Post de 2018 já apontava os perigos da Atlas Quantum
Atlas Quantum já era vista com desconfiança mais de um ano atrás
De autoria do Engenheiro de Software e autodenominado cripto entusiasta, Guilherme de Paula, postagem no site Medium feita ainda em abril de 2018 já apontava os sérios riscos de se investir na Atlas Quantum. Falaremos aqui sobre os principais pontos do texto, abordando os riscos em níveis de gravidade: leve, moderado e alto. O link direto para a postagem estará no final da página.
Apenas para efeito de contexto, recomendamos a leitura de outros textos postados aqui no Webitcoin falando acerca das promessas e mentiras da Atlas Quantum. Você pode acessar esses textos clicando aqui.
Risco leve
Antes de mais nada é importante ressaltar que mudanças nos termos de uso de um produto ou serviço mudam rapidamente e, por isso, é possível que um ou mais itens desse texto possa ter sido alterado ao longo do tempo.
Segundo de Paula, o provável fator de menor risco ao investir na Atlas Quantum seria referente à perda de capital, que ele classifica como de baixa probabilidade e baixo impacto. Nos termos de uso da Atlas (à época) é deixado claro que a mesma não se responsabiliza pelas variações no Bitcoin:
“O valor inicial investido no produto Quantum pode ser resgatado a qualquer momento pelo cliente. Como qualquer investimento financeiro, há riscos de perda. A Atlas Project se exime da responsabilidade de uma possível desvalorização da moeda ou de uma variação percentual negativa da plataforma.”
O segundo fator de baixo risco ao se investir na Atlas seria referente ao trading. Esse ponto é classificado por de Paula como de baixa probabilidade e médio impacto. Vale ressaltar que esse ponto se relaciona com um tema que será abordado aqui mais de uma vez: falta de transparência.
A falta de transparência da Atlas é crítica constante da comunidade cripto. No caso do trade, um grande ganho da empresa representaria uns poucos porcentos de ganho para o cliente, enquanto uma grande perda para a mesma poderia acabar sendo descoberta apenas meses (ou anos depois), quando a Atlas já estivesse perto da insolvência.
Perder com trading é uma possibilidade real em caso de mal gerenciamento de riscos e não há uma comunicação direta de como as operações da Atlas são feitas.
Risco moderado
No lado dos riscos moderados, o colapso do Tether era uma preocupação real para de Paula em 2018. Ainda hoje há quem não confie (e com motivos) na Tether graças as polêmicas em que a mesma se viu envolvida, principalmente nos anos de 2017 e 2018. Classificada como de baixa probabilidade e alto impacto, até o presente momento não houve colapso do Tether, mas a desconfiança na stablecoin segue elevada.
O segundo fator de risco seria o roubo. Classificado como de baixa probabilidade e alto impacto, a preocupação aqui é relacionada à segurança das operações de modo geral e todo o aparato para impedir desvio de recursos por hackers e cyber-criminosos. Uma alta movimentação de ativos, como era visto na Atlas, demanda uma elevada quantidade de recursos de segurança para impedir roubos de Bitcoin.
- Veja também: Quem é você de verdade Atlas Quantum?
O terceiro ponto é vital para o debate dos riscos da Atlas. Classificado por de Paula como de média probabilidade e impacto, Falhas sérias no Sofware da Atlas Quantum ocorreram em 201, proporcionando o vazamento dos dados de 264 mil clientes da empresa.
Há também falhas que resultam e prejuízo monetário da empresa e também de clientes, de maneira individual, Acerca desses pontos não há uma posição clara da Atlas sobre soluções. Mercado Bitcoin e FoxBit já enfrentaram problemas sérios de software no Brasil, o que significa que não é um tema que deva ser desprezado.
