Poderia o Bitcoin acabar? Entenda de forma detalhada
Antes de começar as especulações, encaremos os fatos: Bitcoin já foi declarado morto inúmeras vezes.
Apesar do fato da primeira criptomoeda do mundo estar funcionando a todo vapor, ainda existem pessoas que preveem seu fim. Até mesmo pessoas supostamente esclarecidas estão espalhando a “síndrome do fim do Bitcoin”. Estas pessoas continuam a prever seu fim, mesmo que sejam diariamente provadas do contrário.
Partindo-se do pressuposto de que estes indivíduos possuam algum traço de inteligência, a única explicação plausível para suas previsões falhas e seus argumentos com apelo à emoção se dá através do fato de não estudarem a respeito, a fim de entender como funciona o sistema.
Isto posto, gostaríamos de listar todos os cenários nos quais a bitcoin poderia encontrar seu fim.
Tecnicamente, a bitcoin existirá enquanto alguns computadores executarem seu software em uma rede. Apenas um cenário extremo levaria à aniquilação total. É provável, então, que ela continue sendo a criptomoeda mais utilizada nos próximos anos, a menos que a comunidade a destrua por meio de ganância ou desleixo.
Cenário #1: Armageddon
Probabilidade de ocorrer nos próximos 5 anos: Praticamente nula
Impacto: Morte súbita
Caso todas as fontes de eletricidade, internet e transmissão de dados fossem encerradas ao redor do globo, os nodes da bitcoin não possuiriam meios de se contatarem. O sistema, então, seria inútil.
Uma queda temporária na internet em escala global certamente criaria certo reboliço, mas é importante notar que o sistema (teoricamente) apenas retomaria suas funções a partir da chain mais longa.
Enquanto fãs entusiastas ou museus continuem a executar seu software para sempre, tecnicamente, a bitcoin nunca estará extinta.
Cenário #2: Critical bug
Probabilidade de ocorrer nos próximos 5 anos: Baixa
Impacto: Irrelevância imediata
Neste cenário, uma atualização poderia conter um bug no mesmo nível do infame projeto DAO (criado num blockchain Ethereum), colocando a integridade do sistema em risco.
Mesmo que a comunidade concorde (o que não é garantido) em corrigir o código, instalar uma nova versão e reiniciar o sistema levaria a uma queda do preço, bem como a um fork.
A comunidade da bitcoin está ciente do risco: qualquer modificação do código é duplamente checada e testada, de acordo com as diretrizes de contribuição. Isto posto, apenas a NASA é capaz de desenvolver um código livre de falhas.
Cenário #3: Forks até a irrelevância
Probabilidade de ocorrer nos próximos 5 anos: Baixa
Impacto: Caminho lento até a irrelevância
Bitcoin poderia receber inúmeros forks, caso a comunidade discorde do caminho tomado, levando em consideração razões técnicas (ou só por causa de dinheiro).
A cisão que criou o Bitcoin Cash, ocorrida no último verão, não foi danosa à bitcoin pois os nodes e hashs da rede perderam força. Teoricamente, muitas destas cisões podem ocorrer, fragmentando a bitcoin e fazendo com que perca força.
Caso isto ocorra, acredita-se que a bitcoin perderá seu posto de dominância, lentamente se tornando irrelevante. Vale ressaltar que é de interesse da comunidade não deixar que isto aconteça.
Cenário #4: Repressão conjunta de governos
Probabilidade de ocorrer nos próximos 5 anos: Baixa para média
Impacto: Irrelevância súbita
Governos não podem destruir a bitcoin, devido a sua natureza descentralizada. Contudo, eles podem controlar e restringir seu uso em suas jurisdições.
Por exemplo, eles podem fechar as contas de criptocompanhias, ou até mesmo proibir a criação deste tipo de empreendimento. Se somente alguns países banirem as criptomoedas, teremos um impacto limitado, já que é apenas uma questão de migrar para territórios mais amigáveis.
Foi o que aconteceu quando a China baniu suas exchanges de criptomoedas no ano passado. Apesar da probabilidade de que mais governos tomem a mesma atitude é alta, acredita-se que um banimento global é impossível (imaginem a ONU discutindo sobre isso).
