Opinião: Reputação no mercado cripto e a seleção natural

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O que o aumento no número de golpes envolvendo criptomoedas significa? Imagem: Federal Trade Comission

O aumento no número de golpes envolvendo criptomoedas é uma oportunidade para ressaltar projetos sérios.

Uma breve história sobre reputação

Em Atenas, na antiga Grécia, os vendedores eram vistos como indivíduos de grande respeitabilidade. Integridade e honestidade, associadas à retórica e ao domínio do idioma, ajudaram a nutrir uma reputação positiva. Havia um casamento excepcional entre Ethos (indivíduo) e Pathos (ouvir com empatia).

Contudo, a modernidade parece ter promovido alguns retrocessos na moralidade, que continuam a ser carregados com força ainda hoje. O que antes era regra, virou exceção. Podemos checar tal afirmação por meio de informações.

Segundo a ONG Transparência Internacional, o Brasil recebeu nota 38/100 e está na 96ª posição no mapa da corrupção. Ao todo, 180 países compõem o estudo. Estamos empatados com a Argentina, que eventualmente tece piadas a respeito das desigualdades que sofremos. Enfim.

De acordo com a Federal Trade Comission, cerca de US$ 130 milhões em criptomoedas foram roubados por meio de golpes digitais ao longo de 2020. Em 2021, o número saltou para US$ 680 milhões; ou seja, cinco vezes maior que no ano anterior. Em 2022, já foram registrados US$ 329 milhões em perdas.

É preciso citar que o índice não considera indivíduos que possam ter sofrido algum tipo de golpe, mas que preferiram permanecer em silêncio. Ou seja, é bem provável que o número seja consideravelmente maior.

Golpes, roubos e critério de seleção

Em geral, golpistas são bastante competentes em neuromarketing: a famosa técnica publicitária que busca “entrar” na cabeça do cliente, fazendo-o desejar seu produto ou serviço a todo custo. Afinal, um cliente obcecado dificilmente voltará atrás.

Para tanto, retóricas de identificação são muito comuns. “Eu já estive no seu lugar”, uns dizem. “Você pode dar a volta por cima, conheço a sua realidade”, outros alegam.

Quando a carne está tenra e macia, criminosos partem para o churrasco.

Tanto organizações não-governamentais como autarquias estatais estão coletando dados a respeito do funcionamento de esquemas fraudulentos. Em geral, iniciativas privadas e mais experientes, a exemplo da Chainalysis, tem mostrado grande eficácia no combate a embustes.

As estatais, por não compreender por completo o mercado e ter uma visão equivocada a respeito de regulamentações, ainda engatinham de maneira enfadonha. Uma hora ou outra, quem sabe, a situação pode evoluir.

Por outro lado, o aumento nos crimes cibernéticos relacionados a criptomoedas tem um lado positivo: o amadurecimento comunitário.

Processo de seleção natural

O número de golpes envolvendo criptomoedas aumentou porque a sua base de usuários cresceu ao longo dos anos. Com uma maior visibilidade, golpistas veem grandes oportunidades para angariar fundos dos desavisados e humildes.

Graças ao crescente número de esquemas duvidosos na rede, várias empresas começaram a ganhar reputação por conseguir diagnosticar problemas antes que eles assumam proporções preocupantes: Chainalysis, Elliptic, NYDIG e Everledger são apenas alguns exemplos de companhias em destaque.

De forma simplificada, o número de vigilantes cresceu substancialmente ao longo dos anos. Apesar de os golpes terem aumentado em número, passaram a ser desarticulados muito mais rapidamente.

Com isso, informações relevantes e acessíveis passaram a ser divulgadas com mais frequência por essas empresas e, claro, pelos órgãos de imprensa. Usuários bem-informados tendem a não cair tão facilmente em esquemas fraudulentos e conseguem garantir a integridade de suas criptomoedas.

Por fim, é óbvio que, com mais de 20 mil criptoativos presentes na rede, vários golpistas estão à espreita. O combate à desinformação e às falsas promessas faz parte de todo um mecanismo que está sendo construído a passos largos, de maneira completamente independente.

Descobrir lobos em pele de cordeiro está cada vez mais fácil por conta da livre iniciativa.

Foto de Rafael Motta
Foto de Rafael Motta O autor:

Jornalista, trader e entusiasta de tecnologia desde a infância. Foi editor-chefe da revista internacional 21CRYPTOS e fundador da Escola do Bitcoin, primeira iniciativa educacional 100% ao vivo para o mercado descentralizado. Foi palestrante na BlockCrypto Conference, em 2018.