Opinião: Por que Warren Buffett odeia o Bitcoin?

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O conglomerado Berkshire Hathaway foi fundado por Warren Buffett, empresário que detesta criptomoedas. Imagem: Reprodução

Não foram poucas as falas do executivo contra o Bitcoin; entenda os motivos por trás de sua repulsa

Warren Buffet quer distância de criptomoedas

O bilionário de 91 anos, Warren Buffett, dono do conglomerado Berkshire Hathaway, é conhecido por não ter nenhum apreço pela economia descentralizada e livre. Em reunião anual com os acionistas, Buffett teceu comentários sobre a pauta.

Ele acredita que criptomoedas não são ativos produtivos e que não são capazes de produzir nada que seja tangível:

“Se vão subir ou cair em um, cinco ou dez anos, não sei. Mas uma coisa da qual tenho certeza é de que não produzem nada”.

Isto significa que Buffett segue o pensamento cartesiano: se está fora dos padrões mercadológicos tradicionais, significa que está necessariamente errado. A ideia de que bilhões de dólares são investidos em segurança, infraestrutura e negócios inovadores em Web3 não passa pela cabeça de alguém que reconhece tão somente os ativos fiduciários, regulados pelo governo, como legítimos.

Falha de raciocínio ou desonestidade?

Confira a fala de Buffett, segundo informações da CNBC:

“Se você disser: pague ao nosso grupo US$ 25 bilhões para ter 1% de participação sobre todas as terras agrícolas dos Estados Unidos, vou passar um cheque para você esta tarde. Por US$ 25 bilhões, possuo 1% das terras agrícolas. Se você me oferecer 1% de todos os prédios e apartamentos do país e quiser mais US$ 25 bilhões, eu passo um cheque, é muito simples. Mas se você me dissesse que tem todos os bitcoins do mundo e quisesse vendê-los para mim por US$ 25, eu não aceitaria. O que eu faria com isso? Teria que vendê-lo de volta para você, de uma forma ou de outra. Os apartamentos vão produzir renda e as fazendas vão produzir alimentos.”

Não é preciso analisar tão profundamente a situação para diagnosticar e tratar tantos absurdos. Warren Buffett diz que o Bitcoin é inútil, pois o dinheiro digital é, por si, incapaz de gerar algo material. Entretanto, que bem tangível o dólar americano, por exemplo, é capaz de produzir?

A resposta para esta pergunta é muito simples: dinheiro, seja ele fiduciário ou descentralizado, não passa de um mecanismo neutro para realizar trocas e controle de escassez. A própria Berkshire Hathaway, diga-se de passagem, cresceu devido ao brilhantismo de Warren Buffett e de seu braço direito, Charlie Munger, em manusear ativos financeiros.

As próprias ações da Berkshire Hathaway (BDR) são tokens digitais que têm como objetivo angariar fundos por meio de especulação financeira. A própria empresa de Warren Buffett faz uso da tokenização de ativos para ganhar dinheiro e entende que essa é uma necessidade imprescindível para a construção de um império; portanto, as desculpas esfarrapadas do velho e defasado “guru” não convencem os leitores mais atentos.

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Charlie Munger, braço direito de Buffett na Berkshire Hathaway. Imagem: Portal do Bitcoin

Problemas de reputação

O nome “Warren Buffett” não é apenas mal falado no meio cripto; outros investidores tradicionais foram vítimas de inúmeros escândalos envolvendo a Berkshire Hathaway.

Em 2016, o executivo caiu no ranking dos maiores bilionários do mundo devido ao escândalo da Wells Fargo, companhia norte-americana de serviços financeiros. A instituição foi multada em US$ 185 milhões por criar, desde 2011, dois milhões de cartões de crédito e contas correntes para seus clientes, sem autorização. A Berkshire Hathaway tinha 9,6% do banco.

Em 2017, Warren Buffett vendeu US$ 9 milhões de ações da Fox pouco antes de escândalos de assédio sexual atingirem Bill O’Reilly, apresentador da Fox News. Acredita-se que o executivo possa ter recebido informação privilegiada para evitar prejuízos. Assim que o escândalo estourou, os papeis da Fox caíram 14% – o que poderia ter custo US$ 42 milhões ao magnata.

Segundo o escritório de advocacia Wallin & Klarich, a sentença máxima para insider trading pode chegar a 20 anos em penitenciária federal.

Considerações finais

Warren Buffett é, sem dúvidas, um personagem interessante no mercado financeiro. Apesar de inúmeros escândalos e situações curiosas, ele mantém seu império praticamente intocado há décadas; ser um dos maiores pagadores de impostos dos Estados Unidos é, muitas vezes, uma bela vantagem.

De maneira geral, grandes conglomerados gostam das coisas controladas pelo governo, pois são capazes de virar uma espécie de “braço direito” das autoridades e, certas vezes, certos atos ilícitos são praticamente ignorados. Dentro do mercado descentralizado, contudo, certas atitudes tendem a ser menos toleradas.

Talvez esta seja, diga-se de passagem, uma das principais razões pelas quais Buffett faz parte da “gerontocracia financeira”, como diria Peter Thiel, CEO do PayPal.

Curiosamente, algumas das empresas que têm participação direta dentro do conglomerado, como Nubank e IBM, são verdadeiras entusiastas dos criptoativos; com o tempo, quem sabe, Buffett estará vivo para admirar o crescimento das tecnologias blockchain e descobrir o quão errado esteve durante todo esse tempo.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.