Além do mais, a bitcoin já foi legalizada no Japão. Contudo, o banimento por parte dos Estados Unidos, Europa, Reino Unido e China seria muito danoso.
De qualquer forma, é mais provável que os governos regulem o mercado das criptomoedas, a fim de coletar taxas e proteger investidores.
Leia mais: Entenda como os investidores chineses têm lidado com a proibição do governo.
Cenário #5: O hack dos hacks
Probabilidade de ocorrer nos próximos 5 anos: Média para alta
Impacto: Choque temporário
Este cenário poderia acontecer de diferentes formas.
Uma delas, chamada de “ataque a 51%”, um agente malicioso inserido na rede poderia tentar hackear o protocolo. Apesar de tecnicamente possível, é pouco provável que aconteça.
De um lado, os atacantes do 51% destruiriam sua própria fonte de lucro. Do outro, seria necessário um enorme investimento em equipamentos de mineração e energia, e os hackers ainda atingiriam sua fonte de lucro.
O mais provável que aconteça é um hack através de um aplicativo desenvolvido sobre o protocolo.
Quando a Mt. Gox foi hackeada em 2014 (um exemplo deste tipo de ataque), ela lidava com 70% de todas as transações de bitcoin. Atualmente, existem muito mais exchanges ao redor do mundo. Caso uma delas seja hackeada e uma grande quantia de bitcoin seja roubada, o preço cairia, mas a moeda se recuperaria.
Recentemente, por exemplo, $400 milhões válidos em NEM foram roubados da Coincheck: o preço de NEM apresentou uma queda de apenas 15% a 20%, recuperando-se em um dia.
Leia mais: É oficial! Exchange Japonesa Coincheck é hackeada, $530 milhões roubados
Cenário #6: Uma criptomoeda melhor
Probabilidade de ocorrer nos próximos 5 anos: Média para baixa
Impacto: Caminho lento até a irrelevância
É possível que uma moeda melhor substitua a bitcoin? Por “melhor”, estamos querendo dizer mais lucrativa de se minerar e com custos menores de transação, sendo todo o resto semelhante.
Verdade seja dita: é mais uma questão econômica do que de conveniência. A moeda teria que ser muito melhor, a fim de superar os efeitos da rede e do ótimo capital que a bitcoin representa atualmente.
O fato de que isto ainda não tenha acontecido fala por si só. Ademais, por razões econômicas e de governança, uma criptomoeda universal apoiada pela ONU provavelmente ainda não será criada dentro dos próximos cinco anos.
Há uma outra forma que poderia afetar a bitcoin economicamente: caso o preço da eletricidade aumente significativamente, minerar não seria mais lucrativo. Apenas locais onde a eletricidade é relativamente barata restariam.
Essa é uma dura troca custo-segurança. Bitcoin teria que encontrar uma forma de diminuir o custo com segurança, mantendo a integridade dos registros.
Cenário #7: Mercado fadigado
Probabilidade de ocorrer nos próximos 5 anos: Baixa
Impacto: Caminho lento até a irrelevância
Se as cripto startups falharem em transmitir um valor tangível ao mundo real, é possível que as pessoas comecem a perder lentamente a fé nas criptomoedas e nos tokens (algo que aconteceu durante a queda do mercado ocorrida entre 2015 e 2016).
Nesse caso, o crescimento do mercado diminuiria e o valor estabilizaria eventualmente. O cripto mercado perderia sua atratividade aos investidores que estão de fora, levando ao seu declínio e daí em diante…
Acreditamos que algumas cripto startups eventualmente sucederão em criar valor tangível no mundo real. Em todo caso, o cripto mercado ainda está em seu início e nós ainda temos tempo até que ele se torne desinteressante. Além disso, como já foi mostrado pela história, o mercado sempre pode se recuperar.
Análise originalmente feita por Sebastien Meunier, um consultor financeiro com 15 anos de experiência em negócios que envolvam inovações. Tem conhecimento sobre fintech e é um mentor veterano de startups.
Fonte: CoinDesk
Edição: Webitcoin