O que o Rio de Janeiro pode aprender com El Salvador?

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Porto Maravalley: Rio de Janeiro quer criar hub tecnológico com foco em criptomoedas. Imagem: Portos e Navios

Indícios apontam que usuários salvadorenhos tiveram seus dados pessoais vazados, o que causou a perda de seus bitcoins; sem maiores cuidados com as informações, governos comprometem a segurança no mundo cripto.

Inovação

Conforme publicado no Diário Oficial, no dia 14 de janeiro, o prefeito Eduardo Paes anunciou que o Rio de Janeiro terá sua própria criptomoeda. Além disso, o estado pretende investir em Bitcoin e virar uma espécie de “hub” de ativos digitais.

Paes também disse que 1% do patrimônio arrecadado pelo estado será convertido em criptomoeda. Além disso, planeja criar o Porto Maravalley, área do Porto Maravilha destinada a empresas de tecnologia.

O pagamento de impostos poderá ser realizado em BTC. O usuário que pagar com cripto terá acesso a descontos exclusivos.

Comparação

Em setembro do ano passado, Nayib Bukele, presidente de El Salvador, implementou o Bitcoin como moeda oficial. Agora, empresas são obrigadas a aceitar o ativo digital, caso tenham os meios para tal.

Contudo, salvadorenhos têm reclamado da falta de segurança da Chivo, a carteira oficial do governo: hackers teriam conseguido acesso a dados sensíveis de usuários e, por meio deles, conseguiram resgatar os US$ 30 em BTC oferecidos como incentivo pelo governo.

AlphaPoint, empresa de segurança sediada em Nova York, foi contratada para implementar a Lightning Network na Chivo, além de resolver seus inúmeros bugs e falhas de segurança.

Privacidade

Ataques hacker que levam a dados confidenciais da população não são incomuns. Em fevereiro de 2021, o governo federal publicou uma nota a respeito do tema: vários veículos de imprensa noticiaram o vazamento de grandes bases de dados.

Apesar de haver algumas orientações pertinentes a respeito de privacidade e segurança, o governo não informa a dimensão do problema, suas causas e até onde será capaz de reverter a situação.

O vazamento teria ocorrido antes da implementação da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). A lei determina, entre outras coisas, o direito à privacidade de informações, além da regulação de todos os dados.

Reflexão

Caso o governo carioca opte por exigir o envio de informações sensíveis em sua carteira, para fins de filtragem de acesso, de que forma ele evitará acesso indevido por terceiros, bem como está ocorrendo em El Salvador?

O motivo dos acessos indevidos é bem claro: a centralização de informações tende a ser um grande problema quando o assunto é segurança. Por outro lado, tecnologias descentralizadas e distribuídas, como o próprio Bitcoin, são um excelente exemplo de robustez e inviolabilidade.

Pode ser que o maior problema não esteja na tecnologia cripto em desenvolvimento pelo governo, e sim nos moldes criptográficos tradicionais utilizados para salvaguardar informações dos cidadãos.

Porém, se os dois lados forem intimamente conectados, a segurança blockchain é automaticamente comprometida pela defasagem de tecnologias anteriores.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.