O fim do Drex: quando a revolução digital parou no tempo

Depois de quatro anos de expectativas, testes e promessas, o Banco Central decidiu desligar o Drex — o projeto que deveria inaugurar a era da moeda digital brasileira. A notícia, confirmada após uma reunião técnica, trouxe não apenas um ponto final, mas um sentimento coletivo de frustração. Afinal, o Drex simbolizava um novo capítulo para a economia digital, e sua interrupção soa como o silêncio após um discurso interrompido. Além disso, a incerteza sobre o que virá a seguir aprofunda o desalento do mercado.
O Banco Central informou que criará uma nova infraestrutura, mas não garantiu o uso de blockchain. A antiga base do Drex, construída sobre a Hyperledger Besu, falhou em atender requisitos cruciais de privacidade e segurança. Assim, a decisão de encerrar o projeto marca não só o fim de uma fase experimental, mas também a quebra de um ciclo de confiança que mobilizou bancos, fintechs e empresas de tecnologia em busca de inovação.
Em agosto, o BC já havia sinalizado a retirada do blockchain na terceira fase do piloto. Agora, o projeto regride à estaca zero, com um modelo inverso: primeiro virão os casos de uso, depois a tecnologia. Essa inversão representa mais do que uma revisão técnica — revela a falta de maturidade de um projeto que nasceu grande demais para o próprio tempo.
Do entusiasmo à frustração institucional
O Drex surgiu em 2021 como uma revolução inevitável. Envolveu o mercado financeiro em uma corrida de ideias e provas de conceito que, por um momento, pareciam capazes de transformar a infraestrutura monetária nacional. A proposta inicial era ousada: criar uma moeda digital de banco central que integrasse Pix, Open Finance e tokenização de ativos.
Durante o Lift Challenge e os dois pilotos seguintes, o Banco Central recebeu 36 propostas e testou 13 projetos. As iniciativas exploraram desde crédito colateralizado em CDBs até sistemas de privacidade avançados. No entanto, conforme os testes avançavam, os limites tornaram-se evidentes. Questões de privacidade, interoperabilidade e custos travaram o avanço. Portanto, o que começou como um laboratório de inovação terminou como um lembrete das limitações da tecnologia escolhida.
O desligamento do Drex não é apenas técnico — é simbólico. Representa o desgaste de uma visão que prometeu eficiência e inclusão, mas acabou sufocada pela burocracia e pela hesitação. A ausência de um plano tecnológico definido reacende antigas dúvidas sobre a capacidade do país de liderar em inovação financeira. Além disso, o afastamento da equipe de negócios do BC das últimas reuniões reforçou a sensação de desalinhamento interno.
Um recomeço sem rumo certo
De acordo com o Banco Central, a nova fase deve priorizar o estudo de casos envolvendo Pix, Open Finance e investimentos tokenizados. A decisão, embora pareça prudente, soa como uma confissão de que a pressa em construir superou a necessidade de compreender. Assim, o recomeço do Drex surge envolto em incertezas, com o mercado dividido entre esperança e descrença.
Algumas empresas ainda apostam no potencial da tokenização e pretendem seguir explorando o tema de forma independente. Outras, cansadas das idas e vindas, migraram esforços para a inteligência artificial e novas frentes tecnológicas. No entanto, o sentimento predominante é de desapontamento. O Drex não fracassou apenas por falhas de código, mas por falta de direção.
O Banco Central atendeu também a um pedido do próprio mercado ao desligar a infraestrutura, já que o custo de manutenção não se justificava. O relatório final da segunda fase só deve sair em 2026 — tarde demais para reacender o entusiasmo. Entre técnicos e empresários, a sensação é de que o Drex virou um experimento esquecido, um protótipo que não resistiu ao teste do tempo.
O fim de um ciclo
O desligamento do Drex encerra mais do que um programa piloto — fecha um capítulo de ambição tecnológica e abre um espaço de incerteza. O que deveria ser um salto para o futuro transformou-se em uma pausa melancólica. Ainda que o Banco Central prometa um novo caminho, a descontinuidade do Drex deixa marcas profundas na confiança do ecossistema financeiro. O país perde, por ora, uma oportunidade de consolidar sua liderança em inovação digital. E o silêncio que resta é o som da revolução que não aconteceu.