O quarto ponto de risco moderado apontado por de Paula é o litígio. Apontado por ele como de baixa probabilidade e alto impacto, o litígio ocorre “quando há um conflito de interesses, e esta pendência pode ser resolvida com uma ação judicial ou também de forma consensual. Este último são os casos em que o autor da ação e o réu chegam a um acordo sobre os termos que entraram em litígio.”
No caso específico da Atlas Quantum temos que retornar ao fator “falta de transparência” para analisar o último ponto levantado. O autor aponta um dado interessante sobre a empresa à época (abril de 2018): trata-se de uma organização sediada nos Estados Unidos que, contudo, não autoriza que residentes desse mesmo país façam uso da plataforma.
Imagem dos termos de uso da Altas Quantum retirada do texto original
Para ter uma informação mais precisa consultamos os termos de uso da empresa no dia 28 de outubro de 2019, o mesmo dia da postagem desse texto. O que encontramos foi uma nova sede, dessa vez nas Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe. Contudo, a proibição sobre os residentes nos Estados Unidos segue em vigor, como pode ser conferido abaixo.
Termos de uso da Atlas Quantum retirado diretamente do site da empresa
Aqui notamos um perigoso limbo jurídico. Não é raro encontrar casos de empresas que fogem para países com regulações “mais frouxas” com o intuito de se ver livres do escrutínio da Comissão de Valores Mobiliários do Brasil (CVM), Receita Federal e Ministério Público Federal, dentre outros órgão de regulação e proteção.
Risco alto
O primeiro fator de risco elevado em nossa lista é apontado por de Paula como de baixa probabilidade e alto impacto. Trata-se das exchanges. Nesse quesito estar um ano e meio adiantado no tempo em relação ao texto apresenta vantagens.
Roubos de criptomoedas e vazamentos de dados envolvendo exchanges se tornaram mais constantes nos últimos anos. Como mencionado anteriormente, a própria Atlas foi responsável por vazamentos em 2018.
- Ouça nosso podcast: Giro Cripto #06 – Leasing da 3xBit, deságio na Atlas Quantum e alta volatilidade no Bitcoin
Os perigos são reais mesmo entre as grandes exchanges. Por exemplo, o roubo da Binance, considerada a maior exchange do mundo prova que manter ativos em exchanges não é seguro. No Brasil FoxBit e MercadoBitcoin já enfrentaram problemas com roubos e, infelizmente, é bastante improvável que tenha sido as últimas.
Por fim, de Paula aponta um fator sem classificação de probabilidade (sob a ótica dele) e de impacto catastrófico: a possibilidade da Atlas Quantum ser uma pirâmide financeira (sua conclusão a respeito disso, junto com o texto na íntegra pode ser acessada clicando aqui). A preocupação que envolve esse tema também foi debatida em nosso podcast, que pode ser ouvido clicando nesse link.
E aqui novamente retornamos ao tema: falta de transparência. Não existem canais diretos com a Atlas. Hoje é absolutamente impossível saber se a empresa está dizendo a verdade em qualquer comunicado ou apenas está tentando ganhar tempo.
Foi chamada de mentirosa pela comunidade ao não cumprir nenhum dos prazos estipulados para pagamento dos saques em atraso, foi chamada de mentirosa pelas gigantes do mundo cripto HitBTC e Gate.io quando forjou um vídeo falso no intuito de justificar os atrasos nos saques.
Em nenhum dos casos houve transparência, e até aqui não se sabe o que ocorreu de fato com os Bitcoin dos clientes que estavam sob custódia da Atlas Quantum. O áudio vazado do CEO da Atlas dizendo que irá utilizar os novos investimentos para pagar os clientes apenas fortaleceu a ideia da Atlas, potencialmente, ser uma pirâmide financeira.
Ainda é complicado cravar tal fato, justamente pela falta de material para tal. A Atlas tenta se defender ao mesmo tempo em que afasta os próprios clientes e se descredibiliza como organização.
*Imagem de: ChadoNihi por Pixabay
- Ouça também: Webitcast #06 – Pirâmides financeiras