“O maior impacto do blockchain ocorrerá ajudando no desenvolvimento de países”, diz professor da Universidade da Pensilvânia

A maior parte da atenção, agitação e investimento acerca da tecnologia blockchain está no ocidente, onde as pessoas estão investindo em criptomoedas e focando em suas novas aplicações, como usar blockchain para localizar vegetais após sua colheita e abastecer prateleiras. Mas, o maior impacto desta tecnologia ocorrerá no desenvolvimento de países, como Zimbábue e Venezuela.

Esta é a visão de David Crosbie, um professor da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Ele acredita que a tecnologia blockchain tratá níveis diários de conveniência e automação para ajudar a desenvolver regiões, estando convencido de que isto será possível ao afastarmos a necessidade de confiança da sociedade.

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Uma questão de confiança

Confiança é essencial para o funcionamento da sociedade.

“Há muitos anos, nós costumávamos correr pela savana, confiando apenas naqueles aos quais éramos ligados pelo sangue,” disse Crosbie em uma entrevista conferida à Bitcoin Magazine.

Ele explicou que, posteriormente, nós depositamos nossa confiança na igreja, que se valeu de ideias como inferno e condenação para fazer com que as pessoas seguissem suas regras. Após, para melhor ou para pior, nós depositamos nossa confiança no governo.

O problema é que nós demos ao governo a habilidade de nos trancafiar, tirar nossos pertences e até mesmo nos matar, em troca de uma estrutura legal confiável e previsível, ele prossegue. A tecnologia blockchain é o primeiro esforço real para expandir o modelo de confiança que obteve algum sucesso.

“Por ser tão efetivo em fornecer confiança, blockchain é mais efetivo em meios onde não há competição,” afirma Crosbie.

Em outras palavras, em áreas onde o estado não fornece uma boa estrutura de confiança, o blockchain pode dar um passo a frente e oferecer uma saída alternativa, além das leis e regulamentações existentes.

Isto não quer dizer que não há necessidade de utilizar blockchain no desenvolvimento do mundo, completa Crosbie.

“Acontece que o uso desta tecnologia no ocidente não é muito atraente. Nós já temos bons sistemas bancários e judiciários nos Estados Unidos, por exemplo, que amparam as necessidades da maioria das pessoas.” 

A vida com blockchain

Se o blockchain estabelecer seu papel em desenvolver o mundo, a vida se parecerá muito com a vida no ocidente, afirma Crosbie. Como exemplo, ele fala sobre sua necessidade recente de solicitar a renovação de uma licença para uma companhia de responsabilidade limitada. Ele realizou a pesquisa, coletou detalhes e preencheu os formulários online.

“Eu fiz tudo isso sentado na minha cadeira,” ele disse.

Em um país menos desenvolvido, uma tarefa semelhante demandaria um esforço maior. Em muitos lugares da África e da Índia, por exemplo, organizações estatais são ineficientes, sendo seus registros gravados predominantemente em papel. Renovar uma licença de negócios demandaria pegar um ônibus, ir até o centro da cidade e ficar em uma fila por horas. E, tendo em vista que computadores são muito caros nestas áreas, documentos oficiais são redigidos a mão.

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Enquanto sistemas de registro no ocidente evoluíram de papel para computador, e de computador para internet, talvez o próximo passo possa ser o blockchain – ou não, afirma Crosbie. A tecnologia blockchain pode ser uma forma de países menos desenvolvidos adentrarem estes estágios intermediários.

“Blockchain fornece algo fundamentalmente arcado pelo usuário final que provê o acesso, permitindo que documentos sejam computadorizados sem gasto de verba do governo,” ele afirma.

Melhorias na eficiência do desenvolvimento de países abririam as portas para a produtividade, pois as pessoas teriam mais tempo, segundo Crosbie. Propriedade seria comprovada com mais facilidade. Se você deseja mostrar a alguém que é proprietário de um pedaço de terra, em vez de investir um dia inteiro a procura de um pedaço de papel, você pode simplesmente mostrar um link em um blockchain.

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Crosbie afirma que a chain of custody é um outro caso de uso. Blockchain permitiria a alguém saber se as pastilhas de freio compradas para o carro são confiáveis, evitando um possível grave acidente. Ou, poderia ajudar a garantir que as vacinas recebidas em um pequeno vilarejo foram devidamente aplicadas.

Smart contracts (aplicações que utilizam blockchain e controlam a transferência de ativos digitais entre partes) também seriam de grande valia em áreas onde o sistema legal é muito custoso, lento ou duvidoso. Estabelecer uma identidade ao blockchain seria uma parte fundamental para garantir às pessoas acesso aos serviços.

Em relação aos bancos, mobile banking já existe no Quênia, através do M-Pesa e outros serviços mobile.

“O que definirá a competitividade do blockchain é se ele pode ou não ser utilizado de maneira efetiva em relação ao custo, bem como de forma rápida e confiável. Acredito que, atualmente, o blockchain ainda não está preparado,” Crosbie alertou.

Aplicação

Aplicar a tecnologia blockchain para desenvolver áreas ao redor do mundo requer uma mentalidade diferente em relação à tecnologia. Atualmente, a maior parte das tecnologias é direcionada aos Estados Unidos, onde infraestrutura e conectividade são boas, e computadores são acessíveis.

Em muitas áreas em desenvolvimento, pessoas não têm acesso a computadores ou laptops, ou até mesmo a Wi-Fi, mas possuem acesso a smartphones e conectividade através dos mesmos.

“Nós precisamos mover o foco da tecnologia dos computadores, e servidores, e redes super rápidas para smartphones em redes 3G,” afirmou Crosbie.

Isso requer inteligência não só em como os dados são escritos no blockchain, ele afirma, mas também em como os dados são interpretados. Smartphones, por exemplo, não possuem capacidade para baixar um blockchain completo, o que requer novas formas para lidar com esta questão.

“Se foi rastreado pelo blockchain, como eu vou saber que a vacina recebida na zona rural do Quênia é boa se eu não consigo interpretar os dados enquanto uso meu smartphone no corredor do hospital?” ele disse.

Crosbie ressalta a importância de buscar alternativas para movimentar grandes quantidades de dados sem depender de networks. Uma ideia seria a criação de um dispositivo USB e sua utilização no blockchain para validar a autenticidade dos dados.

“Estas são as áreas para as quais eu estou olhando,” ele afirma. “E eu acredito que é o que permitirá as pessoas a expandir o blockchain, deixando este de ser alguns milhares de nodes para ser milhões e bilhões de nodes.”

Crosbie discutirá o impacto social desta tecnologia em um painel no Fórum Econômico de Blockchain, realizado em Cingapura, que termina hoje.

Fonte: Bitcoin Magazine

Edição: Webitcoin