Opinião: Por que políticos têm dificuldades em aceitar as criptomoedas?

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Áureo Ribeiro (SOLIDARIEDADE-RJ), autor do PL sobre regulamentação das criptomoedas no Brasil. Imagem: Câmara dos Deputados

O debate público é sempre intenso quando o assunto são os ativos digitais; ideologia e manutenção das tradições de poder estão entre as principais causas.

Introdução

Você conhece o mito da Torre de Babel? Ele é encontrado em Gênesis 11:1-9 e narra a história de pessoas que queriam construir uma torre que alcançasse os céus, dando-lhes fama e centralizando os esforços da humanidade em um único lugar.

Porém, Deus interveio na obra, criando diferentes idiomas para os povos que habitavam a Terra. Tal decisão criou bastante confusão entre os obreiros, impedindo que a empreitada fosse bem-sucedida.

Em resumo, Deus não gostava da vaidade e da soberba das pessoas. Como os povos não mais se entendiam, uma grande ventania derrubou a torre e espalhou os povos pelos quatro cantos do globo.

Mas, enfim, o que isto tem a ver com política e criptomoedas?

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“The Babel Tower”, pintura de Alexander Mikhalchyk.

Cripto no Brasil

Discussões a respeito da regulamentação dos ativos digitais tendem a dividir opiniões com bastante frequência. Em linhas gerais, a opinião popular é deixada de lado para dar vida e forma às vontades de um grupo seleto burocrático – geralmente alheio às reais necessidades sociais.

A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) aprovou o PL 2.303/15, texto relacionado à regulamentação das criptomoedas no Brasil. Entretanto, as discussões a respeito da pauta poderiam ter tomado outro rumo.

Desde 2015, muitas polêmicas nortearam o debate a respeito da economia livre: o deputado Expedito Netto (PSD-RO) defendeu a proibição do uso de criptomoedas em território nacional. Porém, ao que tudo indica, não foi capaz de levar sua ideia adiante.

Cripto no mundo

O Banco Central da Rússia (CBR) propôs o banimento do uso, mineração e câmbio de criptomoedas no país; porém, Vladimir Putin, líder russo, foi contra a medida sugerida pela autarquia econômica.

Recentemente, o governo russo anunciou que será possível comprar certas commodities, como petróleo e gás, por meio de Bitcoin.

É conveniente citar que Putin manifestou-se contra o banimento dos criptoativos pouco antes de declarar guerra contra a Ucrânia. Parece óbvio – apesar de, sem provas, não passar de uma conjuntura – que o banimento não ocorreu para que os ativos digitais fossem usados como forma de burlar as esperadas sanções econômicas.

Ideologia?

As criptomoedas mostraram ao mundo – ou pelo menos tentam mostrar – que o conceito de Estado democrático de direito, em que a soberania popular seria um de seus principais alicerces, possui apenas influência decorativa.

O deputado Luiz Philippe de Orléans e Bragança (PL-RJ), anos atrás, cedeu duros comentários a respeito da regulamentação das criptomoedas. A população, em momento algum, mostrou-se favorável ao cenário regulatório proposto pelo projeto de lei.

Esta não é a primeira vez que o governo finge ouvir a população: em 2005, foi realizado um referendo sobre armamento civil. A maioria da população votou contra a proibição, mas o ex-presidente Lula não se importou com a opinião do povo a quem supostamente serviu.

Status quo

O Estado, em primeira instância, visa a sua manutenção sobre todas as coisas – mesmo que isso signifique passar deliberadamente sobre as vontades populares.

Para competir com a economia livre, descentralizada e distribuída, o governo anunciou o Real Digital: em breve, o papel-moeda deverá deixar de existir e será totalmente transferido para o mundo virtual.

Não apenas o Brasil está envolvido nesta empreitada: vários outros países estão desenvolvendo seus próprios ativos digitais para aumentar o controle e suprimir a privacidade econômica de seus usuários.

Ainda que os criptoativos não sejam regulamentáveis, pois não respondem a uma autoridade central, burocratas fazem o possível para reduzir as principais características das finanças descentralizadas (DeFi) – em geral, sem nenhum sucesso.

Conclusão

Políticos, em linhas gerais, são indivíduos que dizem falar a língua de seus povos, supostamente representando a vontade geral; porém, suas atitudes causam grande confusão e estarrecimento, uma vez que não representam, em grande medida, os anseios populares.

Políticos, em suas tristes tentativas de controlar o imparável, tratam de outro assunto central dentro da parábola da Torre de Babel: a desunião entre os povos, trazida pela divergência entre os idiomas.

Afinal, pouquíssimos são os burocratas realmente capazes de falar a mesma língua que a população: quantas vezes a opinião geral foi negligenciada a fim de garantir a todos uma falsa sensação de poder, controle e segurança?

Uma moeda digital, criada por um usuário desconhecido, conseguiu ser mais valorizada que qualquer outro ativo fiduciário criado por banco central. Tal conquista acaba com as noites de sono dos que querem perpetuar os problemas sociais, munição para a reeleição.

É incrível como textos tão antigos conseguem ser tão contemporâneos.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.