O que relógios de luxo e criptomoedas têm em comum? Ambos nunca desaparecerão
Entenda o que relógios de luxo e criptomoedas têm em comum
Eu estava vagando pela área de criptomoedas do Medium e me deparei com um artigo publicado no perfil do United Traders, um grupo de investidores e traders profissionais. O artigo, escrito por Matvey Danilov, que já possui outros artigos famosos na plataforma, é bem interessante.
Em um tom leve, Danilov ressalta a relação expressa no título do presente artigo: relógios de luxo e criptomoedas não irão embora. Vamos ao motivo.
Matvey, assim como eu, ressalta a sua completa falta de entendimento sobre as razões que levam uma pessoa a comprar um relógio de luxo. E por “luxo” eu não me refiro aos lendários cravejados de diamante de 100 mil dólares, mas àqueles de 1 ou até 2 milhões de Trumps.
Não que eu ache fútil, cada um gasta o dinheiro da forma como achar válida – eu, por exemplo, gasto com lanches e trecos para deixar meu apartamento menos sem graça. Mas o problema é que eu queria entender, assim como Danilov. É uma peça para mostrar status? Talvez. Mas a razão é muito mais simples do que ele e eu esperávamos.
O russo presta, dentre outros serviços, consultoria financeira para diferentes pessoas. Um dia, um de seus clientes começou a pedir ajuda para comprar relógios de segunda mão nas diferentes casas de penhor da Rússia. Danilov viu a deixa para tirar a dúvida que compartilhamos:
“Perdoe minha curiosidade, mas que estilo de vida uma pessoa aparentemente mediana deve levar para que seja necessário gastar cerca de dois mil euros semanalmente com um acessório opcional?”
E então, vejam só, duas verdades foram reveladas. A primeira é: relógios de luxo são um mercado financeiro por si só. O que acontece é que pessoas compram um relógio por um valor, vão até outro país (na Europa, por exemplo, isso é bem simples) e vendem o relógio adquirido. Reparou na simplicidade? É só colocar algo no pulso, chegar em uma loja de penhor e converter isso em dinheiro – de acordo com Danilov, os ganhos médios são de 10% – ou bem. E aqui entra a segunda verdade.
Fácil de transportar, posso ir em outro país e converter facilmente em dinheiro e posso utilizar para comprar coisas que eu normalmente não conseguiria com dinheiro fiat, por conta da rígida fiscalização governamental. Pois é, você provavelmente pensou o mesmo que eu. Criptomoedas.
Não se trata de um estilo de vida, mas de uma facilidade para operar, sem atrito, em áreas cinzas do mercado financeiro. A necessidade para transitar nessa área sempre existirá, sempre haverá demanda, e por isso as criptomoedas – e os relógios de luxo – não desaparecerão. Peguemos a Silk Road, por exemplo. Quantos quilogramas de droga não foram obtidos por meio de criptomoedas?
E se você é conservador, tudo bem. Não é só droga, qualquer outro artigo que seria de difícil acesso com moeda fiat, as criptomoedas conseguem alcançar sem esforço. Ok, ainda muito “viajado” para você? Vamos a um exemplo humanitário então.
Os venezuelanos refugiados na fronteira. Não é de conhecimento público, mas inúmeras famílias estão sendo ajudadas por meio da criptomoeda EOS – é uma forma simples que encontraram de conciliar taxas cambiais, vigilância governamental e acesso a serviços bancários. E ninguém vai abrir mão da quantidade de problemas sanados com uma única tecnologia.
Já está enraizado, é uma forma de se locomover financeiramente sem atrito que já caiu no gosto público. Danilov dá um feliz exemplo envolvendo seus clientes chineses:
“Veja a China e seu banimento total às criptos — você acha MESMO que isso funciona? Todas as pessoas que eu conheço pessoalmente e residem na China, quando precisam utilizar criptomoedas por alguma razão, continuam fazendo isso de forma bem sucedida — literalmente nada mudou.”
Ou seja, ainda que os governos tentem, forcem a mão, não adianta. Quando notícias sobre “como o mercado das criptomoedas colapsará se o Starbucks resolver nunca aceitá-las como meio de pagamento” surgem, a melhor reação que se pode ter é rir. Já existe um mercado amplo para a utilização e, enquanto o suprimento de Bitcoin declina e a demanda aumenta, as moedas só serão mais valorizadas. Enquanto houver uma exchange, as criptomoedas continuarão sendo utilizadas.
Para resumir e finalizar, cito Danilov, autor do artigo no qual esta peça se baseia, uma última vez:
“Criptomoedas assumiram o papel de lubrificante nas engrenagens que movem as partes cinzas do sistema financeiro global. Sejamos honestos: a parte puramente branca do sistema financeiro é fundamentalmente insustentável. Isso quer dizer que criptomoedas não estão em perigo e elas, bem como suas descendentes, ficarão para sempre por aqui. E ninguém poderá ignorar isso.”