PIX em alerta, BC adia solução do Drex e stablecoins sob câmbio

Drex em escanteio, enquanto BC reforça segurança do PIX e mira stablecoins no câmbio
O ataque hacker que expôs fragilidades
Nos últimos cinco dias, o mercado financeiro brasileiro foi sacudido por notícias preocupantes envolvendo a infraestrutura do PIX. O ataque hacker à Sinqia, provedora de tecnologia que conecta dezenas de instituições ao sistema de pagamentos instantâneos, desviou aproximadamente R$ 710 milhões. A maior parte dos recursos foi rapidamente bloqueada, mas o episódio escancarou a vulnerabilidade de empresas terceirizadas que atuam como elo entre bancos e o Banco Central. Além disso, reacendeu o debate sobre a urgência de reforçar os mecanismos de segurança digital que sustentam o sistema financeiro nacional.
Embora este não tenha sido o primeiro ataque contra provedores de tecnologia ligados ao PIX, a escalada de valores e a repercussão ampla aceleraram movimentos internos no Banco Central (BC). Assim, a autarquia decidiu adotar postura mais cautelosa em relação a projetos experimentais e priorizar medidas que garantam a integridade das operações já em funcionamento.
Drex adiado e tokenização em evidência
Até poucos meses atrás, o Drex, versão digital do real, ocupava lugar de destaque na agenda de inovação do BC. No entanto, diante da pressão causada pelos ataques recentes, a moeda digital foi empurrada para escanteio. O lançamento, inicialmente previsto para 2025, foi oficialmente adiado para 2026 e, quando ocorrer, terá formato mais restrito e técnico, sem conexão direta com o público nem uso de blockchain.
Esse movimento abre espaço para que a tokenização de ativos ganhe protagonismo no curto prazo. O setor privado já vinha testando modelos de emissão e negociação de ativos tokenizados, e agora pode se tornar o verdadeiro motor da modernização do mercado. Além disso, com regras claras e auditoria tecnológica, a tokenização surge como solução prática para ampliar liquidez e transparência em operações financeiras sem exigir a mesma exposição de riscos que o Drex traria neste momento.
O BC, por sua vez, sinaliza que prefere consolidar bases sólidas antes de dar novo salto. Portanto, reforçar a segurança do PIX e estimular iniciativas reguladas de tokenização se torna prioridade imediata.
Riscos tecnológicos no radar do Banco Central
A sequência de ataques levou servidores e gestores do BC a reforçarem os alertas. Em carta pública, representantes da autarquia destacaram que os riscos operacionais vêm crescendo de forma acelerada, e que o orçamento limitado compromete a capacidade de resposta. Dessa forma, reforçaram a necessidade de aprovar medidas como a PEC 65/23, que concederia autonomia financeira ao Banco Central e permitiria investimento robusto em segurança cibernética.
Além disso, o BC já implementa ajustes regulatórios. Entre as mudanças recentes estão o Mecanismo Especial de Devolução (MED), a funcionalidade caminho do dinheiro, o uso de inteligência artificial para monitorar transações suspeitas e a exigência de que chaves PIX estejam vinculadas corretamente a CPF ou CNPJ. A partir de outubro, os bancos também precisarão oferecer canal de contestação imediata nos aplicativos. Com isso, busca-se reduzir brechas e aumentar a confiança no sistema.
Essa guinada de foco mostra que a prioridade não é apenas inovação, mas sim resiliência tecnológica. Afinal, não adianta construir novas camadas digitais se a base existente ainda apresenta pontos frágeis explorados por criminosos.
Stablecoins ganham enquadramento cambial
Enquanto o Drex perde espaço e o PIX demanda reforços, outra frente regulatória avança: o tratamento das stablecoins. O Banco Central afirmou nos últimos dias que esses ativos digitais, por sua essência, serão enquadrados como operações de câmbio. Isso significa que, independentemente da tecnologia usada, qualquer transação que envolva troca de moeda estrangeira por real deverá obedecer às mesmas regras já aplicadas no mercado tradicional.
Essa decisão tem peso significativo. Em primeiro lugar, sinaliza que o BC não pretende permitir zonas cinzentas em que stablecoins circulem à margem da regulação. Em segundo lugar, abre caminho para cobrança de tributos como o IOF em determinadas operações. Além disso, impõe maior responsabilidade às empresas que oferecem esses ativos, que precisarão se adaptar a regras de compliance e reporte.
Embora parte do mercado veja o movimento como freio à inovação, a decisão também traz segurança jurídica e protege usuários contra riscos associados a moedas estáveis emitidas sem lastro ou controle adequado.
Conclusão
Nos últimos dias, o Banco Central mostrou que seu foco mudou. O Drex, antes carro-chefe da inovação, foi colocado em compasso de espera. A prioridade imediata é reforçar o PIX, garantir a solidez dos provedores tecnológicos e incentivar a tokenização regulada como alternativa viável. Paralelamente, o enquadramento das stablecoins como operações cambiais mostra que a autarquia busca blindar o sistema financeiro contra riscos futuros, sem deixar brechas para instabilidades. Assim, o Brasil caminha para equilibrar inovação e segurança, ajustando o passo à medida que novos desafios aparecem.