US$ 111 mil, disparado por uma única ordem vendedora de 24 mil BTC. Essa movimentação disparou liquidações forçadas de mais de US$ 550 milhões em posições alavancadas de Bitcoin e Ethereum. A venda concentrada funcionou como um choque de liquidez em um livro de ofertas raso.
Apesar do choque, o ETH reagiu e atingiu nova máxima histórica de US$ 4.956 mil no mesmo dia. A lógica seria que, em um cenário de cortes de juros (que tende a aumentar o apetite por risco no mercado global), o Ethereum, por ter uma capitalização de mercado menor, apresentaria um potencial de valorização percentual maior. Sendo assim, a estrutura de suporte de longo prazo parece intacta, apesar das sacudidas de curto prazo.
Leitura prática:
A sinalização do Fed sustenta um viés construtivo no médio prazo, mas o flash crash do dia 24 expôs os riscos de concentração e alavancagem. A tendência permanece positiva no médio prazo, mas sujeita a quedas bruscas e picos de volatilidade em momentos de euforia.
No momento, o Bitcoin está formando um range entre os US$ 108.666 e US$ 111.825. Oportunidade para compras fracionadas, se o investidor tem caixa de oportunidade e precisa aumentar sua exposição.
ETFs de Criptomoedas
A SEC adiou para outubro as decisões sobre vários ETFs, incluindo um ETF combinado de Bitcoin e Ether ligado à Truth Social (de Trump), dois ETFs de Solana (SOL) e um fundo lastreado em XRP.
Independentemente da cautela da SEC, o interesse institucional segue forte: os ETFs spot continuam recebendo bilhões em aportes. O iShares Bitcoin Trust (BlackRock), por exemplo, ultrapassou os US$ 87 bilhões em AUM. Desde o lançamento dos ETFs de Bitcoin, em janeiro de 2024, o volume negociado acumulado através desses instrumentos superou US$ 1,19 trilhão. A mensagem é clara: a integração dos criptoativos ao sistema financeiro tradicional avança de forma gradual, supervisionada e contínua.
Regulação cripto
No fim de julho, o Congresso dos EUA sancionou o GENIUS Act, a primeira estrutura legal federal para stablecoins (criptomoedas atreladas a moedas fiduciárias), com regras para reservas e emissoras. A nova lei aumentou a clareza regulatória e pressionou outras regiões a avançar: em agosto, a Europa acelerou planos para lançar um euro digital via Banco Central Europeu (BCE). Havia um debate sobre o uso de redes públicas (como Ethereum ou Solana) ou a construção de uma infraestrutura privada, numa aparente “corrida para não ficar atrás dos EUA” no uso das criptomoedas e CBDCs.
Em síntese, a regulação cripto (exemplificada pelo GENIUS Act e as decisões da SEC sobre os ETFs) estão moldando, em tempo real, o próximo capítulo das finanças digitais.
Liquidez global mais amigável = apetite por risco
A sinalização de flexibilização pelo Fed (reforçada em Jackson Hole) reduz o custo de capital e afrouxa as condições financeiras. Quando o investidor enxerga uma trajetória de juros mais baixos, os juros de longo prazo recuam, o dólar enfraquece e o crédito fica mais barato. Por isso, ativos de maior duration (bolsa, tech e, por extensão, cripto) ganham atratividade, abrindo mais espaço para ativos de risco na carteira.
Em paralelo, a trégua EUA–China e o avanço do acordo EUA–UE reduzem a probabilidade de um choque tarifário imediato. Com menos incerteza regulatória e geopolítica, o prêmio de risco encolhe.
O efeito combinado é um ambiente macro menos hostil, onde fluxos (como os de ETFs spot) encontram menos resistência para entrar e permanecer posicionados, ainda que eventos pontuais, como vimos no dia 24, possam gerar oscilações bruscas de curto prazo.
Expectativas para setembro
Agosto de 2025 confirmou o avanço da institucionalização e da regulação em cripto, mas também expôs sua volatilidade estrutural e a forte dependência do ciclo macro.
Nos próximos meses, o investidor deve monitorar três eixos: a probabilidade de corte de juros pelo Fed em setembro, o andamento regulatório nos EUA (com decisões da SEC em outubro) e a trégua tarifária EUA–China que expira em novembro. O quadro é interessante e exigente ao mesmo tempo.
A estratégia para setembro pede método em vez de decisões tomadas na euforia: melhor fazer aportes fracionados (DCA) e rebalanceamentos, evitando alavancagem.
Para o investidor conservador, o foco é definir as faixas de exposição e pontos de ajuste antes dos eventos. Além disso, é importante evitar alavancagem na véspera e manter caixa de oportunidade para aproveitar assimetrias caso o mercado mude de direção.
*Análise sobre o mercado cripto em agosto e projeções para setembro, escrita pela Ana de Mattos, Analista Técnica e Trader Parceira da Ripio, uma das maiores plataformas de criptoativos da América Latina.