Exemplos recentes mostram que o modelo de governança de alguns projetos é praticamente o mesmo de empresas privadas.

Declínio

De acordo com dados do Defi Llama, o valor total bloqueado (TVL) do mercado de finanças descentralizadas (DeFi) é de US$ 73 bilhões em criptomoedas. Isso significa um declínio de 70% desde sua máxima histórica.

A plataforma MakerDAO (MKR) possui 10,35% de dominância sobre as outras plataformas ditas descentralizadas.

Vulnerabilidades graves e sistemas de governança patéticos reinaram sobre certos projetos nos últimos meses, o que levou ao enfraquecimento da reputação do DeFi. Isso porque, verdade seja dita, alguns deles devem utilizar a terminologia apenas para fins publicitários.

Não, não é DeFi

O desastre envolvendo a Terra (LUNA) e o colapso de sua stablecoin, a UST, parece ser suficiente: um grupo seleto de indivíduos foi capaz de tomar as piores decisões econômicas possíveis (hoje são acusados de fraude pelo governo sul-coreano), além de implementar uma bridge cross-chain mal desenvolvida e insegura.

Outro exemplo recente é a Celsius Network, uma plataforma financeira supostamente descentralizada. Desde o dia 12 de junho, usuários perderam o acesso a transferências e saques devido a “condições mercadológicas extremas”. Ainda não há qualquer previsão de retorno e o dinheiro de seus usuários continua retido até segunda ordem.

Recentemente, a Three Arrows Capital decretou falência por conta do enorme volume de liquidação. Em linhas gerais, a crise no mercado de criptomoedas, em conjunto com a exposição exacerbada a apostas alavancadas, levou ao colapso do projeto.

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Os exemplos são muitos e listar todos seria maçante. O próprio Ethereum (ETH) poderia ser classificado como uma plataforma não tão descentralizada assim. Mas esse tema será explorado noutro artigo.

Em linhas gerais, uma boa parcela dos projetos ditos “descentralizados” não o são. O conceito, apesar de parecer vago para alguns, é claro em alguns pontos: ser livre para transacionar da forma que desejar e possuir um modelo de governança que realmente escute seus acionistas são cláusulas implícitas e pétreas no que se refere ao mercado descentralizado.

Em todos os exemplos citados acima, tais conceitos mostraram-se ignorados. O resultado não poderia ser diferente: bilhões de dólares em ativos foram perdidos nessas plataformas “DeFi”.

Possíveis soluções

Em fevereiro de 2017, Vitalik Buterin, fundador do Ethereum, lançou o texto “The Meaning of Decentralization” (“O Significado de Descentralização”). Ele afirma que há muita confusão sobre o que o termo significa.

Buterin divide em três etapas a descentralização: descentralização de arquitetura (número de máquinas dedicadas a uma mesma rede), descentralização política (número de indivíduos ou organizações que controlam a rede) e descentralização lógica (a rede é capaz de funcionar como um organismo único, ou pode ser dividida e mantida funcional?).

DeFi, em linhas gerais, deveria ser algo mais ou menos assim, apesar de tais divisões serem, obviamente, debatíveis. Em todos os exemplos, contudo, há forte centralização nas áreas mais sensíveis e isso deveria ser repensado.

Na maioria das vezes, o sistema de contratos inteligentes (smart contracts) e infraestrutura do negócio segue os moldes DeFi; porém, em plataformas de investimentos, é comum que as carteiras de custódia sejam controladas por um seleto e imutável grupo de indivíduos.

Um excelente exemplo de plataforma DeFi é a AAVE: em vez de precisar acreditar na empresa de empréstimos por trás da plataforma, os usuários devem crer na qualidade do código desenhado para garantir a segurança e a integridade das transações.

Se existe um sistema centralizado de controle de fundos dos usuários, a plataforma não é DeFi. Não se trata de um ponto passível de discussão.